A saudade não tem hora certa!

Pássaro Quero-Quero – Foto: Divulgação

Pássaro Quero-Quero – Foto: Divulgação

Esta vida complicada, busca por recursos, dinheiro, lugar pra morar, gente que te despreza, gente que te trai, gente que não acredita no futuro, faz esquecer, vez por outra, da nossa essência. A minha, por exemplo, depois de 1122 artigos que completei agora e 24 anos depois… é contar estórias. Não estamos no dia dos pais e muito menos está perto. Todavia os ensinamentos de nossos pais são para todos os dias e o nosso aprendizado também deve ser contínuo.

Na casa aonde moro tem alguns pés de árvore, é bem pantaneira mesmo. E certo dia estávamos sentados em tocos de árvores em forma de cadeiras, que existem até hoje. Eu concentrado lendo uma revista, enquanto meu pai deitava os olhos na natureza e lembrava alguns refrões de suas melodias. De repente um pequeno ser vivente pousou ao nosso alcance. E ele apontou, dizendo – olha ali!

Evidentemente ocupado com a revista apenas balancei a cabeça. E ele continuou – Como chama?

Eu respondi afirmativamente:

– É um pássaro! Ele continuou: – Como chama?

Respondendo novamente: – Um quero-quero

Como chama, insistiu?

Foto: Divulgação

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Eu, para responder fechei a revista e este movimento rápido também assustou a ave. Continuei então, minha leitura. Pouco tempo depois, o pássaro voltou próximo aonde estava e meu pai questionou novamente: – Como chama?

Envolto de inquietude respondi com rapidez: Quero-quero, é um q-u-e-r-o q-u-e-r-o

Aparentemente, não satisfeito com a resposta, indaga outra vez. – Como chama?

Eu, não me contive e perguntei – Porque Pai, perguntar tantas vezes? Porquê?

Sem nenhum gesto ele se levantou calmamente e começou a caminhar. Eu intrigado perguntei aonde iria. Ele pediu para aguardar e saiu cantando uma melodia. ” De quimeras mil um castelo ergui…”

Passado um tempo, voltou com uma mala marrom, aquelas que antigamente os caixeiros viajantes usavam e abriu perto de mim. Pegou um caderno um pouco amarelado, mas encapado. Abriu em uma página e me entregando disse: -Sua mãe que escreveu, pode fazer um favor e ler em voz alta?

Sem entender, comecei a ler e lá encontrei:

“Hoje nosso único filho faz aniversário. As meninas estão bem e querem fazer uma surpresa. Tivemos orgulho em levá-lo a escola em seu primeiro dia. Paramos no parque quando um pássaro pousou bem perto. Nosso filho perguntou quem tinha penteado os cabelos da ave e queria saber seu nome. Respondemos que era o quero-quero e que Deus havia penteado. O fato engraçado foi que ele perguntou quinze vezes “Como Chama” e seu pai respondeu com toda a paciência do mundo que era um “quero-quero”. Eu e seu pai estamos tão felizes! Seu pai disse… (com toda essa curiosidade ele será muito inteligente, talvez um escritor). Fiquei brava porque ele disse: É meu filho! Poxa era meu também!

Nesta hora, não suportei e a revista caiu no chão e abracei meu pai com todas as forças. Percebi que eu não era inteligente quanto ele pensava. Ele me ensinava o tempo todo. Hoje não posso sentir seu perfume, nem tampouco ouvir a vibração das suas cordas vocais, mas posso contar as estórias que eu vivi e que muito me ensinaram a viver, com o melhor professor da terra.

(*) Articulista e claro, contador de histórias.

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