Na economia circular, inovação significa entender o que as pessoas querem e como estão dispostas a se comportar, além da viabilidade técnica e econômica das iniciativas, defende o professor e pesquisador em economia circular Daniel Guzzo, novo embaixador educacional do Movimento Circular. O desafio desse novo mercado é criar produtos e ideias sustentáveis que tenham o poder de engajar a maior parte das pessoas do planeta com a rapidez necessária.
Segundo Guzzo, para que uma economia alternativa ao modelo atual seja realmente o futuro do planeta, substituindo o modelo linear e insustentável, existe a necessidade de que as novas soluções tecnológicas se aliem a soluções comportamentais e de valores. De acordo com Guzzo, a inovação é fundamental para as novas iniciativas e novas maneiras de utilizar os recursos.
“Estamos em um ponto em que ou a escalamos os conceitos que estamos desenvolvendo, fazendo toda a jornada de inovação chegar até as grandes empresas e sair do lugar de nicho, chegando à maioria das pessoas, ou a não vamos ter rapidez suficiente para o tempo que temos para fazer a mudança”, disse o pesquisador em economia circular.
Ainda que a mudança de comportamento pareça difícil em curto e médio prazos, o professor defende que iniciativas em diferentes graus de maturidade apontam caminhos para um futuro onde majoritariamente as práticas serão circulares. Ele citou como exemplo a empresa holandesa Fairphone, que aposta em design de celulares modulares, com a possibilidade de trocar componentes quando necessário para que o dispositivo inteiro não seja substituído.
No Brasil, lembrou Guzzo, existe um aplicativo chamado Cataki, que tem a proposta de conectar pessoas que possuem materiais recicláveis com os catadores e catadoras da cidade, assegurando o descarte ecológico e fazendo a diferença na vida dos trabalhadores.
O professor disse que o setor público é um ator importante nesse processo e deu como exemplo o Projeto Ligue os Pontos, que busca fortalecer a agricultura na zona rural da cidade de São Paulo conectando produtores de forma a empoderar a produção local de alimentos.
“Inovar é essa busca constante em conseguir criar coisas iniciais, mas também fazer essas coisas se transformarem em comportamento majoritário das pessoas. Essa é uma grande dificuldade, porque a gente tem vários produtos e serviços que só vão ser viáveis economicamente se escalarem. Se ninguém investir, estamos brigando contra uma indústria que está em níveis ótimos de produtividade”, reforçou.
O professor defendeu que a transição não depende apenas das empresas, mas são “extremamente importantes” novas políticas públicas que tornem certos comportamentos menos ou mais interessantes. “Acho que esses dois mundos, o das políticas públicas e da inovação, têm que conversar e estarem cada vez mais próximos de modo que um entenda o outro. É importante a política pública entender o mundo da inovação e criar os gatilhos e linhas de fomento que o potencializam”, disse Guzzo.