A realização de dois Sínodos tendo como tema a Família, à distância de um ano, indica que o Papa Francisco e toda a Igreja consideram a família um tema decisivo para o crescimento das pessoas, o fortalecimento da Igreja e a construção de uma convivência social mais humana, solidária e fraterna, para que tenhamos uma sociedade de paz.
No nosso tempo, a família enfrenta muitos desafios, alguns dos quais são tão relevantes que podem alterar suas características essenciais, até comprometer a sua existência.
Atualmente não mais se discute a possibilidade de usar a pílula ou de divorciar-se. Discute-se: o que significa ser homem, ser mulher e por que não decidir o próprio gênero de modo autônomo e livre de condicionamentos biológicos e sociais? Não será melhor desfazer todos os vínculos que nos impedem de sermos livres para novas formas de realização que poderão aparecer no horizonte? É mesmo verdade que a maternidade e a paternidade são essenciais à realização humana? Ou não será isto uma imposição da cultura originada no passado e da qual hoje podemos nos libertar?
Diante dessas circunstâncias que parecem reduzir o interesse pela família, rejeitando vínculos de pertença que constituem a identidade pessoal, cabe à Igreja apresentar o Evangelho da Família, isto é, o bem que a família é para as pessoas que nela vivem e pra toda a sociedade.
A família, fundada no vínculo indissolúvel do matrimônio, constituída por um homem e uma mulher e por eventuais filhos, é o modo melhor de viver o amor humano, a maternidade, a paternidade, porque corresponde ao desígnio de Deus. É o caminho da maior realização humana e, ao mesmo tempo, constitui o bem mais decisivo para que a sociedade cresça na paz. Por isso, São João Paulo II, na Familiaris Consortio afirmava: “O futuro da humanidade passa através da família”. Em seguida cabe cuidar das feridas que são provocadas quando o amor humano é vivido de maneira precária e parcial.
É decisivo, então, um novo começo, que parta do desígnio de Deus sobre a pessoa, o matrimônio e a família e que apresente às novas gerações as razões, a conveniência do matrimônio e da família, a beleza de gerar e educar novas vidas, o fascínio pelo amor humano que, iluminado por Cristo, se renova e se aprofunda com o passar do tempo. Um novo começo é necessário porque significados, às vezes considerados claros e dados por óbvios, na realidade são desconhecidos pela cultura contemporânea ou gravemente deformados.
Nascer, amar, gerar, trabalhar, adoecer, envelhecer, morrer são ações ou processos que podem ser vividos em quaisquer circunstâncias, mas encontram seu significado mais adequado quando realizados no contexto das relações familiares. Aqui encontra-se o bem maior para as pessoas e para toda a sociedade!
* Dom João Carlos Petrini, bispo de Camaçari (BA), participará do Sínodo da Família em Roma. É presidente do Regional NE3 da CNBB e escreve para a Revista Canção Nova.