Campo Grande (MS) – De 18 a 24 de setembro acontece a 17ª Primavera do Museus – Memórias e Democracia: pessoas LGBT+, indígenas e quilombolas em museus de Campo Grande, Corumbá e Costa Rica. O evento em Mato Grosso do Sul é uma ação do Sistema Estadual de Museus, com diversas ações simultâneas acontecendo pelos museus instalados em Mato Grosso do Sul, tanto de forma presencial, como pelo meio virtual.
A iniciativa tem a parceria da Rede de Educadores de Museus de MS, Arquivo Público Estadual de MS, Museu Casa do Dr. Gabi – Espaço de Memória (Corumbá),Casa da Ciência e Cultura de Campo Grande, Laboratório e Estudos Interdisciplinares da Antiguidade – ATRIVM, Memorial do Homem Pantaneiro (Corumbá), Museu da Imagem e do Som – MIS, Museu de Arqueologia – MuArq/UFMS, Museu de Arte Contemporânea – MARCO, Museu das Culturas Dom Bosco – MCDB/UCDB, Museu de História da Medicina de Mato Grosso do Sul Dr. Fauzi Adri, Museu Interativo Nelso Silva Soares (Costa Rica), Museu José Antônio Pereira (Campo Grande) e Pantaneura da Zona (Corumbá).
A Primavera dos Museus é um evento idealizado pelo Instituto Brasileiro de Museus (IBRAM), cuja organização e coordenação em nível estadual fica à cargo do Sistema Estadual de Museus de MS. O Sistema é ligado à Fundação de Cultura de MS e agrega os diversos museus instalados no estado de Mato Grosso do Sul, atuando em parceria com estas instituições, buscando parcerias e prestando assessoria técnica nesta área. As instituições presentes no estado são ligadas ao setor público (federal, estadual e municipal), além de universidades e associações privadas.
“O evento é um importante momento para discutir sobre temas importantes para a sociedade e sua ligação com os museus. Esse ano ao colocar em pauta os negros, indígenas e LGBTqi+, traz a cena grupos que foram invisibilizados dentro dos espaços museais”, afirmou Melly Senna, Gerente de Patrimônio Cultural da FCMS.
“A Primavera dos Museus é sem dúvidas um evento de grande importância para o setor cultural, tanto em nível naional quanto em nível estadual. Sempre com temáticas atuais e de relevância, nesta 17ª edição o IBRAM nos convida a tratar o tema “Memórias e Democracia: pessoas LGBT+, indígenas e quilombolas”. A temática busca tanto valorizar a memória dessa parcela da população quanto também demonstrar como suas lutas em busca de direitos civis, preservação de línguas, culturas, costumes, liberdade e dignidade se apresentam com relevância para a construção democrática de um país justo e igualitário”, explicou o coordenador do Sistema Estadual de Museus de MS, Douglas Alves da Silva
17ª PRIMAVERA DO MUSEUS
“O tema Memórias e Democracia: pessoas LGBT+, indígenas e quilombolas é a inspiração para a realização das atividades da 17ª Primavera dos Museus, oferecendo oportunidades para refletirmos sobre a construção da democracia de seus agentes. A história da formação do Brasil, na tarefa de implementar um regime efetivamente democrático e que, ao mesmo tempo, fosse capaz de garantir e de criar direitos, é marcada por crises e interrupções, como a que vivemos, no dia 8 de janeiro de 2023, com a ameaça de golpe de Estado e os ataques terroristas ao patrimônio histórico, cultural e à dimensão política de nosso país.
É por reconhecer que a democracia se faz a muitas mãos, que associamos o debate sobre a retomada da construção da democracia com a participação de muitos dos seus agentes ainda hoje invisibilizados ou marginalizados. No contexto de um novo governo que promove a reconstrução e união do Brasil, queremos estimular que os museus, detentores e promotores da memória, da cultura, e das artes, contribuam para o reconhecimento, a valorização e o protagonismo das pessoas LGBT+, indígenas e quilombolas na produção das suas próprias memórias.
Onde estão essas pessoas nos museus? Que acervos representativos de suas culturas eles preservam? Como eles são apresentados para a sociedade e como os museus contribuem para seu reconhecimento e valorização? Quem os museus ouvem quando tratam de pessoas LGBT+, indígenas e quilombolas?
As memórias da comunidade LGBT+ são fundamentais para compreender a luta por direitos civis, igualdade e respeito. Ao longo da história, indivíduos LGBT+ têm enfrentado discriminação, marginalização e perseguição em muitas sociedades. Essas memórias coletivas abrangem movimentos de protesto, manifestações, eventos significativos, como as revoltas de Stonewall em 1969, e os esforços contínuos para alcançar, por exemplo, a igualdade no casamento, adoção e não discriminação.
A democracia desempenha um papel importante ao garantir que os direitos das pessoas LGBT+ sejam protegidos e respeitados. Por meio da participação política e do envolvimento com instituições democráticas, a comunidade LGBT+ pode lutar por mudanças sociais e legislativas que reconheçam plenamente seus direitos e liberdades.
As memórias dos povos indígenas são essenciais para preservar suas culturas, línguas e conhecimentos ancestrais. Muitas comunidades indígenas enfrentaram séculos de colonialismo, exploração e opressão que causaram a perda de terras, a destruição de tradições e a negação de seus direitos fundamentais.
A democracia efetiva para os povos indígenas implica o respeito aos seus direitos de autodeterminação, consulta e consentimento livre, prévio e informado sobre questões que afetam suas terras e comunidades, em uma abordagem inclusiva que valorize suas memórias e perspectivas.
As memórias das comunidades quilombolas são um testemunho da resistência e resiliência ao longo do tempo. Os quilombos surgiram como comunidades autônomas de pessoas afrodescendentes que escaparam da escravidão e lutaram por liberdade e dignidade.
Para as comunidades quilombolas, a democracia significa reconhecimento oficial de suas terras e direitos, preservando suas tradições culturais e garantindo o acesso a serviços básicos, como educação e saúde. É essencial que suas vozes sejam ouvidas nas decisões que afetam suas vidas e territórios.
É importante enfatizar que a expropriação e a violência foram e são estendidas a todos aqueles e aquelas que não são considerados abençoados e merecedores, àqueles, para quem, às custas de manter privilégios, são expropriados de seus direitos, ou seja, todo aquele e aquela, diversos dos padrões de uma cultura patriarcal.
Mas a memória destes feitos está marcada nos corpos e objetos. Está presente, às vezes mal disfarçado, às vezes muito explícitos, nas nossas narrativas, nas nossas práticas institucionais e nas relações de trabalho, pois a ideologia que cria uma sociedade una, quando na verdade está dividida, coloniza a nós todos e atravessa todas as nossas relações e instituições. E, assim, o tempo presente tem convocado os museus a reverem suas histórias e narrativas, a lançar outro olhar sobre suas coleções e iniciar um processo sincero de escuta, revisão e reparação.
Portanto, a memória é um elemento vital para a construção da democracia e para a promoção da igualdade e da justiça social. Por um lado, preservar as memórias das pessoas LGBT+, indígenas e quilombolas é fundamental para que suas lutas, realizações e identidades sejam valorizadas e respeitadas na sociedade contemporânea e os museus têm essa responsabilidade.
A democracia verdadeira deve garantir a inclusão dessas vozes historicamente marginalizadas, permitindo que sejam protagonistas de seu próprio destino e da construção de um futuro mais justo e igualitário. Está na hora dos acervos LGBT+ saírem dos armários, do conhecimento ancestral de indígenas e quilombolas serem reconhecidos, de suas lutas serem valorizadas.