São Paulo (SP) – Os profissionais da saúde são peça fundamental no enfrentamento da pandemia de Covid-19, mas, infelizmente, também estão entre os mais vulneráveis. Médicos vêm sendo atingidos física e mentalmente, pois correm maior risco de infecção, visto que estão em contato com pessoas contaminadas. Isso os faz ficar longe de suas famílias e lidar com o peso da vulnerabilidade do outro, muitas vezes deixando a própria em evidência.
O momento atual exigiu mudanças repentinas e ainda é novidade para todos, inclusive para médicos, enfermeiros e auxiliares, que precisam atuar na linha de frente. No Brasil, o grupo do Centro de Pesquisa em Álcool e Drogas e do Programa de Pós-Graduação em Psiquiatria da Universidade Federal do Rio Grande do Sul afirma que durante uma pandemia os níveis de ansiedade e estresse das pessoas aumentam devido ao medo, fazendo com que o número de pessoas com saúde mental afetada seja ainda maior que o número de pessoas infectadas pelo novo vírus.
A Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (SBOC) alerta que para cuidar de pacientes e da família, antes de tudo, é preciso cuidar de si mesmo. Aprender a separar assuntos familiares dos profissionais, tirar um tempo para descansar e fazer coisas que te agradem, como ler livros, cuidar do seu animal de estimação e praticar atividades físicas, podem ser de grande ajuda durante esse período.
“Vejo colegas de trabalho mais ansiosos, outros deprimidos, principalmente pela preocupação com seus pacientes, se seguirão o tratamento e se estão bem. É preciso que os gestores de hospitais e clínicas estejam também atentos à saúde mental de seus profissionais, criem um espaço seguro de diálogo, onde eles possam compartilhar as principais dificuldades dessa nova rotina e encontrar juntos as soluções”, defende a Dra. Veridiana Camargo, membro da SBOC.
O que pode fazer a diferença é a sintonia com a equipe de trabalho. “Mesmo à distância, mantenha contato com outros colegas e líderes para que possam compartilhar experiências e definir as melhores diretrizes de cuidados para os pacientes, mas também para a equipe. Ter uma rede de apoio no trabalho e em casa facilita o enfrentamento dessa crise, e certamente nos tornará mais fortes daqui para frente”, completa Dra. Veridiana.
De acordo com a Dra. Angélica Nogueira, diretora da SBOC, os técnicos também estão sobrecarregados por terem plena ciência da gravidade do que estamos enfrentando. “Estamos a par dos fatos, conhecemos os dados e evidências científicas e, mesmo cientes da verdade e com bastante medo, continuamos e continuaremos cumprindo nosso ofício”.
Os profissionais da saúde temem que os números de contaminados sejam ainda maiores no Brasil, pois há poucos testes sendo realizados. “Estima-se que a incidência seja consideravelmente superior aos números reportados. Além da carência de testagem, há pessoas que são assintomáticas ou apresentam sintomas leves e, por isso, não estão sendo contabilizadas”, aponta Dra. Angélica.
Outra preocupação que aflige especialmente os oncologistas é que as consultas rotineiras estão suspensas. “É necessário definir o que será feito daqui para frente, qual será a nova prática, pois, para muitos cânceres, atrasos diagnósticos têm impacto significativo no desfecho”, dispara.
Diante de tantas adversidades, a SBOC presta sua homenagem aos médicos, enfermeiros, técnicos e auxiliares de enfermagem e parabeniza todos que estão combatendo essa pandemia, seja na linha de frente ou possibilitando a continuidade de outros tratamentos. Além disso, a Sociedade também agradece as mais diversas iniciativas (individuais ou empresariais) de apoio aos profissionais da saúde, seja com reconhecimento e apoio emocional, doações ou oferecendo soluções em segurança do trabalho.