As primeiras viagens da presidência da República aos Estados Unidos, Chile e Israel mostraram que este governo está buscando cumprir suas promessas de se aproximar de países que possam contribuir para a retomada do crescimento e o desenvolvimento econômico do Brasil.
Da mesma forma que se torna imprescindível que o país promova reformas necessárias, como as da previdência e tributária, é inquestionável a importância das assinaturas de acordos nas áreas de ciência e tecnologia, o que foi feito sobretudo nas viagens aos Estados Unidos e Israel. Estes acordos são portas abertas para os conhecimentos e trocas de experiências com nações que tradicionalmente valorizaram os investimentos em pesquisas científicas e tecnológicas que os destacam globalmente. Portanto, há de se reconhecer que estas aproximações muito provavelmente contribuirão para capacitar profissionais e empresas no Brasil, preparando-os e dando acesso a novas ferramentas e técnicas exigidas no mundo dos negócios da atualidade.
Em Israel, acordos foram assinados em diversas áreas, entre eles os de cooperação e o intercâmbio de práticas nos setores de mineração, petróleo e gás, termoeletricidade e energias renováveis, medicina, saúde, além da parceria firmada para o desenvolvimento de startups. E, visando facilitar o acesso entre os dois países, um acordo de serviços aéreos também foi assinado. É sabido que se leva algum tempo entre as assinaturas de protocolos de intenções e de acordos entre países até que estes passem a vigorar, uma vez que dependem de aprovações dos poderes executivos e legislativos dos países, mas o fato de serem celebrados já é um bom começo. Se há alguma observação a ser feita em relação aos acordos assinados entre o Brasil e Israel, talvez seja em relação aos acordos de natureza comercial. Há um acordo de preferências tarifárias em vigor entre os países do Mercosul e Israel. Seria interessante que este acordo fosse repensado e ampliado, permitindo assim o incremento do comércio entre os países, mas aparentemente nada neste sentido foi firmado.
No Chile, a viagem de aproximação também teve pontos positivos em relação às decisões dos governos para ampliar e facilitar os negócios entre os dois países. Uma das decisões foi o compromisso assumido para a construção do corredor que unirá o centro-oeste do Brasil com os portos do norte do Chile, o que finalmente nos facilitará o acesso ao Oceano Pacífico, diminuindo assim as distâncias entre o Brasil e os países da Ásia e Oceania. Outros compromissos assumidos no Chile foram os de acelerar os processos para se estabelecer uma área de livre comércio entre o Mercosul e a Aliança do Pacífico e de finalizar os termos do acordo bilateral de livre comércio assinado em novembro de 2018 entre o Brasil e o Chile.
Mesmo sob críticas e visões pessimistas sobre estas viagens, está claro que estas iniciativas podem contribuir para o crescimento dos negócios internacionais do Brasil, em especial o comércio exterior brasileiro, que mais uma vez apresentou resultados medíocres em 2018, segundo a OMC.
Embora estas viagens não tratassem apenas das assinaturas de acordos bilaterais, da consolidação das amizades entre os países, da ideia de aumentar ou de pelo menos manter as relações comerciais e outros assuntos mais, alguns momentos não tão agradáveis foram enfrentados pela comitiva brasileira.
É certo que as posições do atual governo brasileiro referentes à sua política externa já haviam sido apresentadas e, portanto, ninguém seria surpreendido. Mas, diante das reações e até mesmo dos alertas sobre as consequências negativas que estas posições poderiam trazer para o país, esperava-se que pelo menos neste primeiro momento determinados assuntos fossem evitados. Só que não. A situação mais difícil ocorreu na viagem a Israel. Conforme já dito, os acordos assinados entre os dois países foram importantíssimos, as possibilidades de negócios com aquele país foram ampliadas, mas a decisão de instalar um escritório comercial em Jerusalém não fez com que se evitasse a insatisfação dos nossos parceiros comerciais árabes. Comentários e manifestações contra a decisão brasileira foram destaques na mídia nacional e internacional. Mas, de imediato, nenhuma retaliação que prejudique nossos negócios com os árabes foi anunciada. Por outro lado, o governo de Israel também não ficou feliz e a frustação pelo não cumprimento da promessa de transferir a Embaixada do Brasil de Tel Aviv para Jerusalém ficou evidente.
No mundo dos negócios, é muito comum montar em outros países escritórios comerciais que podem até se transformar em câmaras de comércio. Basta fazer um levantamento e verificar quantas câmaras de comércio de diversos países temos em várias cidades brasileiras, sobretudo em São Paulo. O mesmo ocorre com o Brasil no exterior. Temos diversas instituições brasileiras que promovem nossos produtos e serviços em outros países. Mas a instalação de um escritório comercial do Brasil em Jerusalém tem outros significados que vão muito além dos negócios comerciais entre dois mercados. Envolve história, religião e conflitos ainda não resolvidos entre povos. A reação dos países árabes e do governo de Israel não poderia ser diferente. E, nestes casos, todo cuidado é pouco nas relações político-diplomáticas com estes países. De volta ao Brasil, algumas ações foram observadas no sentido de amenizar o clima desfavorável. Agora é esperar para ver os resultados.
Na visita do Presidente Bolsonaro ao Chile aconteceu uma quebra de hábito, que alguns chamam de tradição. O que ocorreu foi que os últimos presidentes petistas eleitos no Brasil escolheram a Argentina para ser o primeiro país visitado na América Latina após as suas tomadas de posse. Só que desta vez não foi assim. O presidente Bolsonaro optou pelo Chile. Mas, se houve algum tipo de manifestação ou crítica em relação à sua ida ao Chile, certamente não foi por este motivo. Aliás, somente a mídia escrita e digital brasileira fez esta observação e ficou nisso. Aconteceram de fato algumas críticas e declarações da oposição do governo chileno que geraram algumas polêmicas, mas não evitaram que acordos fossem assinados e que o Brasil e o Chile, juntamente com outros seis países da América do Sul, assinassem a Declaração de Santiago, que lançou o Foro para o Progresso da América do Sul (Prosul), com pretensões de ser “um espaço de diálogo e colaboração sul-americano”.
Nos Estados Unidos, talvez o momento mais delicado tenha sido a entrevista concedida aos jornalistas da Fox News que, em vez de o questionarem sobre a sua ida àquele país e as reais possibilidades de fortalecer as relações comerciais e diplomáticas, preferiram explorar outros assuntos, como os referentes às suas postagens nas redes sociais e certas declarações feitas por ele no passado.
No Brasil, as críticas ficaram por conta da isenção dos vistos de entrada no território nacional para os americanos, canadenses e australianos. Os críticos e analistas pediam reciprocidade, em especial dos Estados Unidos, mas nada neste sentido foi conquistado. Nem para os empresários, que esperavam o chamado Global Entry, que evita a fila na imigração, e muito menos para os turistas brasileiros. Mas, nas relações e nos negócios internacionais, as reciprocidades nem sempre vêm e se vierem podem demorar um tempo. Questão de confiança, de crédito.
Outras viagens internacionais de aproximação estão previstas durante este mandato. Para junho deste ano, já estão anunciadas uma viagem à Argentina e outra ao Japão. A viagem para a Argentina, agendada para o dia 6, atende a um convite feito pelo Presidente Maurício Macri, e o Itamaraty diz que o motivo deste encontro é para que os presidentes definam os rumos do relacionamento entre os dois países.
A viagem anunciada para o Japão é para participar da Cúpula do G20, em Osaka, que ocorrerá nos dias 28 e 29 de junho. Esta poderá ser uma boa oportunidade para dialogar e estabelecer inícios de negócios, não só com o Japão mas com outros países, uma vez que nesta reunião estarão reunidas as 20 maiores economias do mundo. E, para o segundo semestre, já está sendo organizada uma viagem para a China, com as mesmas intenções de aumentar as relações comerciais e diplomáticas.
*Zilda Mendes é professora da Universidade Presbiteriana Mackenzie e atua nas áreas de comércio exterior e câmbio.