Fraternidade e fome, Campanha de 2023

Na Campanha da Fraternidade de 2023, a CNBB escolheu o tema ‘Fraternidade e fome’ e o lema ‘Dai-lhes vós mesmos de comer’.

Embora o Brasil seja um dos maiores exportadores de alimentos do Planeta, a população ficou desassistida por pelo menos seis anos com a sistemática redução dos recursos do orçamento e o desmonte das políticas públicas sociais a partir de 2016. Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE), 33 milhões e 100 mil pessoas estão em situação de insegurança alimentar grave — em outras palavras, estão abaixo da linha da pobreza, o que exige uma ação emergencial de enfrentamento à fome.

Foto: Divulgação

O abandono de políticas de distribuição de renda e de garantia de emprego formal fez com que a insegurança alimentar leve atingisse 152 milhões e 200 mil pessoas, isto é, 58,7% da população do país, um verdadeiro retrocesso nas condições de vida dos brasileiros. Conectada à dramática realidade de dezenas de milhões de brasileiros em todas as regiões, a Campanha da Fraternidade tem como meta despertar a solidariedade neste período da Quaresma, quando a comunidade católica guarda recolhimento para se preparar para a Páscoa, por meio do jejum, da caridade e de preces.

Como faz desde 1965, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) lançou como lema da Campanha da Fraternidade de 2023 “Dai-lhes vós mesmos de comer” (Mt 14, 16), cujo tema é “Fraternidade e fome”. Mais que mais um conjunto de iniciativas para o enfrentamento da fome, o propósito é o engajamento dos católicos e católicas do país em um gesto fraternal direto, ao longo do período de recolhimento da Quaresma. Como essas iniciativas se fortalecem, é esperada que prossiga durante o tempo que for preciso mantê-la.

Isso, aliás, ocorreu em 1993, quando o Sociólogo Herbert de Souza, o Betinho, conseguiu envolver toda a sociedade brasileira na grande e até então inédita mobilização nacional conhecida como Ação da Cidadania Contra a Fome, a Miséria e Pela Vida. Em comitês espalhados por todo o país e em algumas comunidades de brasileiros no exterior, a Ação da Cidadania despertou a consciência coletiva para uma mazela que vem desde quando o Brasil era uma sociedade escravista e excludente. Essa rede nacional, apesar dos mais de trinta anos que se passaram, permanece articulada e atuante, sempre discreta, mas efetiva: suas normas éticas proíbem a realização de imagens em que os destinatários dos donativos possam ter a sua dignidade mais uma vez aviltada com esse tipo de exposição.

Naquele ano que entrou para a história, o articulador no âmbito da CNBB era Dom Mauro Morelli, então Arcebispo de Nova Iguaçu e São João do Meriti, na Baixada Fluminense, que foi nomeado por Itamar Franco como Presidente do Conselho Nacional de Segurança Alimentar. Sem interferir na grande mobilização contra a fome, Itamar deu liberdade para a Ação da Cidadania atuar em todos os municípios do país com apoio de instituições federais, como Caixa Econômica Federal e Banco do Brasil. Experiência fundamental que Lula, em seu primeiro mandato, replicou no pioneiro programa de enfrentamento da fome, o ‘Brasil sem Fome’, que durante os oito anos de seus dois mandatos anteriores à Lava Jato e os quase seis anos dos dois mandatos de Dilma Rousseff foi efetivo para tirar o país do mapa da fome, mas em menos de sete anos de políticas excludentes perdeu-se tudo e ficou ainda mais grave que em 1993, quando iniciou a campanha do Betinho.

*Ahmad Schabib Hany

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