A pandemia do novo coronavírus mudou o curso da história mundial. Em meio a este cenário, a saúde foi o setor mais afetado e segue se adaptando, em um modo de “sobrevivência” ao ano que ficará marcado por grandes dificuldades. Mas o maior impacto da Covid-19 foi na saúde das pessoas que, por desconhecimento dos protocolos de segurança dos hospitais e medo de contaminação, adiaram tratamentos para doenças crônicas e agudas, colocando a vida em risco.
Dados de institutos internacionais apontam que não só no Brasil, mas em países como Reino Unido e Estados Unidos, a taxa de mortalidade por câncer registrou aumento de até 60%, se comparada ao mesmo período de 2019. A falta de rastreamento dos sintomas e a procura tardia pelos serviços de saúde são as grandes responsáveis por esse crescimento.
“A mortalidade por outras doenças aumentou e vai aumentar. No Brasil, teremos uma explosão de casos graves de câncer em 2021”, alerta Fernando Maluf, oncologista, fundador do Instituto Vencer o Câncer e diretor do serviço de Oncologia Clínica da BP – A Beneficência Portuguesa de São Paulo.
Intensificando suas ações pela retomada dos cuidados de saúde, o Instituto Vencer o Câncer promoveu a campanha “Para a saúde não tem quarentena”, que visa estimular pacientes oncológicos a não deixarem seus tratamentos e manterem seus exames de rotina normalmente, para que os novos casos de câncer possam ser descobertos ainda no início e terem mais chance de cura.
Trazendo ao debate sua contribuição na assistência de saúde e na visão de gestão hospitalar, Ary Ribeiro, CEO do Sabará Hospital Infantil, destacou a importância do investimento em comunicação com médicos e pacientes, a fim de ressaltar o preparo dos hospitais para fluxos seguros de atendimento.
Outro ponto de destaque foi o entendimento do desafio biológico do coronavírus e do momento de insegurança que todo o setor enfrenta. “Para o gestor, é fundamental entender que não é uma corrida de curto prazo. Este ano, ainda enfrentaremos um cenário de muita insegurança e incertezas.”
Para a especialização da pediatria, algumas mudanças de hábitos sanitários que foram incorporadas ao longo do processo de enfrentamento do novo coronavírus, vão ocasionar novas demandas da área, conta Ribeiro. “A tendência é que os novos prontos-socorros não sejam mais os mesmos, além do aumento progressivo pelas consultas nos centros de especialidades.”, explicou.
Quem também comentou sobre a mudança dos novos modelos de prontos-socorros foi Erickson Blun, presidente do Hospital Vera Cruz, sediado em Campinas, SP. Segundo o executivo, um dos impactos da pandemia será a transformação destes espaços. “Será que prontos-socorros tão grandes vão fazer sentido? Acredito que muitos hospitais e prestadores de serviços irão avançar na atenção primária de saúde.”
O argumento em comum durante o debate foi a preocupação em relação ao atraso na procura por atendimento, situação que pode trazer uma onda significativa no aumento de doenças para os próximos meses, além da dificuldade de seus tratamentos.