São Paulo chama a Deus de Pai das Misericórdias (2 Cor 1,1-7), sublinhando assim a sua infinita compaixão pelos homens, que ama muito intimamente. Talvez poucas verdades se repitam nos textos sagrados tão insistentemente como esta: Deus é infinitamente misericordioso e compadece-se dos homens, sobretudo daqueles que sofrem a miséria mais profunda que é o pecado.
Para que o aprendamos bem, a Sagrada Escritura ensina-nos com uma grande variedade de termos e de imagens que a misericórdia de Deus é eterna, isto é, sem limites no tempo (Sl 100); imensa, sem limites de lugar ou de espaço, e universal, pois não se limita a um povo ou a uma raça, e é tão extensa e ampla quanto as necessidades do homem.
A encarnação do Verbo, do Filho de Deus, é prova dessa misericórdia divina. Ele veio perdoar, reconciliar os homens entre si e com o seu Criador. Manso e humilde de coração, oferece alimento e descanso a todos os atribulados (Mt 11,28).
O Apóstolo São Tiago chama ao Senhor piedoso e compassivo (Tg 5,11). Segundo a Epístola aos Hebreus, Cristo é o Pontífice misericordioso (Hb 2,17); e esta atitude divina para com o homem é a razão de ser da ação salvadora de Deus (Tt 2,11, 1 Pd 1,3), que não se cansa de perdoar e de impelir os homens para a Pátria definitiva, ajudando-os a superar as fraquezas, a dor e as deficiências desta vida.
“Revelada em Cristo, a verdade a respeito de Deus, Pai das misericórdias, permite-nos vê-lo particularmente próximo do homem, sobretudo quando este sofre, quando é ameaçado no próprio núcleo da sua existência e da sua dignidade” (João Paulo II, Enc. Dives in misericórdia). Por isso, a súplica constante dos leprosos, cegos e coxos a Jesus é: Senhor, tem misericórdia de mim, como vemos nos Evangelhos de Mateus, Marcos e Lucas.
A bondade de Jesus para com todos nós, excede as medidas humanas. “Àquele homem que caiu nas mãos dos ladrões, que foi por eles desnudado, espancado, abandonado meio morto, Ele o reconfortou, curando-lhe as feridas, derramando nelas o seu azeite e vinho, fazendo-o montar a sua própria cavalgadura e instalando-o na pousada para que cuidassem dele, dando para isso uma quantia de dinheiro e prometendo ao hospedeiro que na volta pagaria o que gastasse a mais” (São Máximo de Turim, Carta 11).
O Senhor teve esses cuidados com cada homem em particular. Muitas vezes, recolheu-nos feridos à beira da estrada da vida, derramou bálsamo sobre as nossas feridas, vendou-as, não uma, mas inúmeras vezes. Na sua misericórdia está a nossa salvação. Tal como doentes, cegos e aleijados do Evangelho, cada um de nós deve colocar-se diante do Senhor e dizer humilde e confiantemente: Jesus, tem misericórdia de mim!
Portanto, a misericórdia é, como diz a sua etimologia, uma disposição do coração que nos leva a compadecer-nos das misérias que encontramos a cada passo e que nunca desaparecerão, por mais justas e bem resolvidas que possam parecer as relações entre os homens.
* Padre Toninho (pe. Antonio Justino Filho) é membro da Comunidade Canção Nova