Proclamação da República: A história além dos livros

Não houve guerra, nem houve mortes. Terminava há 131 anos o império. Após diversas outras tentativas, finalmente a república era instaurada no Brasil. Mas, a história deste momento marcante da história do Brasil vai muito além do que está registrado nos livros, como apresenta professor Ueldison Alves de Azevedo.

Prof. Ueldison Alves de Azevedo – Foto: Divulgação / MF Press Global

Sexta-feira, 15 de novembro de 1889. O dia que transformou a história do Brasil. Liderados pelo Marechal Deodoro da Fonseca, um grupo de militares destituiu o imperador Dom Pedro II e assumiu o poder do país. Naquele instante, na Praça da Aclamação (hoje chamada de Praça da República), no Rio de Janeiro, era decretado o fim do império e se iniciava ali o período republicano que vigora até os diais atuais.

Terminava ali a monarquia, que regeu o Brasil desde a independência, declarada 77 anos antes daquele momento. Para os republicados, uma comunicação forçosa, para os monarquistas, a triste inserção do Brasil no quadro latino-americano, caracterizado pelo protagonismo dos militares. Conforme relata o professor de História, Ueldison Alves de Azevedo, “a legalidade da República versou principalmente na ideia prolixa de que; a mesma seria mensageira de progresso e de civilizações associadas à modernidade, cujo sabemos que não foi”.

Portanto, a atual historiografia da Primeira República colaborava com essa afirmação, sobretudo, explica, o professor Ueldison, “a modernidade brasileira, em sua versão belle époque, tornou-se assunto palpitante entre as elites intelectuais, políticas, militares e eclesiásticas, definindo a pauta de realizações de todas as fundamentais instâncias do Brasil, que se refazia na era dos nacionalismos”. Como a República foi aclamada, esses ideais de desenvolvimento, desejos de modernidade e concepções de civilidade já faziam parte dos concordatas das elites brasileiras, em benefício, substancialmente, da afeição e paixão do segundo imperador do Brasil às ciências e às letras, explica o acadêmico: “De fato, Pedro II realmente foi a pessoa responsável pela introdução dos manuais de boas maneiras na Corte, pela devotada participação brasileira em exposições e feiras científicas, e pela criação, ‘em nome da ciência’.  Deve-se levar em consideração que; a imagem pública de homem das letras e das ciências construída por Pedro II não rescindiu, contudo, o fato de o Brasil ser ainda uma monarquia escravocrata em pleno final do século XIX”.

Devido a isto, os adversários do Império destacaram que essa condição brasileira era uma forma primitiva. Nos anos 1870 o trabalho de associação entre República e progresso para afligir as bases ideológicas do regime monárquico personificadas em Pedro II. Nos anos 1880, Ueldison detalha que com o movimento republicano “é que se tornou evidente em seus esforços na divulgação de suas ideias em meio à popular campanha abolicionista”

Participação ativa dos militares

A Proclamação da República não foi uma sina histórica e não se limitou à superficialidade de um putsch mas, sim, uma permanência do regime militarista no Brasil, explica Ueldison: “Por sua vez, a imagem do ‘povo bestializado’ diante a Proclamação da República cujo foi descrevida pôr o autor Aristides Lobo, que cuja tomara a Bastilha, o mesmo não instituiu interpretação definitiva sobre a participação social dos populares, do modo do novo regime ou mesmo dos alcances e das repercussões sociopolíticas da período republicano, como forma principal um golpe de Estado dos militares, ela foi uma resposta autoritária e elitista agitações sociopolíticas de um período marcado por transformações no ritmo da vida e por utopias de progresso que só pareciam se realizar com o fim da monarquia”.

Mesmo com participação ostensiva dos militares, Ueldison Azevedo lembra que não houve conflito para mudar a forma de governo: “A modificação do regime monárquico para o republicano adveio sem maiores contratempos e dificuldades. Da noite para o dia, a Monarquia tinha sido abatida e a família real havia sido estilhaçada, pois foram mandadas para o exílio, e é certo que um acontecimento dessa magnitude seria exaustivamente recusado pela imprensa da época”.

A falta de participação popular e a notícia chega ao povo

O povo não participou da proclamação. Excluído dos debates e do “golpe republicano”, Ueldison lembra que a população em geral “não via na República possibilidades efetivas de um aumento da participação popular”. Além disso, ele destaca que “a instauração da República só foi possível devido a mudanças estruturais de ordem econômica e social que enfraqueceram as bases do regime monárquico e levaram parte da população a se converterem às ideias republicanas ou serem indiferentes a elas. A mudança de um sistema para o outro também implica na reorganização não só política como também social”.

A partir daí, tudo mudou: “Foi necessária a montagem de uma nova memória nacional, novos símbolos de coesão, formas de legitimar o novo regime, apesar do modo como se deu, que foi um golpe por parte dos militares. E na construção desse imaginário social e na divulgação da nova ordem a imprensa tem seu papel”, completa Ueldison Azevedo.

Naquela tarde de sexta-feira, a república dos Estados Unidos do Brasil foi solenemente proclamada na Câmara Municipal do Rio de Janeiro. O texto com a proclamação oficial foi enviado para as gráficas que apoiavam a causa e, no dia seguinte, foi anunciado ao povo a mudança do regime político do Brasil. E lá se vão 131 anos desde então.

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