Da dor da ausência

Foto: Junior

Essa semana tive algumas preocupações, que ficaram maiores ainda quando cheguei no Posto de Saúde. Fui atendida sim, mas horas de espera. Fui levar meu pai, minha sobrinha me acompanhava. A espera do raio-x foi maior porque nunca sabemos qual será o resultado. Pensamos mil coisas. Sai a avaliação da profissional de saúde, remédios receitados, voltamos para casa. Essa volta foi comprida na minha mente.

Como é interessante a vida, essas idas e vindas. Poxa eu levando meu pai no serviço de saúde. Olhava o semáforo e pensava como foi quando eu era criança, ia para o hospital e voltava no colo dele. Agora é minha vez de retribuir. As lembranças da infância são uma espécie de canto da esperança e da calma. Elas nos tocam, nos embalam, nos acalentam. Apesar de algumas vezes esquecidas, elas estão sempre ali, disponíveis, guardando consigo uma grande parte da nossa identidade.

Foto: Adrian Macdonald

Escritos sobre a essência dos dias vividos na infância, sobre essa fase saudosa e cheia de lembranças, sobre do que ela é feita, quer seja de sonhos, alegrias, tristezas, descobertas e decepções. Essa volta me fez viajar no tempo imergindo em lembranças que, de alguma forma, me tocaram o âmago. Ao chegar em casa fui ler um poema para ele dormir, já medicado, queria que ele descansasse. E assim, mergulhando nas cenas descritas ao longo das linhas tecidas, é possível avistar as constelações num céu estrelado, e enxergar formas num céu nublado; brincar com os amigos na rua, penso que de dia ou de noite e com ou sem lua; reunir a família na casa da avó, éramos três irmãs e todas juntas  eram uma resenha só; pular corda e andar de bicicleta, por entre caminhos de curvas ou retas; ler fábulas e contos de fadas, descobrindo a leitura como aliada; viver aventuras com dengos e gostosuras, sendo criança com direito às travessuras; brincar de boneca, depois doá-la para alegrar outra menina talvez triste por não ter a infância alegre que eu tive de tomar banho no corixo; assumir papéis fazendo de conta que é realidade, brincando de profissões com pura ludicidade; ler histórias em quadrinhos e fábulas de La Fontaine, descobrindo caminhos efêmeros e/ou perenes.

Por isso eu hoje sei que a poesia também está presente na vida ingênua de cada criança, de cada garotinha que traz suas memórias à escrita. As linhas do poema dão palavra a essas garotas que precisam clamar ao mundo sua dor, suas alegrias, as tristezas para se sentirem ouvidas e vistas.

Foto: Adrian Macdonald

Ver meu pai ali deitado deu alegria e tristeza ao mesmo tempo. Faltava minha mãe.  Senti saudade dos meus filhos. Essas histórias movem nossas vidas e permitem um momento para olhar para dentro de nós. É por essa razão que ler uma poesia é muito importante para uma mulher. Precisamos ter a certeza e saber qual é o papel das mulheres no mundo de hoje. Um mundo que precisa de humanidade e sensibilidade. Um mundo que precisa de abraço, um mundo que precisa de poesia, um mundo que precisa de Deus.

*Nota da Redação: Jociane de Andrade estará sendo homenageada na Câmara Municipal de Corumbá no próximo dia 22 as 20:00horas no evento” 100 Mulheres de Sucesso” Diva 2023 – Personalidade Feminina do ano. Organização do Colunista Social do ” Jornal Notícias do Pantana”l, Augusto Samaniego.

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