Projeto que estuda o fogo no Pantanal e Cerrado participa da 7ª Conferência Internacional Wildfire

Árvore rebrota após passagem do fogo na Terra Indígena Kadiwéu. Foto: Fernanda Prado

O “Projeto Noleedi Noleedi – efeito do fogo na biota do Pantanal sul-mato-grossense e sua interação com os diferentes regimes de inundação” foi convidado a participar da 7ª edição da Conferência Internacional sobre Incêndios Florestais (Wildfire) que vai acontecer entre os dias 28 de outubro a 2 de novembro de 2019, no Centro de Convenções Rubens Gil de Camilo, em Campo Grande, Mato Grosso do Sul. A Conferência acontece a cada quatro anos e esta é a primeira vez que é realizada no Brasil.

Um dos principais objetivos da Wildfire é a troca de conhecimentos entre profissionais de todas as nacionalidades ligados ao manejo do fogo e ao controle de incêndios florestais. Participam do evento tomadores de decisão, autoridades, técnicos, pesquisadores e brigadistas. Entre as atividades da Conferência estão o debate e a divulgação de trabalhos sobre os impactos do fogo em comunidades, recursos e ecossistemas em diversas regiões do mundo. A Conferência promove cooperação internacional e ajuda humanitária, consolidando a Estratégia Global para gerenciamento de incêndios e manejo do fogo. O evento também abre espaço para que empresas, instituições de pesquisa e especialistas exponham novas tecnologias, produtos e métodos para manejo do fogo e controle de incêndios florestais.

O tema da Conferência Wildfire 2019 é “Frente a frente com o fogo em um mundo em mudanças: redução da vulnerabilidade das populações e dos ecossistemas por meio do Manejo Integrado do Fogo”. No evento, o Projeto Noleedi fará parte da Sessão Especial “Pesquisa, Gestão e Tradição do Manejo do Fogo: Desafio do Diálogo de Saberes”, que ocorre no dia 29 de outubro. O coordenador do Projeto, professor doutor Danilo Bandini Ribeiro, vai palestrar sobre o processo de elaboração do Projeto Noleedi.

Dados inéditos

Dados inéditos serão divulgados pelo projeto durante a Wildfire. “Em relação aos resultados parciais que o projeto já possui, nós temos um mapa de frequência de fogo na região da Terra Indígena (TI) Kadiwéu dos últimos 18 anos e uma classificação da vegetação mais precisa que no início do projeto, pois essa verificação foi feita em campo”, explica Bandini.

Mapa gerado pela equipe de geoprocessamento do Projeto Noleedi. Frequência de fogo na TI Kadiwéu em 2005 e 2014

De 2001 a 2018, o Projeto Noleedi concluiu que foram queimados na Terra Indígena, em média, 124.217,9 hectares ou 23,9% de sua área total de 540 mil hectares. Nos resultados das análises, o ano de 2005 apresentou maior área queimada, com 316.624,2 ha, 61% da área total, e 2014 registrou a menor área queimada, 23.039,1 ha, 4,4% da área total. Os dados agora contribuirão para as pesquisas sobre os efeitos do fogo na TI Kadiwéu. “Nessa primeira etapa do trabalho, onde produzimos mapas, um deles, que foi o principal, o mapa de histórico de área queimada, conseguimos observar que dentro da Terra Indígena existe uma variação entre os anos nessas áreas queimadas, ou seja, tem ano que queima muito e tem ano que queima pouco. As causas dessa variação entre os anos, o porquê um ano queima mais ou o porquê um ano queima menos, serão investigadas numa segunda etapa do projeto, onde vamos buscar quais são os fatores e o que influencia dentro dessas áreas queimadas, observando se é influência climática ou outras influências locais”, afirma Maxwell da Rosa Oliveira, mestrando de Biologia Vegetal pela UFMS e responsável técnico na área de geoprocessamento do Projeto Noleedi.

Brigadistas da Terra Indígena Kadiwéu em trabalho de queima prescrita. Foto: Silvio Xavier

Brigadas indígenas

Além do coordenador do Projeto, Danilo Ribeiro, também integrará a sessão especial Rubens Aquino Ferraz, brigadista indígena Kadiwéu da Aldeia Alves de Barros, de Porto Murtinho, MS, que irá abordar o tema “As Brigadas indígenas do Prevfogo e o saber tradicional”. O Centro Nacional de Prevenção e Combate aos Incêndios Florestais (Prevfogo) do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) atua na Terra Indígena Kadiwéu desde o ano de 2000. A partir de 2011 passou a contar com brigadas com integrantes indígenas que atuam em ações de combate e prevenção a incêndios florestais e educação ambiental. “Agora, o Prevfogo-Ibama tem adotado a questão do manejo integrado do fogo, onde é trabalhado o resgate do conhecimento tradicional dessas populações, do uso tradicional do fogo pelas comunidades indígenas, tentando implementar, dentro das necessidades dessas comunidades, o uso racional do fogo, respeitando tanto a cultura como também o ambiente onde elas vivem. Com esse enfoque, percebemos que a gente consegue ter um pouco de controle desses incêndios (florestais), principalmente na época crítica, e fazer com que esses ambientes permaneçam com essa característica resiliente de se recuperar dos grandes incêndios. Essa resiliência também vem da parte social e cultural dos povos indígenas. Então, resgatar esse conhecimento do manejo do fogo para diversos usos faz com que eles retornem também à sua ancestralidade, que foi sendo perdida com o tempo”, afirma o analista ambiental do Prevfogo-Ibama, Alexandre Pereira, que também integra a equipe do Projeto Noleedi.

Brigadista Rubens Aquino Ferraz com o Coordenador do Projeto Noleedi, prof. Danilo Bandini Ribeiro e com o Analista Ambiental do Prevfogo Ibama, Alexandre Pereira. Fotos: Fernanda Prado

A brigada indígena tem papel fundamental no Projeto Noleedi ao acompanhar e ajudar os pesquisadores na identificação das áreas que estão sendo monitoradas e na sugestão de espécies da fauna e flora de interesse das comunidades presentes na região. “A brigada tem esse papel de orientar os pesquisadores dentro da Terra Indígena: onde ir, onde não ir, que tipo de vegetação é mais utilizada pelas comunidades, e também na preparação e proteção das áreas onde serão realizados os levantamentos e as pesquisas dos diversos grupos em estudo pelo Projeto Noleedi”, ressalta Pereira.

O analista ambiental lembra que o projeto vem de encontro com os princípios do manejo integrado do fogo e que a união entre pesquisa e conhecimento tradicional tem muito a contribuir para as comunidades locais. “A brigada do Prevfogo-Ibama, além de estar contribuindo no desenvolvimento do projeto, vai ser uma grande beneficiada dos resultados que vão surgir, uma vez que o objetivo do projeto é traçar diretrizes de como e onde utilizar e qual a melhor época de se empregar o fogo”, conclui Pereira.

O Projeto Noleedi

O Projeto Noleedi tem duração de 36 meses e teve seu início em janeiro de 2019. É uma iniciativa da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS) e do Prevfogo-Ibama. Com apoio do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), o projeto está pesquisando os efeitos do fogo na biota do Cerrado e Pantanal e suas interações com o regime de inundação na Terra Indígena Kadiwéu, que possui cerca de 540 mil hectares localizados no norte do município de Porto Murtinho, sudoeste de Mato Grosso do Sul. Noleedi, no idioma Kadiwéu significa fogo.

A pesquisa conta com apoio do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e parceria de diversas instituições: Semagro (Secretaria de Estado de Meio Ambiente, Desenvolvimento Econômico, Produção e Agricultura Familiar de Mato Grosso do Sul), Fertel (Fundação Estadual Jornalista Luiz Chagas de Rádio e TV Educativa de Mato Grosso do Sul), Funai (Fundação Nacional do Índio), Programa Corredor Azul/Wetlands International/Mupan (Mulheres em Ação no Pantanal), Terra Indígena Kadiwéu e Rede Aguapé de Educação Ambiental do Pantanal.

Brigadista acompanha pesquisadores em áreas de estudo. Em dia de campo visitante conhecerá in loco o Projeto Noleedi. Foto: Fernanda Prado

Wildfire na Terra Indígena Kadiwéu

Nos dias 2 a 4 de novembro a Conferência Wildfire irá proporcionar dias de campo para os inscritos no evento. Na ocasião, os participantes têm a possibilidade de conhecer in loco projetos que foram apresentados durante o evento em Campo Grande. Um desses locais é a Terra Indígena (TI) Kadiwéu, no município de Porto Murtinho, MS.

A visita acontece na aldeia Alves de Barros, onde fica a sede de uma das brigadas da TI. Lá, ocorrem apresentações culturais como danças, mostra de artesanato e pintura corporal típicos da etnia Kadiwéu, além de almoço tradicional. Os brigadistas indígenas do Prevfogo-Ibama irão demonstrar seu modo de trabalho no combate aos incêndios florestais e os visitantes terão oportunidade de conhecer áreas monitoradas pelo Projeto Noleedi. Os inscritos terão a oportunidade de saber, pela perspectiva dos brigadistas e dos pesquisadores, como funciona o projeto.

A escolha para a visitação no dia de campo ocorre durante a inscrição ao evento. Para mais informações dobre a 7ª Conferência Internacional Wildfire acesse https://www.ibama.gov.br/wildfire2019

Confira a programação do Projeto Noleedi na 7ª Conferência Wildfire:

Sessão Especial: “PESQUISA, GESTÃO E TRADIÇÃO NO MANEJO INTEGRADO DO FOGO: DESAFIOS DO DIÁLOGO DE SABERES” – 29 de outubro de 2019

Segundo bloco 16h:10 às 18h:30

Palestrantes:

1) Carol Barradas – ICMBio – “A experiência da mudança de paradigma na gestão de manejo do fogo da Esec Serra Geral do Tocantins”.

2) Danilo Bandini Ribeiro – UFMS – “O processo de construção do Projeto Noleedi envolvendo Ibama, Funai e a comunidade indígena Kadiwéu”.

3) Rubens Aquino Ferraz – brigadista indígena Kadiweu – Aldeia Alves de Barros – “As brigadas indígenas do Prevfogo e o saber tradicional”.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Topo