Durante a última e intensa estação seca que castigou o Brasil, muitos pecuaristas lamentaram o fato de não terem feito estoque suficiente de silagem para o gado. Com isso, muitos animais não atingiram estágio de conformação de carcaça na recria para dar entrada na terminação confinada ou semiconfinada. O resultado foi uma oferta extremamente restrita de animais justamente em um momento de preços generosos.
Mas parece que o aprendizado foi válido. Por todo o país muitas propriedades se preparam para investir no plantio de alternativas ao milho (cujo preço do grão – R$ 78/saca em Castro, PR em 03 de novembro – não justifica seu cultivo para uso em cocho de recria) como forma de produção de comida boa, eficiente e barata para fornecer aos animais ao longo dos meses de estiagem (de março a setembro, em boa parte do País).
“Muitas fazendas em Mato Grosso do Sul, Goiás, Pará e em vários estados do Nordeste estão investindo em volumoso de baixo custo e de alta produtividade a base da capim mombaça, capim capiaçu, sorgo gigante boliviano ou mesmo com a cana, apesar de sua maior dificuldade em digestibilidade”, avisa o técnico Luis Caires, (Caires Consultoria, de Goiânia, GO), especialista em integração lavoura-pecuária (ILP) e recuperação de pastagem. Ele mostrou esta tendência e números durante painel apresentado no final de outubro em Maceió, AL, durante o Encontro da Pecuária de Corte do Nordeste (Encorte 2020).
Caires defende uma estratégia de seca que garanta custos menores e ganho de peso suficiente para que o animal fique o menor tempo na fazenda. “É possível trabalhar com volumoso mais barato e obter um ganho de 1 kg/animal/dia, que não é tão alto quanto o milho pode dar (até superior a 1,5 kg/dia) garantindo desempenho na seca e fluxo para a terminação”, observa.
Ele cita como exemplo a Fazenda Lageado, em Goiás que já trabalhou neste sentido este ano: “Na recria ao longo da seca, a propriedade manteve média de 15 garrotes de 11 a 12 arrobas por hectare, obtendo ganho médio diário (GMD) de 1 kg/animal/dia fornecendo 20 kg/animal/dia de sorgo, cujo custo de produção pode variar de R$ 0,03 a R$ 0,04/kg”.
Outro exemplo vem do Nordeste, região onde a seca sempre foi um limitador para a pecuária. “Agora não é mais. Veja só o que fez, por exemplo, a Fazenda Timbaúba, em Quixadá, no Ceará. Muito conhecida na região pela produção de genética – vende touros – manteve nos meses secos todas as categorias (machos e fêmeas PO) a base de silagem de sorgo gigante boliviano no cocho a uma média de 20 kg/animal/dia e que lhe custou R$ 38/tonelada, representando um custo de R$ 24/animal/mês, obtendo um GMD de 1,65 kg/animal/dia. Considerando a suplementação mineral, a fazenda não desembolsou mais do que R$ 1,50/animal/dia em nutrição em pleno período de pasto zero”.
Caires acredita que esta tendência de alimentar a recria no cocho durante a seca se acentue nos próximos ciclos produtivos da pecuária. Ele avisa, entretanto, que este modelo necessita de planejamento: “Com a valorização do bovino de corte é preciso produzir mais rápido e diminuir custos para atender a demanda e garantir um bom retorno financeiro. Isso é feito disponibilizando volumoso barato, de alta qualidade e em boa quantidade. O restante fica por conta da suplementação mineral, que vai depender da estratégia traçada pelo produtor.”
A adoção desta alternativa pode ser mensurada pela demanda por plantio do sorgo gigante boliviano, híbrido (Agri 002E) que chegou ao Brasil em 2017, fruto de 10 anos de melhoramento genético trabalhado em Santa Cruz de La Sierra pela multinacional sul-americana Agricomseeds. Considerando apenas o Nordeste, a área plantada saiu de 2.500 ha na safra 2018/2019 para 9.000 ha no ciclo 2019/2020. A projeção da Latina Sementes, empresa que representa a genética Agricomseeds no Brasil, para 2020/2021 é de que o sorgo gigante passe a ocupar área de 40.000 hectares nos estados nordestinos.