Este ano (2020) haverá eleições presidenciais nos Estados Unidos da América. Há dois candidatos majoritários: o republicano Donald Trump, que busca a reeleição, e o democrata Joe Biden. Para além de uma análise político-partidária, vou centrar nos diferentes perfis de masculinidade em que Trump e Biden performam.
Donald Trump performa um estereótipo de gênero masculino no qual os homens são os líderes poderosos, milionários, vigorosos, agressivos e corajosos.
Se recorrermos ao conceito de arquétipo criado pelo médico psiquiatra suíço Carl Gustav Jung, os eleitores estadunidenses que apoiam Trump projetam nele a encarnação do cowboy cinematográfico vivido no cinema por John Wayne. A forma como Trump lida com as questões da imigração hispânica e com a pandemia expressam o estereótipo do cowboy que não teme, atira com precisão e nunca erra o alvo. Trump performa a velha dicotomia presente no imaginário estadunidense: o herói WASP (sigla de branco, anglo-saxão e protestante) contra o mexicano ou indígena (retratados pela indústria hegemônica da mídia como bandidos). Nesse sentido, a adesão à Trump pode ser lida como uma resposta psicológica profundamente enraizada na masculinidade hegemônica que performa um padrão patriarcal bruto de homem.
Joe Biden, 78 anos, expressa um padrão distinto de masculinidade. Diferente de Trump, cujo pai já era muito rico, Biden vem da classe trabalhadora; o pai era um humilde vendedor de carros. Durante sua vida, enfrentou tragédias familiares: a morte de sua primeira esposa e de sua filha de 13 meses em um acidente de carro e, décadas depois, a morte de seu filho Beau, aos 45 anos, de câncer no cérebro.
Aos olhos de alguns eleitores, isso faz de Biden um homem que sabe como é passar por momentos difíceis, superá-los e compreender a dor dos outros. “Ele tem a capacidade de mostrar empatia e compreensão por aqueles que enfrentam adversidades”, disse Anthony Zurcher, jornalista da BBC. Biden escolheu como vice a senadora Kamala Harris, uma mulher, negra, filha de um jamaicano e uma indiana. Kamala, ex-procuradora-geral da Califórnia, tem um peso simbólico, uma vez que expressa causas identitárias e de gênero.
Por fim, Biden performa um protótipo de masculinidade que se distancia do padrão do cowboy e se aproxima ao arquétipo do velho sábio. O velho sábio (também chamado de senex) é o filósofo distinto pela sua sabedoria e julgamento. Diferente da figura paterna que usa a força, o velho sábio se vale do conhecimento para oferecer orientação, agindo como um mentor.
Em tempos de pandemia, caberá aos eleitores estadunidenses escolher quem será o seu líder: o cowboy que atira primeiro e pergunta depois ou o velho sábio que usa a temperança e a empatia para guiar o povo no caminho da História.
*Jorge Miklos é Sociólogo e Analista Junguiano. Dirige uma pesquisa sobre as contribuições da mídia para a constituição das masculinidades no Imaginário Social Brasileiro.