Campo Grande (MS) – Alunos do 9º ano C e B da Escola Estadual Bonifácio Camargo, de Bonito, tiveram hoje uma experiência diferente fora da sala de aula: com a ajuda dos professores Elton Teixeira da Silva e Marineize Pleutim, eles conseguiram se deslocar para Campo Grande para ter aulas em diferentes ambientes, em visita à Fundação de Cultura.
Os alunos venderam rifas durante um mês para conseguir arrecadar os R$ 1.500,00 (mil e quinhentos reais) necessários para alugar a van que os transportou para a Capital. A ideia foi do professor Elton, que explica: “Eu estava aplicando as aulas sobre História de Mato Grosso do Sul e percebi que em Bonito tinha muito pouca bibliografia. Entrei no site da Fundação de Cultura e vi que tinha várias coisas, o MIS, o Arquivo Público. Daí fomos montando o projeto e convidamos a Lenilde [Ramos] e a [professora de história] Alisolete [Weingartner] com o objetivo de mostrar de maneira diferente, dinâmica, que encantasse e mostrasse um novo olhar sobre a história de MS”.
O dia começou com a apresentação da artista Lenilde Ramos, que executou o Hino de Mato Grosso do Sul ao acordeon com o acompanhamento da voz dos alunos, no auditório do Museu da Imagem e do Som (MIS). Logo depois ela tocou e cantou música de sua autoria “Águas de Mato Grosso do Sul” e a música que fez em homenagem a Bonito, que leva o nome da cidade. A pedido da professora Alisolete, finalizou com “Chalana”.
“Estou muito feliz em estar aqui. Conheci o professor Elton em Bonito e combinamos de fazer algo juntos. Já fui professora, fui colega da Alisolete na mesma escola. Sempre fui envolvida com história, adoro história, é a minha paixão. Comecei contando a história dos outros e depois decidi escrever a minha história. Já trabalhei no Hotel Zagaia, eu tocava lá. Minha vida é fazer música e escrever”, disse Lenilde ao auditório repleto de estudantes.
Depois da apresentação musical, a professora Alisolete Weingartner iniciou a palestra “Mato Grosso do Sul: a construção de um Estado”, focada na história da divisão do Estado. Ela apresentou três conceitos de história, falou sobre a Guerra da Tríplice Aliança (1864-1879) e sobre o que levou à ideia divisionista: “A heterogeneidade cultural sul-mato-grossense e outros fatores socioeconômicos e políticos marcaram a construção do ideal divisionista que permeou a formação histórica recente dessa região”. Depois falou sobre as quatro fases do movimento divisionista.
“Sou apaixonada, bairrista, nascida e criada em Campo Grande. E sou divisionista”. Após doar três livros de sua autoria para a biblioteca da escola, a professora falou sobre a experiência da palestra no MIS. “Eu só tenho a elogiar essa iniciativa, considerando a oportunidade de proporcionar ao estudante enxergar a história de outro jeito, e também a história dele mesmo como partícipe de um Brasil melhor”.
A aluna Cláudia Ribeiro gostou da palestra. “Bem legal, nunca tivemos oportunidade de ter uma palestrante tão importante. Eu não sabia muita coisa sobre a divisão do Estado. Fiz uma apresentação sobre esse tema lá em Bonito, um trabalho em slide. Com a palestra esclareci muitas coisas, perguntei muito para ela. Sou bem crítica, pois quero fazer jornalismo. Pretendo aprofundar mais o estudo sobre o assunto”.
Após a palestra, os alunos conheceram o Arquivo Público Estadual. A coordenadora do Arquivo, Áurea Coeli, disse que a divulgação dessa documentação, do acervo histórico, que é tão rico, tem por objetivo fazer com que os alunos conheçam o que é o arquivo público. “Nosso objetivo é salvaguardar a memória histórica de Mato Grosso do Sul pela gestão de documentos produzidos pela administração direta, fundações e autarquias do poder público estadual. Além disso, temos o acervo documental e fotos da Cia Matte Laranjeira e da Companhia Agrícola Nacional de Dourados (Cand), que surgiu logo após o fim da Cia Matte Laranjeira”.
Áurea diz ainda que é importante os alunos conhecerem essa história que mostra o desenvolvimento social, econômico e cultural do nosso Estado. “Temos uma biblioteca de livros regionais somente para pesquisa e consulta local e o acervo de Diários Oficiais publicados antes da divisão, de 1949 a 1979”.
O estudante Kevny Flores achou interessante a forma como os funcionários cuidam dos arquivos, “porque quando trazem os documentos para cá eles não estão conservados. Acho que muitos arquivos são perdidos. A gente tem aqui o registro do nosso passado para podermos pesquisar. Isso aqui é muito valorizado para quem gosta de pesquisa, como os historiadores”.
Em seguida os alunos visitaram a exposição “Cia Matte Laranjeira: fragmentos da história de MS”, que foi montada especialmente para eles, mas que estará aberta à visitação do público em horário comercial por cerca de 15 dias no hall de entrada do Memorial da Cultura.
A empresa Cia Matte Laranjeira foi responsável por um grande impulso na economia e desenvolvimento da região sul de Mato Grosso. A exposição reúne fotografias e textos que mostram detalhes das fases de produção, mão-de-obra, constituída por trabalhadores paraguaios; o transporte da erva até os portos, além do desenvolvimento local e as diferenças sociais.
Depois da visita à exposição, os alunos participam de uma preleção sobre povos indígenas no Parque das Nações Indígenas, onde está a escultura do índio guaicuru. A preleção será feita pelo professor Elton Teixeira da Silva.
À tarde os alunos vão visitar a Biblioteca Isaias Paim e o Museu de Arqueologia (Muarq). Depois vão até o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) e logo após serão recebidos pela Banda do Comando Militar do Oeste (CMO), que vai tocar na Estação Ferroviária.
Acompanhou toda a visita o professor de história e técnico pedagógico da Secretaria de Estado de Educação (SED), Ademir Adorno. Ele explicou que toda escola quando deseja sair da sala de aula deve pedir autorização para a SED. “Eles nos mostraram o projeto, nós autorizamos e estamos acompanhando”.
À tarde, o Memorial da Cultura recebe alunos do 7º ano da Escola Honorato Jacques – Funlec, também de Bonito, que souberam da ideia do professor Elton e resolveram aproveitar a oportunidade para fazer a visita.