O governo de Mato Grosso do Sul, por meio da Secretaria de Estado da Produção e Agricultura Familiar (Sepaf), estabeleceu algumas metas de trabalho para o aumento da produtividade de leite, com foco nas pequenas propriedades, que em MS somam cerca de 60 mil pecuaristas leiteiros em atividade.
A produtividade de leite por animal por dia é baixa, de 3 a 4 litros/dia. “O ideal mínimo seria acima de 10 litros/dia”, diz Orlando Serrou Camy, coordenador do Programa Leite Forte, da Sepaf. Como resultado, a produção de leite em Mato Grosso do Sul é de pouco mais de 1 milhão de litros por dia.
“Por isso é fundamental investir em tecnologia. Muitas delas não aumentam o custo de produção, e quando aumenta, o salto de produtividade é tão grande que viabiliza a atuação do pecuarista leiteiro”, enfatiza o pesquisador Milton Padovan, chefe adjunto de Transferência de Tecnologia em exercício, da Embrapa Agropecuária Oeste (Dourados, MS).
O técnico da extensão rural é peça-chave para que o produtor receba as instruções para adotar as tecnologias apropriadas à sua realidade. Por isso, a Embrapa Agropecuária Oeste, com apoio do Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA), realiza dois cursos para os extensionistas, no período de 26 a 30 de outubro com os temas: Formação e manejo de pastagens e Gestão da unidade de produção leiteira por meio do sistema GisLeite, da Embrapa Gado de Leite (Juiz de Fora, MG).
O coordenador dos dois cursos, o pesquisador Claudio Lazzarotto, da Embrapa Agropecuária Oeste, lembra que o manejo das pastagens é essencial para o processo de melhoria da produtividade. “O primeiro curso tratará do processo de produção e oferta de forragens, desde o manejo e correção do solo até o fornecimento aos animais e o segundo será voltado à gestão da propriedade. É que o produtor precisa, primeiramente, preocupar-se em oferecer alimentação adequada e de qualidade para o gado, levando em conta as condições de solo e clima de sua propriedade. Em seguida, tem que saber administrar a propriedade. Apenas depois disso o produtor pode pensar em maiores investimentos, como melhoria do gado, por exemplo”, esclarece Lazzarotto.
Os temas do curso sobre manejo serão abordados por pesquisadores da Embrapa Agropecuária Oeste. Os tópicos envolvem correção e fertilidade do solo (Carlos Hisssao Kurihara); avaliação das condições de clima e solo (Claudio Lazzarotto); irrigação em pastagens (Danilton Flumignan) e alternativas de pastagens para pastoreio, corte e silagem (Luiz Armando Zago Machado).
O GisLeite é o segundo curso da programação, com palestras dos pesquisadores da Unidade da Embrapa em Juiz de Fora. De acordo com os desenvolvedores do programa de computador, o GisLeite “orienta a tomada de decisão dos gerentes componentes da cadeia produtiva do leite, mediante análise de relatórios que apresentam indicadores de desempenho produtivo e reprodutivo dos animais, indicadores de produtividade dos rebanhos e eficiência econômica da atividade. O sistema disponibiliza aos usuários listas de intervenção, relatórios gerenciais, econômicos e de rastreabilidade dos animais”.
Também haverá um curso sobre sistemas integrados de produção de pastagens e interfaces com a gestão da produção leiteira, ministrada pelo pesquisador Júlio Salton, da Embrapa Agropecuária Oeste.
“Cursos como estes que a Embrapa Agropecuária Oeste está realizando com apoio da Embrapa Gado de Leite e do MDA são essenciais para o processo de atualização tecnológica e construção de novos conhecimentos dos técnicos da assistência e extensão rural. Conhecimentos estes que são estratégicos para ajudar a alavancar as produtividades, melhorar o meio ambiente e logicamente ajudar a viabilizar financeiramente e fortalecer a cadeia produtiva do leite em Mato Grosso do Sul”, esclarece Padovan, que acrescenta: “São tecnologias simples, mas que muitos produtores não percebem a importância. E os técnicos precisam dominar os processos para orientar o produtor e mostrar as vantagens”.
Realidade estadual
Em MS, o rebanho é pequeno, uma média de 50 cabeças de gado por propriedade, com aproximadamente 20 a 30 matrizes para ordenha. A produção de litros por ano no Estado cresceu pouco: de 480 milhões/ano para 540 milhões ano em um período de dez anos. Segundo Orlando Serrou Camy, da Sepaf, esse pequeno aumento só aconteceu devido aos novos assentamentos rurais formados nessa última década.
O entra atual, responsável pela baixa produção no Estado, é o sistema de produção com baixa tecnologia, que afeta diretamente a renda mensal familiar dos pecuaristas leiteiros que, em sua maioria, são pequenos e médios produtores e dependem basicamente da atividade leiteira.
“O retrato da produtividade de leite em Mato Grosso do Sul segue mais ou menos o que acontece em todo o Brasil. No geral, os rebanhos possuem baixa tecnificação, o manejo nutricional não é o adequado e a genética animal não é levada em conta. O manejo nutricional bem feito já ajuda a dobrar a produtividade. Mas o correto é aliar o bom manejo, a gestão da propriedade e a genética animal para se chegar ao resultado ideal de produção”.
Outro fator que influencia a baixa produtividade é a descontinuidade da assistência técnica, segundo Camy. “Não adianta pensar que aumentar a produção é suficiente. É muito importante também produzir um leite que tenha qualidade. Por isso investimos no Programa Leite Forte”, diz o coordenador do Programa, que estará presente com técnicos da assistência técnica no curso oferecido pela Embrapa Agropecuária Oeste.
Camy comenta que neste ano ainda há outro agravante: com a crise econômica, o volume per capita de leite consumido no Brasil está sendo menor e, no mercado externo, os países compradores do leite produzido no Brasil, entre eles a China, estão com estoque de leite em pó (considerado uma commodity pelo mercado externo). Com isso, há um volume maior de leite para venda, menos compradores e, consequentemente, o preço do leite cai.
“É importante o produtor estar preparado tecnicamente para garantir sua produção e gerenciar sua propriedade. Com isso, ele otimiza custos e recursos para atravessar qualquer crise, minimizando os impactos”, analisa Lazzarotto.