A cultura do grão-de-bico é uma alternativa para compor os sistemas de produção agropecuária na região centro-oeste do País. Existe potencial significativo para expansão da sua área cultivada, haja vista a demanda dos mercados interno e externo, o número de cultivares já disponíveis (nove atualmente registradas no MAPA, sendo cinco da Embrapa), a competência das instituições de pesquisa e desenvolvimento nacionais e, também, a capacidade do produtor rural brasileiro de inovar em sua atividade.
Apesar de ser ainda pouco difundido no Brasil, o cultivo de grão-de-bico já é antigo no mundo, especialmente na Ásia, que é o seu centro de origem. Dezenas de doenças já foram catalogadas nessa espécie e muitas dessas têm potencial de causar danos às plantas, com significativa redução de produtividade. Diversas doenças em grão-de-bico também já foram relatadas no Brasil. Não se trata, portanto, de uma espécie “rústica” e naturalmente resistente a doenças. Pelo contrário! Por isso, os cuidados para evitar doenças (cuidados com os quais já estamos acostumados na produção de soja, milho, trigo, algodão, feijão etc.) devem ser observados também em lavouras de grão-de-bico.
Neste artigo, queremos chamar a atenção para uma importante doença que acomete lavouras de grão-de-bico: a murcha-de-esclerócio. É uma doença de importância mundial para a cultura e já detectada no Brasil. Ela foi relatada no Distrito Federal em 2010 e mais recentemente em Dourados, MS, quando foi observada na área experimental da Embrapa Agropecuária Oeste, em julho de 2022 (clique aqui para mais informações). A doença é causada por um fungo do gênero Sclerotium. Este fungo está amplamente distribuído no mundo e acomete diversas outras espécies cultivadas. Inclusive, já foi relatado em soja e feijão em Mato Grosso do Sul, porém sem causar epidemias.
Como o nome do fungo já sugere, ele produz esclerócios (também chamados de escleródios), que são estruturas de sobrevivência que podem permanecer viáveis no solo por vários meses, perpetuando a doença. O aspecto da murcha-de-esclerócio no campo é semelhante ao do mofo-branco, causado por Sclerotinia, outro fungo com potencial de causar danos em lavouras de grão-de-bico.
Considerando que esta doença pode ser disseminada por meio de sementes contaminadas, é fundamental que se utilizem sementes sadias, oriundas de um sistema de produção certificado. Outra forma importante de disseminação é por meio de partículas de solo aderidas a implementos agrícolas. Nos casos em que o patógeno já foi introduzido na área, deve-se evitar sua dispersão, limpando o maquinário após seu uso em área infestada.
Portanto, é necessário tratar da cultura do grão-de-bico com profissionalismo, com adequado manejo do solo, usando sementes com garantias de qualidade (sanidade, pureza, germinação etc.), manejando a cultura adequadamente e aplicando os devidos tratos culturais. Finalmente, importa que todos os envolvidos no cultivo dessa espécie estejam atentos para a ocorrência da murcha-de-esclerócio e de qualquer outra doença, problema fitossanitário ou dificuldades de outra natureza, comunicando às instituições de pesquisa e desenvolvimento qualquer anormalidade que observarem.
À medida em que se aumenta a área com o cultivo de grão-de-bico, a tendência é que aumentem também os problemas fitossanitários associados à cultura. O mesmo vale para qualquer outra espécie vegetal. Portanto, nessa fase de introdução de uma nova espécie nos sistemas de produção, a comunicação entre pesquisa, extensão e produtores é fundamental para evitar ou minimizar as dificuldades e maximizar a produtividade e rentabilidade.
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*Alexandre Dinnys Roese e Fernando Mendes Lamas / Embrapa Agropecuária Oeste / Dourados – MS