Atual estrutura da rede pública de saúde não atende doentes mentais

População fica exposta e pacientes desassistidos

Até quando? Essa é a pergunta que médicos e a sociedade fazem a respeito da situação dos doentes mentais no Brasil. O assunto voltou à toa após o ataque sofrido por uma menina de três anos, feito por um homem esquizofrênico e acabou com a morte encefálica da criança.

O crime aconteceu agora em dezembro, quando Cecílio Martins Centurião Júnior, de 34 anos, diagnosticado com esquizofrenia se aproximou de uma mãe no ponto de ônibus, que estava com três crianças, pegou uma delas pelos pés e arremessou no chão. Ele já havia sido interditado pela Justiça há 7 anos e agora está preso.

“Os doentes mentais não têm acesso a tratamento”, é o que explica o psiquiatra Dr. Juberty Antônio de Souza, que também é presidente da Academia de Medicina de Mato Grosso do Sul

Segundo ele, a psiquiatria evoluiu, mas as políticas públicas não. “Até 1950 não havia medicamentos para tratar esses pacientes, mas a partir de então foi possível haver tratamento, tanto na internação, quanto no atendimento ambulatorial. Mas a partir da década de 1970, iniciou-se um Movimento Antimanicomial, que de uma maneira irresponsável fechou diversos leitos no Brasil”, conta o médico.

“Com isso, os grandes hospitais psiquiátricos foram diminuindo aos poucos, mas não foi dada a devida assistência a esses pacientes. Aqui no Estado há pouquíssimos leitos e também não tem tratamento e nem medicamentos, e isso traz uma grande preocupação para a classe médica que acredita que essas pessoas têm o direito a tratamento digno e a sociedade segurança”, declara a presidente da Associação Médica de Mato Grosso do Sul, Dra. Maria José Martins Maldonado.

Segundo os médicos, infelizmente, a atual política não beneficia os doentes mentais e nem a sociedade, pois esses pacientes muitas vezes vão parar em presídios ou têm tratamento desumano, ficando amarrados ou presos em casa, pois as famílias não têm como lidar com eles. “As doenças mentais deveriam ser tratadas com a mesma estrutura que as demais, com os mesmos níveis de tratamento”, diz a Dra. Maria José.

“A OMS – Organização Mundial da Saúde orienta a ter 1 leito psiquiátrico para cada 1000 habitantes. O Brasil tem certa de 0,27 e Mato Grosso do Sul tem 0,17 aproximadamente”, explica Dr. Juberty que alerta o risco desses doentes sem tratamento, pois aumenta o número de casos de agressões e outros crimes, como o ocorrido em Campo Grande.

“Nós médicos e a população temos que cobrar do Poder Público alternativas para que não haja mais casos assim. É muito desumano expor as pessoas e também deixar esses pacientes sem assistência”, finaliza a presidente da AMMS.

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