O “The Noite” desta segunda-feira (9) de outubro traz dois dos maiores especialistas em geopolítica e conflitos armados do Brasil para falar da guerra entre Israel e o Hamas, iniciada após o maior ataque terrorista sofrido por Israel em sua história. Danilo Gentili conversa André Lajst, doutorando em ciências políticas, palestrante e presidente do Stand With Us Brasil, e Heni Ozi Cukier, o Professor HOC, cientista político, professor e palestrante.
Além deles, também participam da conversa o correspondente do SBT, Sérgio Utsch, e o jornalista Henry Galsky, trazendo informações da guerra, e a brasileira Nathalie Levy Rosemberg, que mora em Israel e traz relatos de como estão sendo as últimas horas no país.
No último sábado (7), o grupo islâmico fez um ataque-surpresa contra Israel, invadindo o território do país, matando centenas de civis e sequestrando um grande número de pessoas, incluindo mulheres, crianças e idosos. O governo israelense reagiu declarando guerra.
Confira abaixo algumas declarações dadas por André Lajst e Heni Ozi Cukier, que vai ao ar nesta segunda-feira, às 00h45 (de Brasília), logo após o “Arena SBT”
Maior ataque terrorista da história de Israel
André Lajst: “Os números são sem precedentes em todos os sentidos. Quando Israel foi fundado em 1948, teve uma guerra da independência que demorou um ano e três meses pra acabar e morreram 7 mil pessoas, 1% da população, maior parte de combatentes, mas demorou um ano e três meses para isso acontecer. Na Guerra de Yom Kippur, em 1973, 50 anos atrás, um ataque-surpresa, morreram 2,5 mil soldados em três semanas de combate. Durante a segunda intifada, entre 2000 e 2004, que teve os atentados suicidas, que eram enviados homens bomba do Hamas e da Jihad Islâmica, morreram em torno de 1 mil civis israelenses em quatro anos. No sábado (7), morreram em torno de 800 a 900 civis em seis horas, então esse é o maior atentado terrorista da história de Israel, o segundo maior da história moderna, depois do 11 de setembro, e é a maior quantidade de judeus que morrem em um dia, por serem judeus, desde o fim do holocausto”.
Erro do sistema de defesa de Israel
Professor Hoc: “O Hamas tem a ajuda de outros países. Por exemplo, o Irã. Então recebe financiamento, armas, muito dinheiro. Já temos notícias agora de que havia um planejamento sendo feito há meses. Tiveram reuniões do Hamas, Hezbollah e o Irã. Eles se reuniram e foram organizando esse ataque. Israel, sempre muito bem preparado, falhou em imaginar que o ataque viria pela porta da frente. O Hamas está dentro de Gaza com vários túneis. Durante todos os anos de conflitos, Israel busca destruir esses túneis e os meios diferentes que o Hamas usa para atacar. Dessa vez, não foi assim. Ele veio direto pela porta da frente, literalmente. Pela cerca, com trator, carro. Israel foi pego de surpresa e para uma organização terrorista isso é fundamental porque o seu inimigo está despreparado, não está esperando”.
Entre quem é essa guerra?
André Lajst: “É importante colocar, não é uma guerra Palestina x Israel, é uma guerra entre Israel e o Hamas, que, por sua vez, controla a força a Faixa de Gaza, não representa todos os palestinos e não é o governo palestino legítimo”.
Professor Hoc: “Por enquanto, o conflito está contra organizações terroristas. Esse é o perigo máximo da escalada envolver um país, mas aí Israel teria que atacar o Irã e não imagino que Israel vá fazer um ataque direto ao território iraniano. Mas pode atacar outras bases e instalações do Irã, como por exemplo na Síria. O cenário pior de todos seria um confronto direto com o Irã, que é um país enorme, e isso se tornar uma guerra regional”.
Hamas: o que eles querem?
André Lajst: “O Hamas é um grupo que tem uma ideologia baseada na religião de uma forma extrema e fundamentalista. O Hamas se retroalimenta de ações contra Israel, mesmo que ele não vá ganhar a guerra, para ganhar prestigio, protagonismo e honra, dentro da própria política palestina, porque ele tem um monte de rivais e ele quer se mostrar que é o melhor, mais forte, que ele é o que protege mais e luta mais, quando, na verdade, ele não está fazendo nada pelo povo palestino… Ele só está trazendo coisas ruins para o povo palestino. Nesse caso, essa ação, muda totalmente o tabuleiro, até então. Ao sequestrar pessoas, 90% civis. Mulheres, crianças, jovens, idosos… Essas pessoas eles vão usar como escudos humanos para se proteger, então, pode ter certeza, que o líder do Hamas está no bunker dele lá em Gaza, junto com civis israelenses, para Israel não atacar o bunker dele e eles vão usar eles como moedas de troca para soltar prisioneiros palestinos que estão presos nas prisões israelenses. Esse é um grande problema, que Israel vai ter que criar para lutar essa guerra”.
Objetivo do Irã
André Lajst: “Durante muito tempo, a ideia sempre foi a seguinte: Israel não tem como normalizar as suas relações com os outros países vizinhos árabes sem ter um acordo de paz com os palestinos. Essa sempre foi uma crença, mas não é verdade. Israel está assinando acordo com vários países. Emirados Árabes, Bahrein, Marrocos, se tornam amigos de Israel. Já tem acordo com Egito, Jordânia, com vários países. Neste momento estava em andamento uma negociação de Israel com a Arábia Saudita, com os Estados Unidos mediando isso, e estavam em vias de assinar. Aí o Hamas olha e fala assim: Israel ficando amigo de todos os países vizinhos, a minha causa não é mais o centro das atenções, preciso impedir que esse acordo avance. Por quê? A Arábia Saudita é um dos países mais importantes que representam o mundo islâmico pelos locais sagrados que estão ali dentro. O Hamas tinha que evitar isso e nisso entra o Irã, que não quer essa aproximação por causa do programa nuclear e para o seu projeto de ambição de controle é preciso formar uma coalizão contra ele”.
Guerra psicológica do Hamas
André Lajst: “O Hamas está fazendo guerra psicológica com o mundo. Eu fui da inteligência da força aérea, lutei uma guerra contra o Hamas em Gaza, em 2012, pelo ar, de oito dias. Israel avisa lugares que podem haver civis para eles não morrerem. Quando Israel não avisa, significa que não há civis. O que está acontecendo agora em Gaza é que Israel está atacando alvos do Hamas, com pessoas do Hamas dentro. O que eles querem? Que Israel avise para que eles possam fugir, sobreviver e Israel destruir só concreto”.
Professor Hoc: “Tem um outro problema nessa discussão da proporcionalidade que é muito complicada quando você está lidando com um inimigo que não respeita as convenções de guerra. Então qual a convenção mais primária de todas? Nós estamos em guerra, você tem que estar uniformizado, tenho que saber que você é um combatente. Essa obrigação é sua. Não posso atingir um civil, mas o Hamas e qualquer organização terrorista não segue esses princípios porque ele quer mesmo que o número de civis aumente e assim ele vai conseguir ganhar a guerra da narrativa, psicológica e da opinião pública, que no Século XXI ela é extremamente importante. A pressão que vai vir é gigante de todos os lados”.
Ataques do Hezbollah
André Lajst: “O Hezbollah é um grupo terrorista bem mais forte do que o Hamas. Ele está dentro de um país soberano, que tem acesso ao mundo externo, diferentemente de Gaza, que tem bloqueio marítimo, que entra por terra verificado por Israel, a fronteira com o Egito é fechada, então o Hamas tem mais limitações para poder montar um poderio bélico. O Hezbollah também tem um orçamento seis ou sete vezes maior, quase um bilhão de dólares por ano, então tem uma força tática muito forte de foguetes e homens. O perigo estratégico para Israel é maior, logo, se eles entrarem em um conflito armado contra Israel, a força bélica que Israel vai ter que usar para destruir a capacidade militar do Hezbollah é muito maior do que a que ele está usando em Gaza. Se Israel empregar muita força bélica para contra-atacar o Hezbollah no Líbano, novamente, quem vai sofrer as consequências disso vai ser o Líbano como país e a população libanesa. O Hezbollah é um grupo terrorista que usa as estruturas do Líbano para se armar, logo Israel vai ter que atacar a infraestrutura do Líbano como país”.
Professor Hoc: “Isso que o André está descrevendo é um problema porque envolve um país, o Líbano. Quando envolve um país, você vai ter uma repercussão internacional, opinião pública. Essa história começa a ganhar outro escupo”.