A emergência climática nunca foi tão urgente. O relatório divulgado pela Organização das Nações Unidas (ONU) nas últimas semanas deixou claro que há grandes chances de extrapolarmos o limite definido pelo Acordo de Paris para tentar conter o aumento da temperatura global.
Ao longo de 23 páginas, o documento destaca que nos próximos cinco anos devemos aumentar a temperatura do planeta em 1,8º C, ultrapassando a meta de 1,5º C determinada pelo Acordo de Paris. Pode parecer pouco, afinal estamos falando de apenas 0,3º C, mas devemos lembrar que já estamos no limite.
Para tentar equacionar a urgência climática em que nos encontramos, um estudo publicado na Nature Ecology & Evolution mostrou que, se aumentarmos a temperatura do mundo em 2,5º C, cerca de 30% das espécies seriam extintas. Fazendo um contraponto com a pesquisa da ONU, estamos falando de apenas 0,7º C, que também é bem pouco.
Por isso, mais do que nunca, é hora de mudarmos nosso pensamento e condutas, em todas as esferas e níveis. Há uma necessidade global para tentarmos reverter esse quadro, antes que ele se torne irreversível.
Já estamos vendo alguns movimentos governamentais para tentar frear esse aumento de temperatura, como um Projeto de Lei que tramita na França, que quer proibir voos com menos de duas horas de duração, para reduzir as emissões de CO². Aqui no Brasil, temos o PL 7578/17, que regulariza o mercado de crédito de carbono e pode ser muito positivo para o país.
Mas não podemos esquecer que todos esses tramites refletem na sociedade, por isso precisam ser muito bem pensados e avaliados, o que leva um certo tempo. No caso francês, por exemplo, precisamos estudar os impactos em toda cadeia da aviação, como as fabricantes de aviões regionais.
Por isso, os grandes expoentes nessa mudança são as empresas, que cada vez mais serão pressionadas por mudanças. Só que isso precisa ser visto não como uma cobrança, mas como uma oportunidade de fazer a diferença.
É verdade que muitas empresas ainda não se atentaram a essa nova realidade, mas agora é a hora de agir. Para começar, elas precisam analisar seus impactos ambientais. E isso precisa ser feito de forma ampla e profunda, avaliando a cadeia de fornecedores, emissões de CO², consumo de eletricidade, dentre muitos outros elementos, que, normalmente, são levantados por empresas contratadas especialmente para esses fins.
A partir daí, serão definidas as metas e as estratégias para reduzir seus impactos ambientais.
É verdade que as empresas terão um papel de liderança nesse processo para tentar frear o aquecimento global, mas não podemos esquecer as pessoas, que também terão uma função importante nesse contexto. Não adianta elas cobrarem providências, se não assumirem sua posição nessa batalha.
Como julgar uma empresa que consome energia se a pessoa deixa as luzes de casa acesas o dia todo ou fica horas no banho? Essa é uma das perguntas que devemos fazer para nossa própria reflexão.
A verdade é que se trata de uma luta de todos. Que o Dia Mundial do Meio Ambiente que se aproxima sirva como marco para revertermos esse quadro complexo, pois o tempo, nesse caso, está contra nós.
*Álvaro Trilho é Diretor de Risk & Analytics da WTW