Entre os dias 03 e 07 de junho participei do 54º Congresso da União Nacional dos Estudantes (ConUne) na cidade de Goiânia (GO), fui na condição de observador, ou seja, não-delegado. Não foi a primeira vez, eu já havia ido, nas mesmas condições, no 51º ConUne em 2009. Mas minhas observações não se alteraram muito de 2009 para cá.
Infelizmente, a UNE tão combativa em vários momentos da história do nosso país, rendeu-se aos interesses do Governo, venderam-se e abandonaram os estudantes. No final de 2007, o então presidente Lula, recebeu os líderes da UNE e prometeu apoio para a construção da nova sede da entidade. Os adestrados e fiéis companheiros mantiveram-se servindo aos interesses do governo petista e a promessa foi cumprida, Lula repassou R$ 30 milhões para a UNE em 2010, mas apesar de lançar a pedra fundamental da construção no final de 2010, o prédio que era pra ser entregue no início de 2014 ainda não está pronto e a nova data foi adiada para o início de 2016. De acordo com o jornalista Josias de Souza, da Folha de São Paulo, Lula e Dilma já repassaram R$ 57 milhões do Governo Federal para a UNE, talvez isso explique algumas coisas…
Ao longo de quase 70 anos a UNE marcou presença nos principais acontecimentos políticos, sociais e culturais do Brasil, participando ativamente da luta pelo fim da ditadura do Estado Novo, contra o regime militar, a favor das “Diretas Já” e pelo impeachment do então presidente Collor, porém na última década, a UNE mudou sua forma de agir, o leão se transformou num gato doméstico, desde 2003 a entidade age como um órgão chapa-branca, apoiando todas as iniciativas administrativas e políticas do Governo Federal, transformando-se em uma força auxiliar do Governo, além de um reduto do PCdoB, partido que tem integrantes na presidência da instituição desde 1991! Aliás a hegemonia ideológica da UNE é assustadora, mais de 90% é formada por PCdoB, PT e PSOL, ou seja, apenas extrema esquerda.
Focando apenas em 2015, o desGoverno Dilma começou o ano muito mal! Usando pronunciamento oficial para anunciar a “Pátria Educadora”, Dilma não teve brio de manter sua palavra e poucos dias depois anunciou cortes de R$ 9 bilhões na pasta, sendo o ministério mais afetado pelos cortes do Governo Federal. Dilma cortou 30% das verbas das universidades federais, diversas universidades em todo o país estão com problemas tão sérios que os terceirizados foram demitidos e água e luz estão atrasadas. Dilma também anunciou cortes no Ciências sem Fronteiras e de 60% das vagas do Pronatec, o todo-poderoso do discurso Dilma, que resolveria o problema de todos os desempregados do país (vale lembrar da economista de Fortaleza, no último debate na Globo, sem comentários). Do Fies o corte foi de quase 50% para novos contratos além de dificultar o acesso para o ProUni. E perante tudo isso o que a UNE fez? Nada!
Como uma instituição que “defende” os estudantes se cala perante tantas ações que prejudicam os estudantes? Fora os cortes, a UNE não se posicionou contra a mentira (praxe do Governo Dilma) de dizer que o problema do Fies era o sistema, quando já se sabia que não havia mais vagas e fez com que milhares de estudantes de todo o país ficassem como palhaços dias e noites inteiras em frente aos seus computadores.
Durante o 54º ConUne, a UJS (movimento do PCdoB que domina a UNE) prometeu para os 10 mil estudantes ali presentes que representavam os 7 milhões de universitários de todo o Brasil, lutar a favor da implementação dos 10% do PIB e contra as reduções na educação. E eu ficava pensativo, por quê não fizeram antes? Mas tudo bem, uma nova pessoa, Carina Vitral, assumiria a instituição e poderia fazer diferente. Foi quando Carina me supreendeu e marcou um #OcupaBrasília, diversos estudantes nem voltaram para suas casas e seguiram para Brasília. Mas chegando em Brasília qual a pauta defendida? A não redução da maioridade penal! Não vou entrar no mérito de ser favorável ou contrário à redução, mas a “nova” gestão da UNE inicia seus trabalhos com uma pauta governista, mais uma vez abandonando as reivindicações estudantis! O que podemos esperar de diferente? O que os estudantes podem esperar desse grupo pelego que segue no comando da UNE? Na minha visão, nada!
A UNE só terá salvação quando voltar a ser dos estudantes e pra isso precisamos de um sistema realmente democrático, o que é difícil, já que o sistema teria que ser alterado por quem se beneficia dele. Como bem exemplificou Reinaldo Azevedo, “o sistema de eleições da UNE é tão democrático quanto o das federações regionais de futebol e da CBF… também é um jogo de cartolas!”.
Os delegados, em sua maioria, são retirados de votações sombrias, geralmente não há uma divulgação dentro das universidades, ficando restrito ao grupo que lidera os DCEs, é uma forma de golpe, que impede os estudantes de tomarem conhecimento do processo. Muitos são apenas massa de manobra, que chegam ao Congresso por serem “de confiança”, não pensam, não questionam e só foram para beber e passear, esses entram e saem felizes, como gado, “povo marcado e povo feliz”.
Mas existem aqueles que entendem o que está acontecendo (ainda há esperança!), porém são oprimidos pelo sistema, têm medo de expor suas opiniões e de votar livremente, c ontudo, se assim decidem, são pressionados de diversas formas (ex. vai voltar à pé pra casa) pelo grupo que os levou, sofrendo censuras inaceitáveis para um movimento “democrático”. E será que alguém ainda acredita na democracia da extrema esquerda? Um dos componentes da mesa de abertura, o presidente da UEE/GO, Lucas Ribeiro Marques, defendia a democracia com uma camiseta da Coréia do Norte, coitados, não tem noção do que é democracia e do que é ditadura!
Apesar de tudo isso, continuo sendo um idealista e acredito que com uma participação mais engajada dos verdadeiros estudantes, podemos mudar essa realidade dentro da UNE. Que em 2017, novos movimentos e novas idéias possam contribuir para trazer a UNE de volta aos estudantes!
(*) Ely Silveira, 27 anos, é advogado e jornalista e pós-graduando em Gestão Pública