Exibidos os dois primeiros episódios da série “Santos Dumont” (falada em quatro idiomas e que estreou no Brasil no último dia 10, na HBO) o que pode ser avaliado? O refino de produção, de figurino, pesquisa e de direção de arte realmente impressiona. Para os padrões brasileiros não deixa de ser uma superprodução. Só em figurantes são mais de 1.000 pessoas envolvidas. A reconstrução física e digital das principais invenções do pai da aviação (pelo menos para os brasileiros) é de tirar o fôlego – tanto o 14 Bis quanto o Demoiselle foram reconstituídos fisicamente.
O ator João Pedro Zappa, que interpreta o protagonista na fase de vida entre 16 e 41 anos, está assustadoramente bem no papel. E não foi escolhido à toa. Assim como outros atores, ele teve de falar diversas línguas nos episódios da série, sobretudo o francês (passou por um ‘intensivão’ de cinco meses). O fato não é novidade para o ator, que já teve de falar suaíli (idioma africano) no elogiadíssimo filme “Gabriel e a Montanha”. Sua semelhança física com Alberto Santos Dumont é impactante e sua interpretação convence.
Por vezes esquecemos que se trata de uma reconstituição de época e imaginamos nos transpondo para o final do século XIX e início do XX, no coração da Europa, tal o cuidado com as locações, guarda-roupa e iluminação (que respeita a ausência de luz elétrica nas cenas noturnas, sem deixar escapar o charme parisiense da época).
Alguns encontros “inusitados” de Dumont (um dos homens mais famosos no mundo, em sua época) chama a atenção, como com o joalheiro Louis Cartier (que lhe dá um relógio de pulso masculino, objeto que o inventor ajuda a popularizar mundialmente) e com a Princesa Isabel (na época exilada na França).
Mas não vá esperando muita ação, perseguições e grandes efeitos especiais como em blockbusters arrasa-quarteirão. A série tem um ritmo todo seu e busca mergulhar no íntimo do inventor mineiro, não escondendo a timidez, suas hesitações amorosas (com Aída de Acosta, por exemplo) e sexuais (há cenas que insinuam e dão vida aos rumores sobre sua bissexualidade), apesar de sua fama de namorador. A produção nacional HBO conta com atores tupiniquins, franceses, belgas e portugueses e será exibida em 70 países.
Ano de produção: 2019
País de origem: Brasil
Direção: Estêvão Ciavatta e Fernando Acquarone
Roteiro: Gabriel Mariani Flaksman e Pedro Motta Gueiros
(*) É jornalista, pós-graduado em Marketing e mestre em Produção e Gestão Agroindustrial