A crise sanitária que envolve a nossa sociedade, afetando todos os aspectos da vida da população brasileira, constitui-se, sem dúvida, no maior desafio enfrentado por nossa geração. Os alertas quando do princípio da pandemia no Brasil, trazidos pela Ciência e por autoridades sanitárias nacionais e internacionais, não foram injustificados. Se pode dizer, sem prejuízo da verdade, que os cenários mais sombrios se confirmaram.
Cá estamos nós, brasileiros, passado um ano da primeira morte de Covid-19 no País, vivendo o pesadelo do que parece ser o pior momento – ainda que não tenhamos garantias de que, de fato, estamos no ponto mais alto de contaminações e óbitos decorrentes do novo coronavírus. O que vimos até agora, porém, basta para identificar os riscos iminentes de um morticínio. O esgarçamento do sistema de saúde, com a exaustão dos profissionais, a limitação da oferta de leitos e a escassez de medicamentos, deixa claro que o Brasil não terá condição de acolher seus doentes por colapso no atendimento. O momento nos cobra sintonia de parte das autoridades. A soma de forças e o desenvolvimento de estratégias conjuntas e afinadas são o único caminho para evitarmos a calamidade.
Nós, do Sistema CFQ/CRQs, estrutura que congrega o Conselho Federal de Química (CFQ) e 21 Conselhos Regionais de Química (CRQs), viemos a público neste momento crucial da vida brasileira fazer um apelo em nome da Ciência. Só a atenção às regras já estabelecidas e conhecidas de proteção contra a propagação do vírus – como o distanciamento social, o uso de máscaras, a higiene adequada das mãos e objetos – pode evitar um agravamento ainda mais profundo dos índices de contaminação.
De outra monta, a partir da mobilização de pesquisadores de muitas áreas do conhecimento (entre elas, a Química) no desenvolvimento de vacinas, se chegou aos imunizantes que carregam em si a esperança da Humanidade. Para que não se frustrem as expectativas, é preciso que o País receba de seus líderes uma mensagem potente e clara de que as vacinas são seguras e eficazes. Não é o momento para tergiversações, muito menos para a imposição de dúvidas sobre o que é comprovado pela Ciência dentro do devido método e, portanto, seguro para a população. Para que tenhamos sucesso, será preciso mais do que nunca espírito coletivo. Aos brasileiros, caberá, ordeiramente, esperar o seu momento de receber a imunização. Às autoridades, será prioritário prover, com a maior rapidez possível e o sentido de urgência desejável, os pontos de inoculação de vacinas com o imunizante para a população.
Enquanto a taxa da população vacinada não chegar a um índice seguro para a plena retomada da vida, parece evidente que o respeito às limitações sugeridas pelas autoridades científicas e sanitárias é o caminho a seguir: restrição às atividades, com mitigação de prejuízos sempre que possível, é imperativo nesta quadra da nossa História.
Entendemos e nos sensibilizamos diante do revés que as restrições oferecem à economia. A Química, bem como o conjunto da sociedade, está sendo gravemente prejudicada pela interrupção das atividades comerciais. Contudo, vemos na vida humana o sentido primordial e o bem maior a ser protegido. Já dizia o antigo adágio popular que para tudo nesta vida há solução – à exceção da morte.
Assim sendo, ao povo brasileiro o Sistema CFQ/CRQs recomenda coragem, resiliência e capacidade de superação. Os profissionais da Química estão à disposição do Brasil para se somarem aos esforços pela retomada da normalidade e preservação de vidas humanas. Viemos contribuindo neste último ano com orientações e informações confiáveis (para tanto, estamos lançando uma nova cartilha, chamada “O que aprendemos com a pandemia”, um compilado de dicas úteis no enfrentamento à Covid-19). Seguiremos contribuindo, seja na pesquisa de novos produtos que possam mitigar os efeitos da pandemia, seja no desenvolvimento de saneantes e artigos de higiene que tenham eficácia reconhecida no combate ao vírus.
A Covid-19 é um desafio monumental. Mas nenhuma barreira é tão grande quando há determinação de um povo em suplantá-la. Estamos com o Brasil nessa luta e temos a certeza de que sairemos vencedores ao final.
Brasília, 19 de março de 2021
José de Ribamar Oliveira Filho
Presidente do Conselho Federal de Química
