A cada moda eu viro um gole, eu viro um gole A cada moda, e o peito chora É que o meu coração tá igual esse som Batendo o grave de saudade A porta dela que me aguarde
“Porta” Compositores: Leo Targino, Henrique Tranqueiro, Moura, Tunico
Já era pra eu ter contado essa história há algum tempo. Mas Deus onisciente e onipresente é quem tece a rede da vida. Encontrei com eles, recentemente na cidade de Anastácio, compreendida pela margem esquerda do Aquidauana, acima da foz do Rio Taquarussu e próximo ao Morro Azul, onde imponente está o Porto Canuto, marco final da Retirada da Laguna, seguindo abaixo desse porto e acima da extinta cidade Santiago de Xerez, que surgiu o primeiro povoado aquidauanense/anastaciano, onde aportou, entre outros migrantes, aquele que mais tarde emprestaria seu nome ao município: o comerciante italiano Vicente Anastácio Ele se instalara inicialmente em Nioaque, onde foi vice-presidente municipal, mas logo adquiriu a grande fazenda Santa Maria, propriedade que abarcava boa parte da atual cidade de Anastácio, cujo núcleo urbano se iniciara com terras doadas pelo Coronel Estêvão Alves Correa. Foi assim resumidamente o início de Anastácio. Um começo ítalo-nordestino. E por este mesmo caminho, principia a história de hoje.
Seu pai veio pequeno de Pernambuco com a avó, pois eles ganharam a passagem do Prefeito. Se instalou primeiro em Anastácio, e em seguida foi para Camisão. Cresceu e começou a vender mandioca na cidade, trazendo tudo de carroça, e assim sustentou a família sendo pipoqueiro, por mais de 35 anos. Nasceram então Aldelino e Aldemirson Gama de Arruda, mais conhecidos pelo nome nos palcos – Lino & Nando. Filhos do pipoqueiro Albertino e da dona Gerusa, os dois trazem orgulho à família na vida, na música e na alma de criança que nunca deixam de sonhar. Vejo neles o mesmo sonho do pioneiro do gênero, que foi o jornalista e escritor Cornélio Pires. Aliás Cornélio podia ser considerado um grande mecenas pois levava para os grandes centros os costumes dos “caipiras” através de encenações teatrais e cantores de época. Por volta de 1912, ele lançou o livro “Musa Caipira” recheado de versos típicos.
Já nos anos 20 foi realizada uma semana para divulgação da arte brasileira sendo montado pela primeira vez apresentações com instrumentos tais que a viola caipira e demonstrado os ritmos da moda de viola, do Lundu e Cururu valorizando o trabalho de Cornélio Pires. Entretanto os primórdios registrados contam de 1924 (A turma caipira de Cornélio Pires) aonde participavam Caçula e Sorocabinha. Mesmo assim o primeiro registro fonográfico do sertanejo aconteceu em 1929 quando Cornélio, decidiu tirar do próprio bolso o dinheiro para a gravação e edição do primeiro álbum, que em poucos dias de lançamento esgotou-se nas lojas brasileiras. E certamente está dificuldade não é mérito apenas da música sertaneja. Na verdade, como tantas coisas na vida, sabemos que tudo tem seu preço.
E este espírito inovador e intemerato que o canto agora alça voo em seu primeiro DVD, e certamente depositou a energia intrépida de Cornélio na bagagem, e colocaram o pé na estrada! Nesse novo projeto escolheu um repertório, com um novo senso de poesia. O impulso veio em 2019 com Everton Romero, mas a pandemia mudou um pouco os planos dos meninos sonhadores. Até que em 2022 estão com a força total lançando o DVD. Logo abaixo poderão conferir a primeira moda do pocket show, com direção executiva do Everton Romero e realização da Casa Amarela Music, além da produção musical e Arranjos do: AMARELO. No DVD são dez músicas, sendo seis autorais, mas que cantam o sentimento que deu origem: a manifestação de amor, carinho e a temida saudade, sem esquecer seu real significado e valor que permanecem nas letras e melodias, que contam da simplicidade da vida no campo e as atuais com recheio de “bachata”. Por isto, Lino e Nando, não dispensam uma cantoria, perto de um braseiro e enquanto a carne com tempero pantaneiro; se bronzeia na brasa viva, fazem ecoar em suas vozes casadas, o amor que arde nas chamas da paixão.
*Articulista e Crítico Musical