Projeto Noleedi conclui primeira fase de monitoramento de vegetação e marca locais para armadilhas de borboletas

Árvore demarcada em área estudada pelo Projeto Noleedi. – Foto: Fernanda Prado

De 2 a 5 de outubro de 2019 o Projeto Noleedi concluiu a primeira fase do monitoramento da vegetação que sofre inundações na Terra Indígena Kadiwéu para saber qual o efeito do fogo nos recursos naturais. Também foram definidos os locais para instalação de armadilhas para captura de borboletas frugívoras, que são aquelas que se alimentam de frutos fermentados.

O pesquisador responsável pelos trabalhos de monitoramento fenológico, que é o estudo das relações entre processos ou ciclos biológicos e o clima, e pesquisas sobre o efeito do fogo na vegetação do Cerrado e Pantanal, o doutorando em Ecologia e Conservação pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS) de Campo Grande, Bruno Henrique dos Santos Ferreira, percorreu 120 parcelas estabelecidas pelo projeto durante cinco viagens. A primeira fase dos trabalhos nas parcelas de fácil acesso às mais inóspitas, atravessando vazantes, matas secas e Cerradão, com bastantes cipós e espinhos e com relevo de difícil acesso foi concluída.

Segundo o pesquisador Bruno Ferreira, os trabalhos terão duração mínima de 26 a 27 meses. “A gente vai saber como a vegetação responde em termos de produção de recursos, quando ela é influenciada pelas variáveis de inundação e frequências de incêndios e também como se comporta no período de ocorrência do fogo, durante as estações secas. Também vamos saber se a ocorrência do fogo acontece mais no início da seca ou se é um pouco antecedendo as primeiras chuvas, no início da estação chuvosa ou no auge da seca, que acreditamos ser o momento mais crítico, quando está totalmente seco, sem chuva e é um momento de fragilidade em termos de recursos para fauna,” afirma o doutorando.

Bruno Ferreira fazendo coleta de dados em campo. – Foto: Fernanda Prado

Diante da incidência anormal de queimadas e incêndios florestais registrada em 2019 no Brasil e também na Terra Indígena Kadiwéu, o pesquisador afirma que será preciso rever a metodologia do trabalho. “Praticamente quase todas as áreas que nós havíamos selecionado para monitoramento fenológico sofreram com essas queimadas de 2019. Então talvez a gente tenha que rever a nossa metodologia e as nossas perguntas em relação ao fogo para poder responder de forma satisfatória nossas questões para cada grupo de organismos vivos que nós estamos monitorando. Tanto eu que estou trabalhando com as plantas como os outros alunos que vão estudar os animais”, ressalta.

Borboletas como bioindicadores

Aline Alves Lopes, mestranda UFMG

Outro trabalho realizado na viagem do início de outubro foi a demarcação de locais para instalar as armadilhas para borboletas frugívoras. Elas serão colocadas em locais onde não haja possibilidade de entrada de formigas ou de sofrer ação de animais roedores. Os trabalhos contam com apoio da mestranda em Ecologia, Conservação e Manejo da Vida Silvestre da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Aline Alves Lopes, que além de ajudar na elaboração de mapas, auxilia no campo demarcando e confirmando com coordenadas geográficas os locais onde serão instaladas as armadilhas. Para a mestranda, que é orientada pelo coordenador-geral do Projeto Noleedi, Danilo Bandini Ribeiro, a participação nas pesquisas despertou seu interesse porque o projeto “tem uma limitação de estudo com relação à dinâmica de fogo em terras indígenas do Pantanal e vai trazer muitas respostas sobre o fogo antrópico e o fogo natural, e como isso altera a dinâmica na Terra Indígena Kadiwéu.”

Para o professor doutor do Instituto de Biociências da UFMS, coordenador do Projeto Noleedi, Danilo Bandini Ribeiro, é importante conhecer o efeito do fogo nas populações de borboletas pois elas “funcionam como um grupo bioindicador, ou seja, como um termômetro para medir a biodiversidade. Como não há como saber o que acontece com todas as espécies, existem alguns grupos que serão monitorados, entre eles as borboletas.” O professor Danilo Ribeiro explica também que o principal bioindicador será a variedade e a quantidade de indivíduos capturados de cada espécie. “A gente ainda não sabe o que esperar, ninguém nunca trabalhou numa área parecida, mas vamos ter um indicativo do efeito do fogo na vegetação. A mudança das borboletas revelará isso”, afirma o coordenador.

Prof. Danilo Bandini Ribeiro arma estrutura para receber armadilhas para borboletas frugívoras. Foto: Fernanda Prado

O Projeto Noleedi

O “Projeto Noleedi – Efeito do fogo na biota do Pantanal sul-mato-grossense e sua interação com os diferentes regimes de inundação” é uma iniciativa da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS) e do Centro Nacional de Prevenção e Combate aos Incêndios Florestais (Prevfogo) do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), aprovada pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), que está pesquisando os efeitos do fogo no Cerrado e Pantanal. O projeto é executado na Terra Indígena Kadiwéu, que possui cerca de 540 mil hectares localizados no norte do município de Porto Murtinho, sudoeste de Mato Grosso do Sul.

Ao longo de 36 meses o projeto pretende gerar dados sobre os efeitos do fogo ocorrendo em diferentes épocas (precoce, modal e tardio) na biota da região, ou seja, no conjunto de todos seres vivos de um determinado ambiente ou de um determinado período; verificar a interação dos diferentes padrões de inundação com os efeitos do fogo sobre alguns grupos-chave da biota local; criar de forma cooperativa e com o envolvimento de agentes do Estado, populações tradicionais e pesquisadores um protocolo de manejo do fogo e também um protocolo de avaliação de impactos de incêndios na biota e avaliar o manejo do fogo como uma estratégia de restauração passiva, além de identificar traços que permitam selecionar espécies com potencial para serem utilizadas na restauração de ecossistemas sujeitos ao fogo, de modo a garantir recursos para a manutenção da fauna e o sucesso no recrutamento de novos indivíduos. Também será conhecido o efeito do fogo sobre a reprodução de espécies da flora utilizadas pela comunidade indígena.

O Projeto Noleedi conta com apoio do CNPq e parceria de diversas instituições, entre elas: Semagro (Secretaria de Estado de Meio Ambiente, Desenvolvimento Econômico, Produção e Agricultura Familiar de Mato Grosso do Sul), Fertel (Fundação Estadual Jornalista Luiz Chagas de Rádio e TV Educativa de Mato Grosso do Sul), Funai (Fundação Nacional do Índio), Programa Corredor Azul/Wetlands International/Mupan (Mulheres em Ação no Pantanal), Terra Indígena Kadiwéu e Rede Aguapé de Educação Ambiental do Pantanal.

Fonte: Projeto Noleedi

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