A esperança é uma virtude e todas as pessoas, cristãs e não cristãs, são chamadas a ser virtuosas. É o compromisso com a ética. Até os antigos filósofos pagãos, como Platão e Aristóteles (no IV século a. C.) refletiram sobre essas virtudes humanas, tais como a sabedoria, a fortaleza, a justiça e a temperança.
Mas nós cristãos recebemos de Deus, como dom da sua Graça, as virtudes teologais: a fé, a esperança e a caridade. Nós as recebemos como “presente especial de Deus”, por isso são chamadas de “teologais”, do grego “theós”, que significa “Deus”.
Assim como a vinda de Jesus foi “esperada” no Antigo Testamento, nós, que estamos no “Novo Testamento”, esperamos a vinda gloriosa de Jesus no fim da história humana. Sim, esperamos, porque temos a virtude teologal da esperança. Como no texto que São Paulo escreve a Tito, no qual diz que Deus nos salvou “por sua misericórdia… por meio de nosso Salvador Jesus Cristo, para que, justificados por sua graça, nos tornássemos, na esperança, herdeiros da vida eterna” (Tt 3,5-7).
Vale lembrar que o papa Bento XVI, no ano de 2007, publicou uma encíclica sobre a Esperança, com o seguinte título: SPE SALVI facti sumus » – é na esperança que fomos salvos. Estas palavras do título são a citação de um texto do São Paulo (Rm 8,24).
Nessa mesma encíclica, no nº 3, o papa Bento XVI apresenta o exemplo de uma santa da nossa época: Santa Josefina Bakhita, uma africana canonizada pelo Papa João Paulo II. Nascera por volta de 1869 no Sudão. Aos nove anos de idade foi raptada pelos traficantes de escravos, espancada barbaramente e vendida cinco vezes nos mercados do Sudão. Finalmente, em 1882, foi comprada por um comerciante italiano para o cônsul Callisto Legnani, que voltou para a Itália. Aqui, depois de “patrões” tão terríveis que a tiveram como sua propriedade até agora, Bakhita acabou por conhecer um “patrão” totalmente diferente: o Deus vivo, o Deus de Jesus Cristo. Soube que este Senhor também a conhecia, tinha-a criado; mais ainda, amava-a. Ela era conhecida, amada e esperada; mais ainda, este Patrão tinha enfrentado pessoalmente o destino de ser flagelado e agora estava à espera dela “à direita de Deus Pai”. Agora ela tinha “esperança”; já não aquela pequena esperança de achar patrões menos cruéis, mas a grande esperança: eu sou definitivamente amada e aconteça o que acontecer, eu sou esperada por este Amor. Assim a minha vida é boa. Mediante o conhecimento desta esperança, ela estava “redimida”, já não se sentia escrava, mas uma livre filha de Deus. Esta ex-escrava foi batizada e quis tornar-se religiosa, na Congregação das irmãs Canossianas. A esperança, que nascera para ela e a “redimira”, não podia guardá-la para si; esta esperança devia chegar a muitos, chegar a todos.
São Paulo, pouco antes de morrer, escreve a Timóteo: “Combati o bom combate… guardei a fé. Agora só me resta a coroa da justiça que o Senhor, justo juiz, me dará naquele dia; e não somente a mim, mas também a todos os que aguardam com amor sua manifestação” (2 T 4,7-8).
Esta é a nossa esperança!
* Lino Rampazzo é Doutor em Teologia e Coordenador do Curso de Teologia da Faculdade Canção Nova