A pandemia de Covid-19 trouxe muitas mudanças para a vida das pessoas. Uma dessas mudanças, foi o impacto de confinamento e outra, a redução drástica no contato e interação humana. Consequentemente, os efeitos psicológicos surgem e o psicólogo Dr. Denival H. Couto respondeu algumas perguntas sobre o tema e colaborou com seus conhecimentos sobre o assunto.
Qual é o sentimento geral da população brasileira neste momento, na sua opinião?
“Como em todo o mundo, o vírus Sars-Covid-2 teve um impacto muito grande no Brasil. As pessoas ficaram muito mais inseguras, principalmente com o noticiário sensacionalista que procurou mostrar para as pessoas a quantidade de mortos e infectados diuturnamente pelo vírus. Como dizemos na psicologia, o medo da finitude veio à tona e, de forma contundente, lembrou a todos que estamos sujeitos a morrer.
Porém, o medo de perder familiares foi, aqui no Brasil, o que mais afetou o sentimento das pessoas e foi o que trouxe maior pavor à população, principalmente para aquelas que têm parentes com morbidades facilitadoras do avanço do Coronavírus que podem levar mais facilmente ao óbito”.
Como a crise econômica, gerada pela pandemia, pode afetar a autoestima das pessoas mais jovens?
“O baixo consumo gerado pelo desemprego e pela inatividade dos informais, que são muitos no Brasil (estimado em 40.000.000 de pessoas), causou muito dano ao jovem. Ao desempregado falta dinheiro, falta autoconfiança e há uma séria deterioração da sua autoimagem. Com a diminuição da positividade da auto imagem, o passo seguinte é a baixa da autoestima. Lembrando que em qualquer crise econômica os primeiros demitidos são os mais jovens que ainda estão iniciando seu trabalho e, portanto, com o seu desligamento facilitado financeiramente”.
Você acha que as pessoas se acostumaram a conviver com a tristeza por causa da covid-19?
“O ser humano é o ser mais versátil e adaptável que existe na terra. Portanto, não foi difícil para eles se adaptarem à vida triste e sem perspectiva dos últimos 18 meses. Porém, não foi sem um alto custo para a saúde mental e física dos indivíduos. Principalmente entre os jovens, estes viram suas expectativas sociais e profissionais se esvair por entre os dedos. Entre eles, tivemos um grande aumento da ansiedade em suas mais diversas formas! A depressão e a angústia, também aumentaram consideravelmente”.
Você notou alguma mudança importante nas suas consultas no último ano e meio?
“Ao longo de muitos e muitos anos de trabalho, me especializei no atendimento de executivos e casais. Estes lidam diariamente com um estresse muito elevado e todas as consequências que isso traz. O trabalho com esse grupo sempre girou em torno de uma terapia de apoio, ou seja, no ouvir suas queixas e culpas e dar alternativas menos traumáticas para que eles as resolvam. Hoje, porém, há muita angústia e medo entre eles.
A ansiedade e a síndrome do pânico aumentaram muito… Também atendo alguns jovens com o chamado preço social (um quarto do preço de consultas normais), nesta camada, a procura aumentou e tenho filas de espera longas. A depressão e a ansiedade, aumentou muito chegando a números alarmantes. Os medos do convívio pessoal, a falta de relacionamentos e a insegurança cotidiana estão causando estragos sérios na juventude”.
Que impacto o excesso de informação que temos hoje gera na população?
“É certo que qualquer excesso não é o ideal. O equilíbrio é sempre o melhor que se pode ter. Porém, tirando o fato de ficar horas e horas em frente a “telas”, grandes ou pequenas, a informação pela informação não seria muito prejudicial. Entretanto, os meios de comunicação e, principalmente as redes sociais, vem tendo uma grande participação na radicalização de grupos – sociais, raciais, sexuais e políticos. Trata-se do exagerado “viés de confirmação” que elas utilizam para manterem as pessoas sempre ligadas naquilo que confirma suas expectativas e preferências.
No YouTube, se assistimos a um vídeo sobre um assunto, a partir dali ele nos oferece uma tempestade de vídeos do mesmo tipo. As redes sociais dirigem nosso comportamento e nos fazem radicalizar nossas preferências. O mais cruel dessa prática é que ela dissemina o ódio, a segregação e elimina a troca de ideias entre opostos”.
O doctoranytime enfatiza a necessidade de acompanhamento profissional para qualquer alteração de atos e de personalidade no indivíduo.