A volta dos alunos para as escolas começa a ganhar um horizonte. Mas ainda há muitas dúvidas sobre os protocolos a serem seguidos para evitar os riscos de contágio pelo novo coronavírus e, também, sobre como devem funcionar os estabelecimentos de ensino no futuro. Em evento realizado pelo Sesc e o Instituto Internacional de Planejamento Educacional da UNESCO no dia 24, especialistas em educação debateram a volta às aulas e chegaram a alguns consensos, entre eles que todos os espaços da escola precisam entrar no planejamento de retomada presencial dos estudos.
Para o psicopedagogo italiano Francesco Tonucci, esse planejamento não deve partir da pergunta sobre o que os estudantes perderam durante o período de quarentena, mas sim sobre o que ganharam.
Criador do projeto “A cidade das crianças”, ele passou os últimos meses defendendo o conceito da “casa como laboratório de experimentação”, com tarefas domésticas que pudessem ser associadas às disciplinas escolares. Nessa “didática de emergência”, lavar roupa, pregar botões, cozinhar, cuidar de uma planta, ver fotos de família ou escrever um diário complementaram as velhas lições de casa.
Agora, Tonucci vai além e propõe para o fim do confinamento uma reinvenção das escolas. Ao lado de profissionais do Sesc e do IIPE UNESCO, ele participou na última quarta-feira, 24, de um debate virtual com a presença de mais de 5 mil pessoas de toda a América Latina, onde defendeu que as escolas “têm um tesouro a descobrir”.
“Nas pesquisas que realizamos com os Conselhos de Crianças, quase todas elas acreditam que aprenderam alguma coisa neste longo período de espera. E não estamos falando de brincadeiras, e sim de capacidades e competências”, diz Tonucci. Para ele, esse conhecimento deve ser explorado dando autonomia e espaço às crianças, com aulas multisseriadas fora dos limites da sala de aula.
Uma nova escola deveria, portanto, fazer melhor uso de seus corredores, pátios e jardins, e assim também encontrar soluções para o distanciamento social que as crianças e adolescentes deverão continuar mantendo na volta às aulas presenciais. Nas palavras do psicopedagogo, é preciso “renunciar à sala de aula e pensar uma escola feita de oficinas e laboratórios”.
Gilvania Porto Ferreira, analista de educação do Departamento Nacional do Sesc, avalia que o período de confinamento residencial já esgotou a capacidade dos alunos de adequação a lugares restritos, como as salas de aula.
“Agora estamos, na medida do possível, bem em casa, mas confinados. Voltar para a escola e continuar confinados dentro de uma sala de aula não é possível. Precisamos olhar para o espaço externo, para as áreas de ocupação que as escolas possuem”, defende Gilvania.
Reação e planejamento
Para enfrentar a crise provocada pela pandemia de Covid-19, foi preciso que os sistemas educacionais ampliassem seus programas a distância, criassem alternativas para populações sem acesso à internet ou mesmo à TV ou rádio, pensassem propostas de apoio psicoemocional para estudantes e professores e intensificassem a comunicação entre escolas e famílias. Na América Latina, essas iniciativas foram reunidas pelo IIPE UNESCO em um documento interativo de sistematização, como parte da resposta à crise oferecida pela UNESCO.
O novo desafio que a comunidade educacional enfrenta agora é o planejamento para a reabertura das escolas. “Hoje nos encontramos em meio a uma pandemia e é preciso atravessá-la, mas também começar a pensar em como sair dela. Devemos nos conscientizar de que não dá para improvisar, é preciso gerir e planificar. Ou planificamos ou seremos escravos das circunstâncias, e perderemos a chance de escolher um futuro mais justo para todas as pessoas”, diz Gladys Kochen, coordenadora de Formação do Escritório para a América Latina do IIPE UNESCO.
O debate completo, que conta com compartilhamento de experiências e avaliação de modelos estudados para volta às aulas, pode ser acessado na página do IIPE UNESCO, Escritório para a América Latina.