Minha fé é extremamente racional e pouco sentimental… Já minha razão, por livre e consciente escolha, sempre procura ser iluminada e regida pela fé! Posso afirmar que, pelo menos na minha vida, fé e razão convivem muito bem e até se completam, num casamento perfeito de mente e coração, com direito a crises de relacionamento, superadas pelo amor.
Esse tema me fascina desde 1979, quando conclui o “Curso de Iniciação Teológica” pela Faculdade Salesiana de Filosofia, Ciências e Letras de Lorena-SP, sob a direção do nosso querido “padre Guedes” (Pe. Vicente de Paulo Moretti Guedes). Àquela época, vivíamos o auge dos movimentos de conversão, renovação espiritual e engajamento nas pastorais da Igreja.
Lembro-me de que muitos dos que iniciaram o curso – com duração de três anos –, acabaram desistindo ao longo da caminhada por causa dessa dicotomia: Fé e Razão. Para mim, ao contrário, esse conflito medieval era estímulo a seguir em frente, aprofundando os estudos, a partir do pensamento de Tomás de Aquino, que desenvolvia suas teses em bases racionais. Segundo ele, o papel da razão é demonstrar e organizar os mistérios revelados pela fé.
Entre os cinco membros da Comunidade de Jovens de Guaratinguetá que iniciaram o curso, tive a graça de concluir a formação, juntamente com os adultos, cursilhistas e equipistas, daquela turma. Penso que minha perseverança foi fruto da compreensão de que uma boa relação com a ciência, sem reduzir nossa vida cristã a preceitos puramente racionais, nos conduz a uma fé amadurecida e bem fundamentada no conhecimento teológico.
Portanto, podemos afirmar que não há incompatibilidade entre fé e razão ou entre o estudo da Bíblia e das teorias científicas. E essa experiência só enriquece nossa espiritualidade. O segredo dessa questão que intriga a tantas pessoas está, essencialmente, na interação entre a fé e o conhecimento.
Dois pensadores – Tomás de Aquino (1225-1274) e Anselmo de Cantuária (1033-1109) –, nos ajudam a compreender a diferença entre fé e razão. Para Tomás, é pela razão que o ser humano pode chegar ao conhecimento de Deus, embora defenda também a necessidade da fé. Já Anselmo é lembrado pela máxima: “fé em busca de entendimento”, que define seu pensamento em seus escritos.
Nessa temática, não podemos deixar de citar nosso contemporâneo São João Paulo II, que em sua Carta Encíclica Fides et Ratio, no vigésimo ano de seu pontificado (1998), proclama: “A fé e a razão constituem como que duas asas pelas quais o espírito humano se eleva para a contemplação da verdade.”
Como fundamentação bíblica, destaco duas frases complementares de Paulo e Pedro: “Assim, a fé nasce da pregação e a pregação se realiza mediante a palavra de Cristo” (Rm 10,17). “Mas adorai o Cristo Senhor em vossos corações, prontos sempre para responder a quem vos perguntar a razão da esperança que vos anima” (1Pd 3,15).
Para mim, e talvez para você também, permanece uma instigante indagação: É o conhecimento que leva à fé, ou é a partir da fé que se busca o entendimento? Fico com a convicção de que é preciso crer e pensar… Simples assim!
*José Expedito da Silva é jornalista e apresentador do Jornal Café da Manhã, pela Rádio Canção Nova.