Em pleno século XXI, ainda temos um longo caminho a percorrer quando o assunto é o papel da mulher na sociedade. Por um lado, temos uma gama de conquistas realizadas pelos esforços dos movimentos feministas de décadas atrás, por outro vivemos ainda em uma sociedade machista onde ainda existem alguns papéis delimitados exclusivamente para mulheres, enquanto os homens continuam em sua jornada intimista de ser qualquer coisa que deseje ser, sem as cobranças sobre o que deveria ou não estar fazendo.
Ainda que tenha iniciado o texto dessa forma, minha intenção aqui não é criticar o homem, mas valorizar e acolher a mulher, qualquer que seja o papel que ela desempenhe em sua jornada atual de vida.
Sou mãe, esposa, empreendedora, psicóloga, escritora, esposa, filha, irmã, amiga, mas quem não é a maioria dessas coisas? Ser psicóloga e ser mãe foram escolhas minhas, ponderadas com muito cuidado e pautados em sonhos de vida. Com a psicologia veio o empreendedorismo, afinal não dava para viver apenas de consultório e eu queria mais. Nunca fui dessas pessoas que fazem apenas uma coisa, sempre gostei de explorar minhas possibilidades, o que me levou a empreender a escrever.
O que não havia pensado antes era o nível de dificuldade que incluía me dividir em todas essas versões de mim, pois comecei a acreditar que estava sempre falhando em alguma coisa e a não ficar tão feliz assim comigo mesmo ou com algumas das escolhas que fiz. Cheguei até mesmo a questionar se ser mãe agora foi a melhor escolha, meu filho hoje com três anos de idade é meu maior incentivador, mas também minha maior fonte de desespero e sensação de fracasso a cada “não posso ir”, a cada “mamãe precisa trabalhar”, a cada “mamãe está cansada”. Não é fácil, porque passo bastante tempo dentro de casa, algo que o empreendedorismo me permite. Imagine, então, para as mães que trabalham em regime CLT ou são concursadas e passam a maior parte do seu tempo longe de seus filhos?
Agora imagine todo esse cenário que descrevi e acrescente a ele, além da autocobrança de cada uma de nós em relação a nós mesmas, a cobrança da sociedade que lhe questiona como pode você estar trabalhando no dia da apresentação de esporte do seu filho, ou que não possa ir numa reunião escolar porque estava em uma importante reunião no seu trabalho. Isso sem mencionar o fato de que precisamos estar bem arrumadas, com o cabelo feito, as unhas pintadas, maquiagem escondendo os sinais do cansaço proveniente dos desdobramentos.
Sim, ser mulher tem um “Q” a mais que envolve ainda todo um lado hormonal que nos faz surtar em algumas fases da vida, mas isso ninguém quer enxergar ou compreender. Somente uma mulher para entender outra mulher e ainda assim muitas vezes isso também não acontece, pois o julgamento se sobrepõe à empatia, não permitindo que que tenhamos uma postura acolhedora, mas, sim, majoritariamente crítica.
Sendo assim, proponho a você um exercício diário: sempre que visualizar uma situação com uma outra mulher, seja esta conhecida ou não, procure se colocar no lugar dela. Tente pensar em como ela se sente ao invés de julgar e piorar com comentários inúteis a culpa que provavelmente ela já está depositando sobre si mesma. Portanto, tenhamos mais empatia e que possamos compartilhar mais amor.
*Ellen Moraes Senra é Psicóloga e Especialista em Terapia Cognitivo Comportamental