Campo Grande (MS) – As apresentações no palco do Centro de Múltiplo Uso (CMU) com o furioso trio instrumental Macaco Bong (MT), a cantora e compositora trans Majur (BA), considerada a nova sensação da música brasileira, e o rapper e poeta Rincon Sapiência (SP), também conhecido como Manicongo. Os artistas de MS marcam presença com o performer Júlio Ruschel, a slammer Alê Coelho e Bro MCs, de Dourados (MS), o primeiro grupo de rap indígena do Brasil que vem se destacando no cenário nacional.
No dia 25 de agosto, no palco do CMU, é a vez de se apresentar a banda Macaco Bong, com seu rock instrumental brasileiro. Fundada pelo guitarrista, compositor e produtor Bruno Kayapy em 2004, a banda é oriunda de Cuiabá, Mato Grosso. Começou como um quarteto em 2004 e em 2005 se transformou em um power trio (guitarra, baixo e bateria).
Mondo Verbero, o mais novo trabalho do Macaco Bong, é um caso singular na extensa discografia do trio instrumental de Cuiabá/MT. Escrito, produzido e gravado totalmente com recursos remotos, trata-se de um perfeito retrato das consequências criativas geradas pelo confinamento forçado dos últimos dois anos. Também é a prova musical de que distâncias, restrições e angústias não deveriam ser empecilhos ao exercício da boa arte. Nesse caso, as dificuldades serviram como ingredientes muito estimulantes.
Trata-se do primeiro álbum de inéditas gravado pela atual formação do Macaco Bong – Bruno Kayapy (guitarra), Hygor Carvalho (baixo) e Marcus Fachinni (bateria) -, juntos como banda pela primeira vez desde 2014. “Juntos”, porém, é mero eufemismo: as trocas à distância de ideias e pedaços sonoros se desenvolveram em canções durante as sessões de ensaio exclusivamente virtuais. “Foi um álbum criado por Zoom e WhatsApp”, revela Kayapy, referindo-se à metodologia improvável em outras eras, mas perfeitamente alinhada com os tempos pandêmicos. O resultado é a obra mais climática e experimental da banda em quase duas décadas. “É um disco que desenhou para nós a importância da cultura da gambiarra”, decreta o guitarrista-fundador do Macaco Bong, rindo, mas falando sério.
Prestes a completar 20 anos de carreira, o Macaco Bong, com seu álbum “Mondo Verbero”, já vem colecionando prêmios nas principais listas de melhores álbuns nacionais do ano como a lista do TMDQA (Tenho Mais Discos Que Amigos) e pela APCA (Associação Paulista dos Críticos de Arte). Neste show a banda apostará em um repertório único com músicas do novo álbum e de todos os demais álbuns da discografia com “Amendoim”, “Summer Seeds”, “Smiles Nike Tim Sprite” além de outros clássicos.
A bela cantora Majur vai realizar seu show com músicas inéditas, chamado Ojunifé, no dia 26 de agosto, no palco do CMU. O nome vem do idioma iorubá e significa “olhos do amor”, simbolizando o amadurecimento pessoal e artístico da cantora soteropolitana e dando o tom do atual momento de sua carreira.
Ojunifé vem sendo concebido há pelo menos dois anos e reflete os aprendizados que Majur obteve durante esse período. “É a minha vida sendo aberta pro mundo, inspirando a viver. Estou muito orgulhosa e emocionada de estar rompendo tantas barreiras”. Sobre as referências musicais do novo trabalho, ela comenta: “Ojunifé é AfroPop, toques alternativos, claves de matrizes africana e indígena, em harmonia com o beat no pop, soul, R&B”.
O nome (“olhos do amor”) vem exatamente para celebrar esse momento de plenitude, em que ela consegue olhar-se com o amor que merece. É um trabalho de força e fé na Majur do presente, que tem muito a compartilhar com o mundo, a exemplo do mantra de auto aceitação que é a faixa “Flua”, a segunda da tracklist – “Se deixa viver/Passarinho voa além/Diversidade não tem refém/Eu posso ser que eu quiser ser”.
É sob essa ótica, do amor pleno por si, que Majur navega por reflexões sobre afeto, orgulho e outras vivências. Em “Aquário”, ela está alerta a um relacionamento que não faz bem, e entende que deve seguir em frente, sozinha. “Desculpa, mas, comigo não vai dar/Essa história, eu sei onde chega/Bem que eu quis acreditar/Você não quis acertar, então”.
É com um olhar carinhoso para si mesma que a cantora se percebe plena, orgulhosa da mulher que é. “E como se fosse certeza, te jurei meu amor/Se nos transpassasse mil vidas, memória vividas/Se eu pudesse escolher, te amaria de novo/E de novo, E de novo”, ela canta em “De novo”, a faixa de encerramento, na qual ela parece falar com a Majur de anos atrás, declarando seu amor incondicional por ela.
Ainda no dia 26 de agosto se apresenta no palco do CMU Julio Ruschel, 29 anos, bailarino há dez anos, professor de Arte formado pela UEMS e compositor e cantor profissionalmente há três. Está iniciando sua carreira musical como cantor pop regional. Lançou seu primeiro EP, e com seu single intitulado “Sigilo” em parceria com a artista, cantora, bailarina Miss Violência, 21 anos, outro nome da cena artística da comunidade LGBTQIA+ da cidade.
O EP intitulado “RUSCHEL” possui quatro músicas incluindo Sigilo. Floresça, Presente Saudade, parceria com a cantora local, Aline Donatto, 30 anos, que foi premiada no Festival Universitário da Canção 2021, e Curriculum Vitae são músicas autorais, e todas elas possuem o objetivo de ter uma produção visual.
Além de Sigilo, já está disponível no youtube, “Floresça”. Segunda música do EP. Enquanto Sigilo caminha para um universo mais cyberpunk, Floresça possui uma pegada mais positividade. Desde os lançamentos, tanto Sigilo, quanto Floresça estão repercutindo de forma positiva na cena local, contribuindo para uma maior valorização de outras músicas locais que fogem do bom e velho sertanejo.
Julio Ruschel é um cantor pop que entrega materiais visuais e qualidade vocal com performances que vão além do que é encontrado na música local.
No sábado (27), abrindo as apresentações, o grupo BRÔ MC’s, primeiro grupo de rap indígena do Brasil. Brô MC’s, carrega consigo a força da fala, Nhe’e, um misto de músicas tradicionais indígenas com a batida pulsante do rap, que atravessa mais uma fronteira, e traz consigo dessa vez, toda a força da cultura indígena Guarani e Kaiowá. O trabalho se materializa através de rimas e cantos na língua nativa, mas também em
Português.
O grupo Brô Mc’s é pioneiro na representatividade dos povos originários na Cultura Hip Hop, com letras marcantes, cantadas em idioma guarani e português, o Rap Indígena, é como uma flecha potente que atinge toda sociedade. Temas de grande impacto social são fontes de inspiração para o grupo, como a demarcação de terras, a resistência da cultura indígena e a esperança de um mundo mais justo. Por se tratar de um movimento (hip hop) advindo das periferias e carregado de responsabilidade transformadora, a música rap se torna a ferramenta artística para o grupo expressar a realidade da sua comunidade. Realidade essa, evitada e silenciada há séculos.
Formado por quatro jovens de etnia Guarani Kaiowá, da s aldeias Jaguapiru e Bororó, localizadas no município de Dourados – Mato Grosso do Sul, o grupo carrega a ancestralidade e a força da comunidade indígena, mostrando o cotidiano vivido por seu povo em suas músicas.
A importância de projetos educacionais para o desenvolvimento da formação do senso crítico e de agentes sociais, está diretamente ligada ao surgimento do grupo Bro Mc’s, no qual, o acesso a uma educação de qualidade, interfere diretamente na construção de uma consciência coletiva, preocupada com a transformação social. Construir uma “nova” identidade regional se torna tão necessário, quanto enriquecedor para a cultura local.
Genuinamente protagonizada por aqueles que representam a história, e resistem há tempos em uma sociedade caótica, a originalidade da arte indígena provoca e propaga um conhecimento exclusivo – raivoso, questionador, bonito, ancestral e atual, sem artifícios. De forma a promover o respeito à diversidade empiricamente ressaltando e valorizando a expressão vital indígena, universo esse, repleto de ensinamentos e práticas sucumbidas pela política colonizadora, no qual o grupo traz à tona e retoma esses espaços, poeticamente.
Somando 13 anos de trajetória, o Brô Mc’s tem na bagagem apresentações que vão desde Assembleias de Comunidades Indígenas, a programas de TV como Multishow (2020) e Xuxa (2010) e eventos de posse presidencial. Consta também parcerias com artistas nacionais, participações em longa-metragem, shows em escolas, universidades, festivais nacionais, turnê̂ na Europa, e agora, o alcance da voz e o poder da fala repercutirá no palco do maior festival de música do mundo, o Rock in Rio.
Finalizando as apresentações musicais no palco do CMU, durante o Festival de Inverno de Bonito, no dia 27 de agosto s apresenta o MC, produtor e empresário Rincon Sapiência, um artista de destaque na cena musical brasileira. Em 2017, lançou Galanga Livre, seu álbum de estreia, que entrou para a lista dos 50 melhores álbuns da música brasileira de 2017 da Associação Paulista dos Críticos de Artes (APCA) e ganhou dois troféus do Superjúri no Prêmio Multishow daquele ano. A premiação também rendeu o título de Revelação do Ano, reforçado pela sua eleição como Artista do Ano pela APCA e a escolha como melhor disco do ano pela revista Rolling Stone Brasil.
Em 2018, o artista lançou o seu próprio selo musical independente, chamado MGoma, apostando em seu reconhecimento como um dos produtores musicais mais respeitados da cena. Em novembro de 2019, Rincon lançou “Mundo Manicongo: Dramas, Danças e Afroreps”, seu tão aguardado segundo álbum de carreira, inteiramente produzido e dirigido por ele.
No seu show “Mundo Manicongo: Dramas, Danças e Afroreps” o artista viaja pelos mais diversos ritmos, norteado pela musicalidade de vertentes da música pop contemporânea africana. Com instrumentais dançantes e divertidos, uma das marcas de sua nova fase, o disco é o primeiro lançado pelo seu selo próprio, o MGoma, e disponibilizado em todas as plataformas de streaming e no YouTube.
O novo trabalho expõe a evolução de Rincon como artista e produtor musical, que assina toda a produção e direção do trabalho, no qual se desprende da veia clássica predominante no multipremiado Galanga Livre (2017), seu disco de estreia.
Em “Mundo Manicongo: Dramas, Danças e Afroreps”, Rincon bebe na fonte de estilos africanos mais variados, desde o afrobeat e o afrohouse, até o dundunba, ritmo originário da Guiné e divulgado ao redor do mundo pelo mestre djembefolá Famoudou Konatè. Abusando da psicodelia e com uma pegada menos orgânica, no disco também se destaca o diálogo com ritmos originários das periferias, como o pagodão baiano e o funk brasileiro – desde o Mandela até o 150 bpm – e indo até o grime inglês.
Permitindo-se novas experimentações musicais, o Manicongo apresenta ao público o seu mundo, circundado por conflitos existenciais e amorosos. Mantendo a sua já conhecida leitura apurada da realidade que o cerca – ou que o liberta – o artista adota a proposta de celebração como uma constante no discurso. O esmero no uso dos graves traz ao trabalho uma sonoridade agradável e que convida a dançar.
Destaque para os timbres 808 e drops certeiros, somados a refrãos marcantes, além da onipresença, às vezes sutil e outras vezes marcante, do trap. Os arranjos se destacam pela riqueza e pela originalidade, valendo-se de instrumentos pouco convencionais no rap como o djembê, berimbau, marimba e metais.