Apresento a todos vocês trecho de entrevista que concedi, em 19 de setembro de 2008, à jornalista Ana Serra, de Lisboa, por ocasião do lançamento, naquele ano, de minha obra Reflexões da Alma, em terras lusitanas, pela Editora Pergaminho. À certa altura, ela me perguntou:
Ana Serra – Caro dr. Paiva Netto, em sua obra o senhor fala também em atitudes e consequências. Como é que o que se faz no passado pode refletir-se no presente e no futuro?
Respondi: Prezada Ana, isso é matemático. Basta analisarmos a atual crise financeira, logo em seguida fatalmente econômica, e, por consequência, social e política, que os países vêm e virão a enfrentar. Ela não se formou agora e nem é a primeira. Está sendo alimentada desde o momento em que se priorizou a ganância de alguns em detrimento do bem-estar de muitos. A economia em voga é muitas vezes desalmada porque, para criar riqueza setorial, garante, mantém e espalha a pobreza. Para ela, hoje mais do que nunca, quase que não há limites éticos. E presentemente temos de manter aceso o nosso cuidado, pois algo pode acontecer, até mesmo um movimento de desglobalização como, por exemplo, o superprotecionismo, digamos, forçado pela crise que se configura.
O deserto dos romanos
Entronizou-se o capital monetário e esqueceu-se do que chamo de o “Capital de Deus”, que é justamente o ser humano e o seu Espírito Eterno. Este é, embora alguns não saibam, o centro da Economia, a mais espiritual, no sentido mais amplo, das ciências ou arte, conforme defendi numa entrevista à Folha de S.Paulo, em 1982.
Em Reflexões da Alma, escrevo ainda sobre o “progresso de destruição”, promovido por quem está impulsionado pela cobiça de ganhar a qualquer preço e nem alcança que põe em risco a si próprio, ou a si mesma, à família, à pátria e ao mundo como o conhecemos. Ecoa pelo orbe a advertência de Tácito (55-120 d.C.), aplicada originalmente aos romanos, pela assolação de Cartago: “Vocês criaram um deserto e chamam-no de paz”.
Exato, pois os filhos de Roma devastaram Cartago até as bases. E é o que andam a fazer, tais loucos, com a Mãe Terra atualmente.
(…)
Sinais do esgotamento planetário
Não somos suseranos nem censores da humanidade, mas humildes servos do Divino Educador. Porém, o planeta vem dando muitos sinais de que não mais tolera ofensas à sua frágil camada protetora de ozônio. Basta anotar a incidência crescente do câncer de pele. Vejam igualmente os múltiplos reflexos das súbitas mudanças climáticas que já abordamos. Mesmo que seja a repetição de um ciclo natural da Terra, é inegável que temos colaborado muito para o apressamento desse drama que a todos vem atingindo. É a implacável regra física de ação e reação, a terceira lei de Newton.
Em minha página “Gandhi: o capital em si não é mau”, apresento esta irreprochável advertência de Benjamin Franklin (1706-1790): “Só sabemos o valor da água quando o poço seca”.
Touché! Vero, mas lamentável.
*José de Paiva Netto, jornalista, radialista e escritor.