O amendoim vem se tornando um dos alimentos que estão no topo da lista dos mais alergênicos. Por isso, é preciso cuidado, principalmente durante as viagens de avião, quando é comum a oferta do amendoim.
Abaixo, a Dra. Lucila Camargo, Coordenadora do Departamento Científico de Alergia Alimentar da Associação Brasileira de Alergia e Imunologia (ASBAI), explica os riscos e o que é preciso mudar.
O cheiro de amendoim pode desencadear uma alergia grave em quem já tem alergia a este alimento?
Embora possa acontecer, é muitíssimo raro. A maioria dos indivíduos com alergia necessita ingerir o alimento para ter uma reação considerada grave. Um estudo recente multicêntrico (com participação de diversos países) mostrou que 2% de crianças alérgicas a amendoim reagiram a 1% de um grão de amendoim e todas as reações foram leves. As reações foram menos frequentes do que se pensava.
De acordo com a literatura científica internacional, existem cerca de 8% das crianças, com até dois anos de idade, e 2% dos adultos com algum tipo de alergia alimentar. Existe algum dado específico sobre alergia a amendoim e castanhas?
As prevalências de alergia alimentar podem variar muito de um país para o outro e com os métodos empregados para a avaliação, mas giram em torno disso. Apesar de não termos dados nacionais de quantos sofrem com esta doença, é perceptível para nós, especialistas, o aumento do número de casos, nos últimos anos, de alergias alimentares em geral, incluindo, amendoim e castanhas. Algumas estatísticas internacionais apontam que 1% a 3% das crianças sofram com alergia a amendoim, e estas tendem a persistirem ao longo da vida.
Amendoins e castanhas normalmente fazem parte do serviço de bordo. Quais seriam as recomendações da ASBAI nesse sentido?
Servir ou banir amendoim e castanhas em serviços de bordo é uma polêmica mundial. Levantamento em 2008 mostrou que cerca de 9% das pessoas com alergia a amendoim já tiveram alguma reação em voos. Não há regulamentação estabelecida e cada companhia aérea tem maneiras diferentes de lidar com a questão. O mais importante é que os indivíduos com alergia façam acompanhamento com especialistas para estabelecer os potenciais riscos de uma reação, estabelecendo planos de ação personalizados, evitando-se, possivelmente, restrições desnecessárias, que também trazem prejuízo na qualidade de vida. É preciso ajustar a conduta para cada paciente, cada situação, daí a importância da consulta com o especialista.
Na sua opinião, o que falta para as pessoas compreenderem melhor a gravidade da alergia alimentar?
Sem dúvida a divulgação do assunto é fundamental, e é o que a ASBAI vem realizando há anos.
Como o poder público pode contribuir para essa conscientização?
Contribuições valiosas incluem o fomento a estudos nacionais sobre o assunto e a ampliação do acesso da população a assistência médica pública por alergistas e imunologistas.