Segundo um estudo publicado pela revista Pediatrics de 2015, 50% das mães afirmam que pelo menos um de seus filhos come mal. O processo de seletividade alimentar varia de acordo com a idade, em um padrão previsível. Camila Alves, nutricionista e conselheira do Conselho Regional de Nutricionistas da 3ª Região SP-MS (CRN-3), fala sobre o assunto e traz algumas instruções de como lidar com essa situação.
Segundo Alves, geralmente a seletividade com os alimentos aparece nos três primeiros anos de vida, mas pode surgir em outras idades, e por motivos diferentes. “A partir de um ano de idade, algumas crianças começam a ser seletivas, implicando ou recusando determinados alimentos. Isso pode ser uma seletividade natural devido ao seu desenvolvimento neurológico, mas também pode ser algum problema orgânico e por isso a importância de procurar ajuda de um profissional nutricionista com especialização em pediatria”, explica a nutricionista.
Para a especialista, o primeiro passo para melhorar este cenário é mudar a abordagem. Por exemplo, repetir a frase “Meu filho não come nada” acabará passando essa mensagem para ele. Desse modo, se faz necessário uma linguagem com mais empatia, sem pressão e sem castigos. “Caso a criança não queira comer uma das refeições principais, respeite, e evite dar outras coisas para compensar. Substitua a pressão para comer por estratégias lúdicas que incentivem os filhos a participarem da alimentação com você”, sugere.
“Como segundo passo, faça a seguinte reflexão toda vez que achar que seu filho não comeu nada: ele não comeu nada ou não comeu a quantidade que você acha ser a ideal/suficiente?. E Por fim, mantenha a calma e pratique o desapego em situações estressantes: quanto mais relaxadas, porém firmes, forem suas orientações na hora da refeição, mais sucesso você vai ter!”, complementa a nutricionista.
Dicas fundamentais
– É importante não ceder na ansiedade de alimentar.
– Evite trocar as refeições não aceitas por substituições inapropriadas como mamadeira, biscoitos, etc, com o objetivo de “pelo menos” comeu alguma coisa. Caso vire rotina, será muito difícil retomar as rédeas da situação no futuro.
– Regule os intervalos entre as refeições e evite beliscar para não comerá bem e não aceitar um alimento novo na refeição.
Seletividade após 1 ano
De acordo com Alves, após o primeiro ano de vida, há uma desaceleração normal do crescimento e, consequentemente, uma diminuição do apetite e uma menor ingestão de comida. “A preocupação parental aumenta e leva à utilização de práticas contraproducentes, através da criação de conflitos e práticas persuasivas, ou mesmo coercivas, que tendem a produzir um efeito contrário ao desejado”, comenta.
Uma introdução adequada de novos alimentos no primeiro ano de vida, juntamente com uma oferta de alimentos variados e saudáveis, em um ambiente alimentar agradável, pode permitir à criança iniciar a aquisição dos hábitos alimentares positivos que vão determinar o seu comportamento alimentar futuro.
“Para ficar mais tranquila, garanta que a criança esteja comendo todos os grupos alimentares, mesmo que pouco ao longo do dia. Capriche na qualidade dos alimentos oferecidos, em vez da quantidade”, pontua a nutricionista. “Monte pratos divertidos, varie na forma de apresentação, coma junto e faça brincadeiras lúdicas com os alimentos fora da mesa da refeição, sem a intenção de comer, somente para que a criança possa se familiarizar e criar uma intimidade com os alimentos não aceitos“, complementa.
Seletividade após 2 anos
Nesta fase, é esperado que as crianças fiquem mais seletivas devido sua maturação neurológica e afirmação da sua autonomia. Desse modo, para Alves, é importante escutar a criança, pois quando ela percebe que sua opinião está sendo considerada, recebe melhor as sugestões.
“Torne o momento prazeroso! Tire a pressão e não encha a hora da refeição de regras. A criança é responsável pela escolha e quantidade dos alimentos e aos pais cabe oferecer alimentos de qualidade. Nada de petiscos fora de hora! Regule os intervalos entre as refeições“, aconselha e finaliza Camila Alves, conselheira do CRN-3.