Em 1990, o maestro Jamil Maluf visava criar uma Orquestra não só para formação de novos músicos, mas também que ela repensasse o formato tradicional de apresentação orquestral, dialogando com o cinema, o teatro e a música popular. A partir deste conceito é que surge a Orquestra Experimental de Repertório (OER), corpo artístico ligado ao Theatro Municipal de São Paulo que em 2020 celebra 30 anos. Uma orquestra que a cada ano se renova e evolui ao incorporar novas linguagens.
Nesta trajetória, mais de 600 músicos já passaram pela Experimental e o aprendizado musical adquirido serviu de base para que muitos pudessem ingressar nas principais orquestras do país e do exterior, como Europa e Estados Unidos. Atualmente o grupo é formado por 88 instrumentistas pré-profissionais, mais 17 músicos profissionais que trabalham como orientadores de naipe.
O Experimental incorporado ao nome faz jus à proposta artística da Orquestra que já nasce com o intuito de pôr à prova os seus integrantes a um novo jeito de fazer música, executando diferentes repertórios e estabelecendo pontes com outras manifestações artísticas. A escolha pelo nome passa por três pilares: primeiro, por ser um estágio da formação, o músico está experimentando com o seu talento; depois, o repertório vai além do clássico europeu e apresenta músicas contemporâneas de diversas nacionalidades e, por último, a orquestra está sempre aberta ao acolhimento e fusão de novas técnicas e tecnologias.
Para celebrar o aniversário de 30 anos, a Temporada deste ano da OER foi toda planejada com programas bem diversos e repleta de convidados. A começar pelo concerto que seria o de abertura, em março, que reproduziria a primeira apresentação da Experimental de Repertório, em 1990, com o Concerto para Piano de George Gershwin e a Sinfonia nº. 9 “Do Novo Mundo”, do compositor Antonin Dvorak. Até que a pandemia causada pelo novo coronavírus suspendesse toda a programação do Theatro Municipal de São Paulo – agora oficialmente cancelada até o fim do ano.
E para a data não passar em branco, a Experimental de Repertório como é carinhosamente conhecida pelo público e a crítica, ganha um documentário que traz boas histórias, trechos dos espetáculos mais emblemáticos e uma gravação inédita. O audiovisual de 20 minutos de duração revela como a OER prepara a sua programação, que é muito original e peculiar. As Temporadas são pensadas e divididas em séries de concerto, compostas por programas temáticos que possibilitam aprofundar-se em cada um destes repertórios.
Para o maestro Jamil Maluf, o documentário “é o testemunho da vida de uma orquestra. De como esse conjunto musical, que busca a renovação, vive dentro de sua casa, o Municipal”, destaca. O vídeo começa com imagens da fachada externa do Theatro Municipal e o maestro explicando a origem do grupo e a peculiaridade de trazer o Experimental para o nome, em uma época em que as orquestras carregavam a chancela de sinfônica ou filarmônica, apenas.
Na sequência chega o músico, compositor e ator Arrigo Barnabé contando a sua relação com o grupo. Ele que foi o primeiro artista da música popular brasileira convidado a dividir o palco com, à época, a Orquestra Sinfônica Jovem Municipal. O concerto, datado de 1983, traz uma versão sinfônica de Clara Crocodilo, música autoral de Arrigo e presente no álbum homônimo lançado por ele três anos antes. E é a partir deste encontro que o maestro Jamil Maluf, diretor artístico e regente titular do grupo, resolve criar a série Outros Sons e logo depois fundar a Orquestra Experimental de Repertório, onde está até hoje na regência titular.
Com direção dos cineastas Otavio Juliano e Luciana Ferraz, o documentário também traz depoimentos do pianista e compositor André Mehmari, do guitarrista Andreas Kisser da banda de heavy metal Sepultura que relembra um concerto na Virada Cultural e da soprano Claudia Riccitelli, que guarda com carinho na memória o concerto cênico que encenou com a OER interpretando Shéhérazade, de Ravel.
Os diretores lembram o desafio que foi produzir o documentário em tempos de isolamento social e as soluções criativas encontradas diante da impossibilidade de filmar um concerto da OER. “Utilizamos muito material de arquivo e isso foi muito positivo, pois pudemos perceber o quão diverso é a Orquestra Experimental de Repertório e conhecer mais a fundo o importante trabalho de preparação musical que é feito com estes jovens”, observa Otaviano. “Destaco também a importância que a Orquestra tem para a cidade de São Paulo com os concertos matinais e o diálogo com outros públicos”, complementa Luciana.
A edição ainda conta com trechos de ópera como La Bohème, de Giacomo Puccini e a infantil João e Maria, do compositor alemão Engelbert Humperdinck, com interpretação da OER, e depoimentos do diretor de ópera e de musicais Jorge Takla e do autor e roteirista Flavio de Souza, das séries para a TV Mundo da Lua e Castelo Rá-Tim-Bum .
De material inédito, tem a Orquestra interpretando a ópera Fosca, de Carlos Gomes, em gravação realizada neste período de distanciamento social com o maestro e os músicos em suas casas. Integrantes da formação atual contam suas histórias, experiências e perspectivas profissionais para o futuro.
+ Municipal Online
Enquanto o Theatro Municipal de São Paulo segue fechado por determinação da prefeitura para evitar a propagação do novo coronavírus, o território digital é o novo palco. Quem acessa as redes sociais do Theatro pode conferir apresentações de performances de câmara, a íntegra de espetáculos apresentados no palco do Municipal e ainda aproveitar os cursos livres, as gravações solo em versões reduzidas para piano e acompanhar as lives com profissionais do Theatro. Tudo isso com acesso gratuito e irrestrito nas páginas do Theatro no Instagram, Facebook ou YouTube.
No canal de vídeos, em especial, o espectador pode assistir às óperas Rigoletto, O Barbeiro de Sevilha, O Cavaleiro da Rosa e A Viúva Alegre, ver ou rever os espetáculos do Balé da Cidade e curtir dezenas de concertos sinfônicos como a série Beethoven Total, com a Orquestra Sinfônica Municipal interpretando as nove sinfonias do compositor alemão.
E o último episódio do Podcast Theatro Municipal está no ar: a vida do compositor Carlos Gomes. Muito reconhecido por sua ópera “O Guarani”, tema do episódio anterior, contudo sua vida e obra vão muito além disso. A apresentadora Ligiana Costa conta detalhes desta história. Participam da conversa, a diretora e dramaturga Maria Adelaide Amaral, que prepara uma novela sobre a vida do compositor, com direção musical do segundo convidado do podcast, o maestro Júlio Medaglia. João Luiz Sampaio, jornalista que acaba de encerrar uma biografia sobre Gomes, ainda não lançada, completa a lista.
Serviço
Documentário Orquestra Experimental de Repertório 30 anos
Lançamento: 30 de setembro, 18h
Disponível no YouTube do Theatro Municipal de São Paulo
Direção: Otavio Juliano e Luciana Ferraz
Duração: 20 minutos
Para conferir o trailer clique aqui
+ Theatro Municipal de São Paulo: theatromunicipal.org.br / youtube.com/theatromunicipalsp