“Vias do Infinito Ser”, de Rubenio Marcelo, é um daqueles livros que superam sua função de conter poemas para serem lidos e apreciados com reverência e consideração. Torna-se, desde a primeira leitura, um guia da enigmática espiritualidade humana diante de um mundo tão inescrutável quanto.
Um tratado a ser consultado tanto nos momentos aflitivos como na “azulecência” do sorriso calmo. “Vias do Infinito Ser” sustenta-se na leitura silenciosa e filtra dimensões da vida cotidiana que se alojam em nossa mente e lá permanecem questionando-nos, disciplinando-nos a um esforço mental prazeroso e necessário.
Uma metáfora a cada poema: “antessala do cotidiano” / “… deixo o camarim” / “…esvaziam-se em estéreis casulos…”/ “…aguardando a chuva de caju…”… E por aí vão as imagens… uma poesia de vida, uma poesia além-livro.
Os caminhos traçados por Rubenio Marcelo são construídos por silêncios, respiração ofegante e/ou cadenciada, pausas alternadas de versos em ebulição, por vertigens e brincadeiras que utilizam a linguagem sinestésica sem qualquer timidez. Quando diante de um momento corriqueiro da vida, o poema não se apequena, ao contrário, ganha inestimável valor simbólico e celebra a essência da poesia que canta os detalhes do dia a dia com o sublime da sabedoria poética que é a expressão universal.
As vias do poeta são muitas e muitas as possibilidades de sentido. Aliás, encontrá-las é intrínseco à capacidade individual de nos posicionarmos ante o mundo como ato de criação poética. Diante dos poemas de Rubenio Marcelo, tornamo-nos um pouco poetas porque ele canta a vida com suas nuances que são, sem dúvida, a fotografia verbal da existência de cada um de nós.
Poema a poema consolida-se a ação criativa de Rubenio Marcelo de “desentranhar” – como dizia Manuel Bandeira – a poesia escondida nas coisas, nas palavras, nos sonhos, nos risos e nos gritos. RM extrai do minério-poético a poesia fantasiada de vida, ora em realidades singulares, ora em convergências encantatórias de vocábulos. O poeta-arquiteto urde, ao longo dos 114 poemas, um caminho de extrema sensibilidade, o qual trilhamos recolhendo a poesia
Desnecessário dizer que os poemas de “Vias do Infinito Ser” configuram o rosto do homem/mulher do nosso novo século, em que as emoções se misturam em busca de caminhos outros, lugares incomuns, singulares, de uma singularidade tal que o ser aqui retratado não mais nos pertence – é cidadão do mundo e comunga com ele a sua individualidade mesclada à diversidade, às democráticas diferenças em perene onda de encantamento.
__________________________________________________________
* Ana Maria Bernardelli é professora, escritora/poeta e ensaísta.