Há pouco mais de um mês, uma das maiores vozes do planeta nos deixou: a rainha do soul music, Aretha Franklin. Ela lutava contra um câncer de pâncreas neuroendócrino desde 2010, um tumor raro e de difícil diagnóstico, e que causa muitos sintomas que debilitam o paciente, trazendo muito sofrimento. Como a doença não tem cura, o melhor a fazer é o controle rigoroso dos sintomas, suporte adequado com medidas de conforto, que propiciem dias em sua vida com melhor qualidade. Esse é o papel dos Cuidados Paliativos, serviço que assistiu a cantora norte-americana em seu domicílio.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) define Cuidados Paliativos como “abordagem multiprofissional que promove a qualidade de vida de paciente e seus familiares, que enfrentam doenças que ameaçam a continuidade da vida, através da prevenção e alívio do sofrimento. Requer a identificação precoce, avaliação e tratamento da dor e outros problemas de natureza física, psicossocial e espiritual”.
Todos os serviços que cuidam de pacientes com doença progressiva e ameaçadora de vida, fora de possibilidade terapêutica de cura, têm responsabilidade de proporcionar adequados cuidados integrais, e devem assentar numa boa comunicação e na resposta efetiva às necessidades dos doentes e família, além de assegurar que estes cuidados possam ser realizados em domicílio, com o suporte de um Home Care, que possua equipe multiprofissional com formação e área de atuação em Cuidados Paliativos.
Estudos científicos respaldam a importância desses cuidados integrais em domicílio. “Os Cuidados Paliativos domiciliares reduzem, de forma significativa – cerca de 50% -, a probabilidade e número de re-hospitalizações em 30 dias” (Ranganathan A, Dougherty M, Waite Casanetti, 2013). Outro estudo canadense revelou que esse tipo de atendimento diminui as recorrências aos serviços de urgência nas últimas 2 semanas de vida, assim como, o número de mortes em ambiente hospitalar (Seow H, Brazil K Sussman J, Pereira J, Marshall D Austin P C, et al, 2014).
Além dessas vantagens, um estudo europeu, realizado em 2011, sobre as preferências do local para morrer, mostram que em um cenário hipotético de câncer avançado, quase 70% dos entrevistados optaram por morrer em casa a um leito de hospital. Dessa forma, o Home Care pode proporcionar condições diferenciadas e específicas da assistência em domicílio, seja empoderando o paciente e família, proporcionando mais autonomia e privacidade ao paciente, envolvendo a família na tomada de decisões sobre o tratamento e aumentando o vínculo familiar, entre outros.
No aspecto de segurança, o cuidado em Home Care representa a diminuição do risco de infecções, equipe multiprofissional qualificada para o atendimento personalizado adequado e manejo eficiente das terapêuticas de controle de sintomas.
Além disto, os cuidados paliativos em ambiente domiciliar proporcionam ao paciente uma sobrevida sem sofrimento e com melhor qualidade de vida na própria residência, desfrutando do convívio familiar o maior tempo possível e evitando os procedimentos invasivos comuns no ambiente hospitalar, que não modificarão a evolução da doença. Oferecer um sistema de suporte que auxilie o paciente a viver tão ativamente quanto possível até sua morte é a primícia desse serviço, que oferece ainda suporte e orientação permanente aos familiares e cuidadores no cuidado com o seu ente querido, a fim de que se sintam amparados durante todo o processo da doença, seja através de visitas domiciliares pela equipe multidisciplinar, da assistência por telefone 24h, ou do acompanhamento nas internações e no período de luto.
*Ana Rosa Humia é coordenadora médica do Home Care e do Programa de Cuidados Paliativos da S.O.S. Vida, empresa membro da Associação Nacional de Cuidados Paliativos.