A Campo Grande Expo traz inúmeros temas atuais do agro para os produtores e um deles é a produção da chamada Carne Carbono Neutro (CCN). Duas palestras aconteceram na manhã desta terça-feira (28), primeiro dia do evento, que acontece na capital sul-mato-grossense de 28 de maio a 1º de junho. O conceito é genuinamente brasileiro e já é bem visto no mercado internacional, pois atende demanda mundial pela redução da emissão dos gases de efeito estufa. Desenvolvido pela Embrapa, a marca-conceito começa ser adotada pelos produtores e um grande frigorífico já adotou a certificação.
Para falar sobre o assunto, a Campo Grande Expo conta com Rodrigo da Costa Gomes e Davi José Bungenstab. Rodrigo é zootecnista com mestrado, doutorado e pós doutorado em Zootecnia, professor colaborador no Programa de Pós-Graduação em Ciência Animal da UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul) e pesquisador da Embrapa Gado de Corte Campo Grande. Davi é médico-veterinário especialista em Administração Rural, doutor em Ciência Agrárias e pesquisador da Embrapa Gado de Corte na área de Sustentabilidade e Eficiência Energética de Sistemas, atuando no Grupo de Pesquisa em Sistemas de Produção Sustentáveis.
Rodrigo salientou que a produção de carne bovina com a utilização do sistema CCN desenvolvido pela Embrapa tem um grande valor em termo de sustentabilidade ambiental, os gases de efeito estufa gerados durante o processo de produção da carne são neutralizados. “Os gases de efeito estufa emitidos pelos bovinos dentro sistema, são captados por árvores, que transformam em madeira”, diz Rodrigo.
A neutralização dos gases chega a ser maior que 100%, pois as árvores são capazes de captar mais carbono do que os animais, dentro do sistema, produzem. Conhecido como Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (IPLF), a forma de produção não só é sustentável ambientalmente, como agrega outras atividades comerciais e traz outros benefícios como conforto animal e proteção de pastagem e rebanho contra eventos climáticos severos.
“Estamos num momento de sensibilização da classe produtora e recentemente conseguimos que um frigorífico adotasse a certificação de Carne Carbono Neutro, ou seja, vão comercializar a carne. Isso começou a abrir espaço para produzirem essa carne. Em curto prazo o frigorífico vai comprar esses animais e comercializar”, detalha Rodrigo. “Os produtores que já adotam o sistema estão vendo com bons olhos, porque é uma chance de valorização do produto e ter receita maior”, completa.
Segundo Rodrigo, no Mato Grosso do Sul a área com potencial de produção de CCN é de 1 milhão de hectares. O pesquisador apresentou dados de 2016 uma revista de circulação nacional que mostra a parcela de 11,5 milhões de hectares em todo o Brasil com alguma forma de integração de pasto, sendo 84% ILP (Integração Lavoura-Pecuária), 9% ILPF e 7% IPF (Integração Pecuária-Floresta).
“Exportação” do conceito
“Estão de olho no Brasil. Pesquisadores da Austrália chegaram a dizer: ‘porque não pensamos nisso antes?’ São palavras deles”, conta Davi, que falou sobre o CCN no contexto internacional. Sobre a iniciativa ter dado tão certo no Brasil, ele explica que deve-se a um fator inexistente nos países que não tem clima tropical. “Nossas árvores crescem depressa, então temos como sequestrar esse carbono depressa”, diz ele sobre a captação de gases de efeito estufa por sistemas integrados de pecuária com florestas.
Pesquisadores da Embrapa têm apresentado o conceito para mercados internacionais como Europa, Ásia e Estados Unidos. A Austrália, que tem uma iniciativa de produção sustentável de carne vermelha, deseja unir esforços junto à pesquisa brasileira.
Davi ressalta que é crescente o número de consumidores que procuram produtos sustentáveis, haja visto a demanda de produtos livres de agrotóxicos no que diz respeito a produção de grãos. “Já tem pessoas que consomem já pensando no efeito que o produto tem no aquecimento global”, avalia Davi.
“A pegada genial, e que ninguém tinha pensado nisso, é que já temos produtores fazendo ILPF porque é bom pro sistema e ele vai vender aquela árvore. E porque não agregar valor à carne e ganhar o crédito do carbono? O crédito é via carne, ele não vai vender o crédito, vai vender a carne que tem um crédito embutido nela. Teoricamente vai ser um produto mais valorizado”, finaliza.
Programação
A Campo Grande Expo ainda conta com diversas atividades. Um dos destaques é a palestra “As crescentes oportunidades do setor agrícola com a China” com Charles Tang, presidente binacional da Câmara de Comércio e Indústria Brasil China, que acontece às 14h30.
O embaixador da Campo Grande Expo, o escritor e palestrante José Luiz Tejon Megido vai falar às 15h30 com a palestra “Nosso agribusiness pode dobrar de tamanho até 2024?”. Em seguida ele participa do Painel de Líderes “Desafio: Dobrar o Agronegócio em 5 anos” junto com Alessandra Piano, Alan Fernandes, Charles Tang, Irineo da Costa Rodrigues e Maurício Saito.
Ainda, das 16h às 18h o chefe de cozinha André Chowk, dá uma aula show onde vai ensinar como preparar um jantar rápido para amigos.