A Canção Nova é o lugar da misericórdia

Padre Marcio Prado – Foto: Wesley Almeida

Misericórdia e amor são atributos de Deus, que se entrelaçam na Sagrada Escritura e na vida do homem. O Pai fez o ser humano por amor (Catecismo da Igreja Católica 1604), e podemos dizer também que Ele criou por misericórdia. Somente Deus é, somente Deus basta e se basta. Mas Deus não se “aguentava de tanto amor e misericórdia” e, por isso, nos criou. O Pai quis doar a sua misericórdia ao ser humano.

No livro do Êxodo, ao transmitir os Mandamentos do Criador, Moisés escreveu que o Senhor usa de misericórdia até a milésima geração com aqueles que o amam e guardam os seus mandamentos (Cf. 20,6). E o livro do Deuteronômio completa: “Se ouvirdes esses preceitos e os praticardes fielmente, o Senhor, teu Deus, guardará para contigo a aliança de misericórdia que jurou a teus pais, (Dt 7,12)”. O Senhor criou por misericórdia, usa de misericórdia e fez uma aliança de misericórdia com o seu povo. Tomemos posse da misericórdia, que o Senhor concede a quem guarda seus mandamentos, até mesmo ao povo pecador. Abramos a mente e o coração para Ele.

A misericórdia sustentou o povo de Deus e os grandes personagens da Sagrada Escritura: Abraão, que não podia ter filhos; Moisés e suas limitações na fala; Davi que caiu em adultério; Ester que conviveu com pagãos; Jeremias que se sentia novo demais. Enfim, o Senhor sustentou seus servos com sua misericórdia! Com a vinda de Cristo, a misericórdia do Pai ficou ainda mais clara. Jesus, o Rosto da Misericórdia do Pai, revelou ao homem o quanto Deus é bom, é amor, é clemente, compassivo e misericordioso! O Evangelho de São Lucas é considerado o Evangelho da Misericórdia. O evangelista narra o “sim” de Maria que, em seu cântico, destaca a misericórdia do Pai de “geração em geração” (Lc 1,50). Zacarias também agradece ao coração misericordioso de Deus (Lc 1,78); Jesus que sentiu compaixão da viúva de Naim (Lc 7,11-17); Jesus que contou algumas parábolas sobre esse tema (Lc 10,25-37; 15,1-32). Seus encontros com os pecadores eram marcados pela misericórdia: o cego (Lc 18,35-43), Zaqueu (Lc 19,1-10) e, claro, sua entrega obediente ao Pai, que ocorreu por misericórdia.

A misericórdia do Senhor se estendeu aos discípulos, que se tornaram apóstolos da misericórdia. E num tempo mais recente, a jovem polonesa, Helena Kowalska, sentiu o chamado para entregar sua vida a Deus. Durante um baile Jesus lhe apareceu e disse: “Até quando hei de ter paciência contigo e até quando tu Me desiludirás?” (Diário, N° 9). Ela decidiu entrar no convento da Congregação das Irmãs de Nossa Senhora da Misericórdia. No convento fez várias experiências com Jesus misericordioso, que lhe pedia para escrever essas experiências, ter um confessor e um diretor espiritual, pois ela, em certos momentos, imaginava que eram coisas de sua cabeça. Helena, que adotou o nome religioso de Faustina, enfrentou provações na saúde física, espiritual e moral, mas se manteve firme pela misericórdia do Senhor. Certa vez Jesus lhe pediu para pintar um quadro, sim, como o quadro que vemos hoje, de Jesus Misericordioso, tocando seu lado de onde saem raios de luz. O Senhor dizia à irmã Faustina que deveria levar essa devoção ao mundo. Santa Faustina não inventou essa devoção. O Pai, de fato, a inspirou e ela apenas traduziu aquilo que Deus sempre quis: que cada pessoa experimente a sua misericórdia. São João Paulo II beatificou e instituiu a Festa da Misericórdia, como havia pedido Jesus à santa. Desde então, o tema da misericórdia tem sido ainda mais propagado. Na Canção Nova, padre Jonas, em 2002, fez uma experiência com a palavra de Deus, que lhe inquietava (2Cr 7,15ss).

Acontecia em Cachoeira Paulista (SP) a primeira Festa da Misericórdia, e foi impressionante! Naquele tempo, não dispunhamos dos meios que temos hoje para uma ampla divulgação do evento, então entendemos que era Jesus mesmo que atraía as multidões para experienciar a sua misericórdia. Ao final daquele encontro, padre Jonas foi impulsionado a proclamar a Canção Nova como “casa da misericórdia”. Padre Jonas, após a primeira Festa da Misericórdia, se recolheu em retiro. E o Senhor lhe moveu a construir um templo, uma igreja dedicada à misericórdia divina: o Santuário do Pai das Misericórdias, onde peregrinos já fizeram, fazem e farão experiências com a misericórdia do Senhor. Por isso, “Canção Nova, casa da misericórdia”, não é uma frase de efeito, mas um grande desafio, um compromisso, uma aliança, um dever de expressar e de ser a misericórdia do Senhor para as pessoas. Muito mais do que a edificação do templo, é um bem espiritual.

*Padre Marcio Prado, natural de São José dos Campos (SP), é sacerdote da Comunidade Canção Nova e autor dos livros “Entender e viver o Ano da Misericórdia” e “Via-sacra do Santuário do Pai das Misericórdias”, pela editora Canção Nova. 

Instagram: @padremarciocn

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Topo