Uma pesquisa publicada nessa quarta, 12/08, pela revista “Annals of Internal Medicine” relata que obesos sem comorbidades, com menos de 60 anos, e sobretudo homens, possuem quatro vezes mais chances de morrer de Covid-19. A pesquisa separou os doentes com hipertensão, diabetes e problemas cardiovasculares para avaliar a gravidade apenas do índice de massa corporal elevado.
De acordo com o médico Cid Pitombo, coordenador do Programa Estadual de Cirurgia Bariátrica do Hospital Carlos Chagas, no Rio de Janeiro, o obeso é naturalmente um inflamado crônico. “Minha tesa de doutorado na Unicamp foi justamente sobre os efeitos dos agentes inflamatórios produzidos pela gordura, principalmente pela gordura visceral, sobre a resistência insulínica e produção do diabetes, também sobre as doenças coronarianas e o fígado. Por isso, vírus de alto impacto no organismo são mais graves entre os obesos por conta dessa condição da doença, que dificulta a resposta imunológica do organismo”, destaca Cid Pitombo.
A obesidade favorece hipertensão, câncer, osteoartrite e doença renal crônica. A Covid-19 veio para agravar a situação de indivíduos que já eram vulneráveis. Já existem médicos em outros países clamando pelo aumento das cirurgias bariátricas nos próximos dois anos, como no Reino Unido, como forma de diminuir os riscos para essa população.
Sobre o estudo Californiano, Cid Pitombo considera que “é um dado alarmante, se for levado em consideração que metade dos brasileiros está acima do peso e 20% dos adultos estão obesos, de acordo com o Ministério da Saúde”.
Quanto ao fato de atingirem mais os homens, ainda não há conclusões definitivas sobre os motivos, mas uma possibilidade é o fato dos homens terem mais receptores ECA2, por onde o vírus penetra nas células.
Alerta da ciência mundial
Em março, ainda no início da pandemia global, um estudo chinês descobriu que pacientes mais gordos atingidos pela Covid-19 tinham maior probabilidade de morrer do que pacientes mais magros. Em abril, cientistas da Universidade de Nova York (NYU) descobriram que a obesidade era o fator mais importante para a hospitalização ou não de um paciente após a infecção pelo novo coronavírus. Eles conduziram o maior estudo realizado em hospitais dos Estados Unidos nesta pandemia e indicaram que a composição corporal desempenhou um grande papel na resposta de cada indivíduo ao Covid-19.
Na sequência, pesquisadores franceses do Instituto Lille Pasteur examinaram 124 pessoas internadas com coronavírus e descobriram que 47,6% eram obesas e 28,2% tinham obesidade mórbida, quando o Índice de Massa Corporal é superior a 35. E, em junho, estudo do Reino Unido apontou que mesmo obesos leves têm mais risco de desenvolver versão grave da Covid-19.
“As evidências são enormes. É essencial que pacientes obesos tenham consciência de que são um grupo de maior risco para a doença e sigam as medidas de prevenção e controle de contaminação, mesmo após a vacina”, destaca o médico e pesquisador Cid Pitombo.