Referência de empoderamento feminino, estilo e mundo fashion, a produtora de moda chilena Nara Manriquez, conhecida pelo pseudônimo Valkiria, é uma pessoa pública altamente engajada em causas sociais, e encontra motivação para seus trabalhos artísticos e filantrópicos também em própria história de vida, a partir da sua infância difícil e reprimida no Chile.
A produtora de moda afirma que o desejo de liberdade foi o grande motivador de tudo que realizou até aqui. Nara Manriquez nasceu no Chile, filha de um pai Hare Khrisna e mãe dona de casa. Por conta da tradição religiosa, foi muito reprimida na infância e na adolescência, e viveu uma vida de resignação e silêncio. Para além do lado religioso, sofria muitas agressões físicas e consequências psicológicas: “meu pai era uma pessoa difícil, que me obrigava a ficar em silêncio, a guardar minhas idéias para mim mesma, e me proibia de vestir com roupas femininas. Meu pai tinha questões pessoais não resolvidas e descontava tudo em nós. Ele não aceitava o fato de eu não ser homem, e me tratava como se eu fosse um menino. Meu maior sonho era poder me vestir como menina, usar coisas de menina, e daí nasceu minha fascinação por moda”, comenta.
A stylist passou fome na adolescência no Chile, e sua família levava uma vida nômade. Aos e dez anos de idade presenciou a separação violenta de seus pais, e daí aconteceram mudanças em sua vida. Após a separação, pode enfim passar a se vestir como menina e ter uma vida mais próxima do normal, embora ainda sofresse as sequelas emocionais e psicológicas de uma infância traumática: “Tomava calmantes por conta própria, dado pela minha mãe, que achava que eu estava em depressão. Isso com apenas 10 anos de idade. E assim foi por algum tempo”.
Devido a tradição Khrisna, sua família era vegetariana. Nara comeu carne pela primeira vez aos 17 anos: “eu era magra, com a pele ruim, uma pessoa que não ingeria proteínas e sentia muitas dores. Cheguei a desmaiar ao comer carne vermelha pela primeira vez. Levei cinco anos para me adaptar. Passava muito mal, não conseguia comer nem ovo”.
Nara resolveu deixar o Chile e adotou o Brasil como destino para viver o sonho de ser uma produtora de moda, e além disso, passou a engajar-se em causas sociais, a favor da liberdade: “repudio quando a sociedade tenta me oprimir, quando tentam me calar, por qualquer motivo que seja. Independente das diferenças de opinião e posicionamento, todos devem ter o direito a se expressar. Descobri na a moda um poderoso meio para se impor, marcar posição e até mesmo protestar contra o preconceito e a injustiça social”.
Hoje, a stylist atua como produtora, desenhista de moda, consultora de imagem e estilo e levanta em suas criações a bandeira do empoderamento, de exaltação das qualidades individuais e valorização do indivíduo, e adotou o pseudônimo Valkiria: “Inspirei-me num livro de Paulo Coelho, pois a história me chamou a atenção e adotei este pseudônimo, as valquírias na mitologia antiga estavam ligadas às guerras, ao campo de batalha, aos guerreiros, mas também a beleza e um toque de sensualidade, que tem a ver com o conceito de ser livre para ser feminina, para ser mulher, mas ainda assim ser forte”.
Nara é mãe do Allan Paulo que tem 13 anos, e luta por um futuro melhor para seu filho: “no que depender de mim, meu filho não será oprimido e nem saberá o que é a fome e a falta de amor. Almejo dar a ele tudo que eu não tive, principalmente amor, e que ele seja livre para pensar e viver como bem entender”.