Sei que este deve ser um dos mais artigos mais curtos, que escrevi. Não pelo tamanho das letras, nem pela quantidade de caracteres. Mas pelo alcance e grandiosidade das pessoas que estarei citando os nomes, doravante. Estive semana passada, no chá acadêmico, e ouvi pinceladas da vida de Luiz Alexandre, na voz da excelsa ativista cultural Lenilde Ramos, imortal da Academia Sul-Mato-Grossense de Letras. Ocupante da cadeira 31, na sucessão do acadêmico Hildebrando Campestrini. Autora das obras literárias “História sem nome – Lembranças de uma menina quase gêmea”, “Storia senza nome” (edição italiana), “Imagens e Palavras” e “Do Baú da Tia Lê – Crônicas”, além de integrar capítulo do livro “Vozes da Literatura”, apresentando aspectos biográficos do escritor e historiador Paulo Coelho Machado. Além da carreira como escritora, é compositora cantora e sanfoneira, começou sua carreira musical aos 7 anos, ao ganhar o referido instrumento do pai. Sempre me emociono ao vê-la, porque tenho uma eterna gratidão. No aniversário de 60 anos de minha mãe, ela deixou-a aos prantos quando de surpresa adentrou a sala sob aplausos, tocando saudades de Matão (Saudades de Matão é uma valsa tocada por Jorge Galati em 1904, quando maestro da banda ítalo-brasileira de Araraquara. Em 1938, a música recebeu letra de Raul Torres, que a gravou ao lado de seu sobrinho Serrinha. Ficou conhecida pelo intérprete notável, Carlos Galhardo, que a gravou em forma de valsa, duas vezes, em 1941 e 1958.)
Isto posto, ela ao lado do preclaro Marcos Estevão dos Santos Moura, cadeira 24 (Arassuay Castro); escritor, médico psiquiatra, psiquiatra forense e hipniatra, relembraram elementos da trajetória do querido e emérito Luiz Alexandre de Oliveira que ajudam a definir o seu papel dentro do contexto educacional em Campo Grande, no sul de Mato Grosso. A priori, em função de seu percurso de estudante negro, e pertencente à classe trabalhadora, o qual não apresentava condições econômicas e familiares para frequentar um curso secundário, todavia, mais tarde, viria a ser um probo e filantropo professor e proprietário de uma instituição secundária, o Ginásio Oswaldo Cruz.
Interessante que residindo em Aquidauana, Luiz Alexandre teve acesso à escolarização primária, porém ele mesmo ressalta que sua aprendizagem foi ‘dura’, pois, pela pouca visão, teve fraco preparo. Nas memórias escritas pelo professor, ele assevera que enfrentou muitas situações escolares desmotivadoras na infância, dadas por suas condições sociais e físicas. Neto de uma mulher escravizada, filho de lavadeira e com deficiência visual, não apresentava possibilidades de sucesso escolar. Mas que ao final com a determinação dos imortais foi muito mais do que talvez tenha pensado em ser. Tenho um exemplar do jornal “Correio do Estado” de 1997 que trata de seu falecimento e resume bem sua maravilhosa trajetória: “Faleceu ontem às 13h – na Santa Casa de Campo Grande – o Dr. Luiz Alexandre de Oliveira, 94, que ocupava a cadeira 25 da Academia Sul-Mato-Grossense de Letras. O sepultamento será realizado às 10h de hoje, no Cemitério Santo Antônio. O acadêmico nasceu em Teixeiras, Minas Gerais, no dia 14 de abril de 1903. Dez anos depois, em 1913, sua família se mudou para Mato Grosso, indo residir em Aquidauana, depois em Ponta Porã e finalmente em Campo Grande, isso em 1923. Advogou na Cidade Morena, foi Juiz Auditor de Guerra, proprietário do Colégio ‘Osvaldo Cruz’ e diretor da Escola Visconde de Cairu, mantida pela Colônia Japonesa de Campo Grande. Foi deputado estadual e vice-prefeito de Campo Grande. Possuía em sua residência a maior biblioteca sobre assuntos de cultura de todo o Estado. Em 1992, doou à Santa Casa o Colégio Osvaldo Cruz, tornando-se sócio benemérito do hospital”. Miremo-nos neste exemplo de pessoa, de homem e de cidadão.
*Articulista