A Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI) e a Associação Pan-americana de Infectologia (API) apresentaram o primeiro guia com diretrizes para o tratamento de pacientes com Covid-19 da América Latina. As orientações foram elaboradas por 18 especialistas e consideram os medicamentos que estão disponíveis no bloco para tratar desde casos leves e moderados a quadros graves. As recomendações a favor e contra oito remédios testados em estudos clínicos ao longo dos períodos críticos da pandemia foram discutidas pelos infectologistas ao longo do fim de semana e devem ser publicadas no periódico Annals of Clinical Microbiology and Antimicrobials em até seis semanas.
O documento foi elaborado ao longo de um ano e teve como ponto de partida o mergulho em 1 mil artigos científicos sobre oito medicações usadas no combate à doença. Com base em estudos com sólidos resultados sobre a eficácia e segurança dos tratamentos, o grupo elaborou uma escala para recomendar ou não as medicações, de acordo com as evidências analisadas – assim, podem ocorrer recomendações favoráveis ou contrárias, assim como sugestões favoráveis ou contrárias, dependendo da força dos achados.
Para casos leves a moderados, a recomendação é para uso do Paxlovid (nirmatrelvir + ritonavir), antiviral oral da farmacêutica Pfizer. Em testes, a terapia demonstrou potencial para reduzir em até 89% casos de hospitalização e morte em pacientes com risco de evoluir formas graves da Covid-19. A medicação está aprovada para uso no país e, em novembro do ano passado, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) autorizou a venda do remédio em farmácias, mas apenas com prescrição médica.
Ainda nesta etapa, os especialistas sugerem como intervenção os antivirais orais Molnupiravir e Rendesivir. Estes também estão aprovados para utilização no Brasil.
Na outra ponta, estão os medicamentos comprovadamente sem eficácia contra a doença: a ivermectina e a hidroxicloroquina. Eles foram alardeados pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), seus apoiadores e até por médicos negacionistas no perigoso “Kit Covid”, que oferecia riscos à saúde e chegou a levar a episódios de hepatite fulminante pelo abuso dos medicamentos.
“Essas são recomendações das sociedades científicas para medicações que estão registradas na América Latina. Essa parceria acontece na sociedade europeia e é um caminho no nosso bloco, que tem características semelhantes”, explica Alberto Chebabo, presidente da SBI.
Ele diz que, além de padronizar o atendimento a partir de evidências atualizadas, o documento tem como objetivo ser uma ferramenta para cobrar dos gestores públicos que as medicações mais eficazes estejam disponíveis para a população, evitando o agravamento da doença, sequelas e mortes.
“Este será um guia vivo, que continuará sendo atualizado com base na ciência e afastado das recomendações políticas”, completa Alexandre Naime Barbosa, vice-presidente da entidade.
Em casos graves e críticos de Covid-19, há três medicamentos disponíveis sugeridos pelos infectologistas: Rendesivir, Baricitinibe e Tocilizumabe. Esses dois últimos são indicados para artrite reumatoide e demonstraram efeitos positivos em pacientes com a doença. Eles estão disponíveis no Sistema Único de Saúde (SUS).
A vacinação em dia continua sendo a forma mais eficaz de evitar que pessoas infectadas evoluam para casos graves, mas a sociedade destaca a importância de que o melhor tratamento seja oferecido e que ele se paute em evidências científicas.