O bom produtor de carne ou leite é antes de tudo um excelente produtor de pasto

Eliana Vera Geremia – Foto: Arquivo Pessoal

A forma como a forragem se encontra disponível para os animais influencia diretamente no consumo de matéria seca. De maneira geral, quanto menor for a proporção de colmos e, maior for a proporção de folhas verdes disponíveis no dossel forrageiro, maior será o consumo dos animais em pastejo. Vários trabalhos feitos aqui e fora do Brasil, demonstram que o colmo das plantas forrageiras é um importante limitador de consumo, uma vez que os animais passam maior tempo em busca de folhas verde. Por tanto, quando pensamos em produção animal a pasto ou semi-confinado temos que ter em mente que, um bom produtor de carne ou leite é antes de tudo um excelente produtor de pasto!

Se pensarmos que, uma determinada planta forrageira após ser consumida pelo animal irá ser revertida em proteína e energia para a produção, podemos concluir que um pasto bem manejado irá apresentar os melhores níveis de nutriente para o animal.

No primeiro estágio de desenvolvimento ou, de rebrote de uma planta forrageira, ocorre um intenso acúmulo de folhas verdes. Sob condições adequadas para seu desenvolvimento, ou seja, com acesso a água, luz, temperatura e adubação, a planta cresce em ritmo acelerado. A partir de um determinado momento, em função do próprio crescimento, as folhas que estão no nível superior do dossel forrageiro, começam a sombrear as folhas e plantas, que estão no nível inferior. Esse sombreamento, desencadeia o processo de alongamento de colmo e senescência foliar (morte das folhas que estão sendo sombreadas). Ou seja, a planta “percebendo” que irá sofrer com a falta de luz na parte inferior do dossel (próximo ao solo), alonga o colmo em busca de mais luz. Quando isso acontece, apesar do aumento na massa de forragem produzida, ocorre uma redução considerável no teor de proteína bruta e na digestibilidade da forragem, em virtude do aumento da fração fibrosa da planta. Sendo assim, toda planta forrageira apresenta um ponto ótimo de colheita, ou seja, uma altura de manejo do pastejo que deve ser respeitada para garantir um elevado consumo de folhas verdes com alto valor nutritivo e assegurar a sua persistência no ambiente pastoril.

A melhor forma de manejar uma pastagem irá depender também do método de pastejo adotado pelo produtor. De maneira geral, temos o método de pastejo com lotação contínua e o método de pastejo intermitente (popularmente conhecido como lotação rotacionada).

Na lotação contínua os animais têm acesso irrestrito e ininterrupto a toda a pastagem, durante toda a estação de pastejo. Nesse sistema, como os animais não saem da área, é preciso garantir uma adequada oferta e consumo de forragem. Nesse caso, o que devemos estabelecer é uma altura média do pasto e utilizar a taxa de lotação para manter essa altura, assegurando dessa forma que não falte ou sobre forragem para os animais, ambas as situações não são benéficas para os animais e para a persistência da planta forrageira.

Quando o método de pastejo adotado é intermitente, ou seja, os animais permanecem por pequenos períodos em determinada área, a melhor maneira de manejar o pasto é através de uma altura de entrada e de saída dos animais dos piquetes. Dessa forma, será possível garantir uma elevada taxa de consumo de folhas verdes, deixando um resíduo adequado para que o rebrote seja vigoroso e o mais rápido possível.

Por muitos anos o critério de manejo do pastejo era baseado em calendários com dias fixos para entrada e saída dos animais nos piquetes. No entanto, temos que concordar que 30 dias no Rio Grande do Sul, são diferentes de 30 dias em São Paulo ou no Mato Grosso. As condições de clima (umidade, temperatura) e tipo de solo mudam muito. Portanto, o melhor critério de manejo de plantas forrageiras e aquele que respeita seu ritmo de crescimento.

O mais importante em se ressaltar é que independente do objetivo do rebanho (carne ou leite), o manejo do pasto deve ser baseado no seu ritmo de crescimento, respeitando sempre a recomendação de altura de manutenção, ou entrada e saída no caso de pastejo intermitente. É importante lembrar que cada planta possui uma altura adequada e que essa altura deve ser respeitada para que haja o sucesso dos sistemas de produção.

Como manejar a pastagem no período de águas

Sem sombra de dúvidas, o melhor período para a produção de pastagem é o período das águas. Nessa fase temos as condições ideais de crescimento e desenvolvimento de uma planta forrageira (água, luz e temperatura). Nesse período, o produtor não pode descuidar de uma adequada adubação das áreas de pastejo, para que junto com as condições climáticas mais favoráveis, a planta forrageira possa expressar seu potencial máximo de produção de folhas. Em contrapartida, com um ritmo de crescimento acelerado, qualquer descuido ou erro no manejo, como por exemplo ultrapassar a altura indicada para a entrada dos animais no piquete pode acarretar um aumento considerável de colmos e material morto na composição morfológica do pasto, consequentemente reduzindo o valor nutritivo da forragem. Vale ressaltar que o produtor precisa ter em mente que, não adianta ter uma alta produção de massa de forragem se não houver uma colheita eficiente do material produzido. Outro ponto importante é com relação aos primeiros pastejos, , estes devem ser mais lenientes/leve, promovendo apenas um “desponte” da planta, para não comprometer o sistema radicular e estimular o perfilhamento e longevidade da planta.

Dependendo do nível de produção desejada, e do potencial genético dos animais, o pasto por si, não consegue suprir toda a demanda de nutrientes necessários para obter e manter elevada produção de leite ou ganho de peso. Nesse cenário, o uso de um suplemento concentrado no cocho junto a melhor qualidade das pastagens no período das águas tem gerado ganhos significativos para os produtores.

O tipo de suplementação que será utilizado irá depender de alguns fatores, tais como: aptidão (leite ou corte), categoria (fêmea ou macho) e idade dos animais, o nível de produção desejado e também o nível de nutrientes oriundos da própria pastagem, visto que, o que se deseja é suplementar (balancear em quantidade e composição) os nutrientes obtidos através do pasto.

Desafios da produção animal a pasto

Um dos principais desafios enfrentados pelos produtores que trabalham com sistemas baseados em pastagens é a sazonalidade na produção das forrageiras, ou seja, durante o período das águas (novembro a abril) temos uma abundância na produção de forragem. Já no período da seca (maio a outubro) a produção de matéria seca de forragem não é suficiente para manter a demanda dos animais.

Em regiões como o Sul do país, essa sazonalidade é menos pronunciada em função do uso de técnicas como a sobressemeadura ou até mesmo o plantio solteiro de pastagens de clima frio como aveia, azevém, trigo e centeio. Essa prática tem por objetivo explorar forragens no período onde as gramíneas de clima tropical reduzem significativamente ou até mesmo cessam o seu crescimento e produção de forragem.

Nas demais regiões do país onde o uso de cultivares de clima temperado não é possível, uma técnica que pode ser utilizada é o diferimento ou vedação de pastos. No período de alta produção de forragem, seleciona-se uma determinada área e indisponibiliza-se essa área para os animais durante um determinado tempo, ou seja, essa técnica visa “conservar” a planta em pé, disponibilizando esse material apenas no período de escassez de forragem, minimizando assim o efeito da sazonalidade. Vale ressaltar que por ter permanecido por certo tempo vedada, essa planta passou do ponto ideal de colheita (altura ideal), logo, apresenta um valor nutricional menor do que se observa no período das águas. Sendo interessante o uso de um índice maior de suplementação no cocho, para os animais nessa época do ano.

Outros desafios enfrentados pelos produtores estão na baixa fertilidade de algumas áreas de pastagem, falta de conhecimento e assessoria no manejo de pastagens em algumas regiões, e a inconsistência na distribuição de chuvas ao longo do ano. Independente do cenário é muito importante que o produtor entenda que não existe a forrageira milagrosa, todas as cultivares existentes atualmente no mercado são de boa qualidade. O que precisa ser feito é uma avaliação acerca de clima, solo, relevo, o sistema e os objetivos do sistema de produção (olhar a propriedade como um todo), e dentro desses fatores escolher a forrageira que melhor e encaixa a propriedade. Depois disso, conhecer a forma de crescimento e desenvolvimento dessa planta e respeitar seus limites de produção.

*Eliana Vera Geremia, assistente técnico comercial da Cargill Nutrição Animal

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