Parecia totalmente certo, mas, no fim das contas, a tão esperada assinatura do acordo estratégico entre a União Europeia e o Mercosul, em discussão há quase 23 anos, pode não ir para o papel neste ano de 2023.
Se assim for, será necessário adiar novamente para o próximo ano.
Que é um momento difícil, porém, devido à proximidade das eleições europeias.
Nos últimos meses, as chances de uma aprovação definitiva do acordo, que envolve 31 países e 780 milhões de pessoas, pareciam ter aumentado, especialmente durante a cúpula do Mercosul no Rio de Janeiro (6 e 7 de dezembro), na presença dos chefes de Estado da Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai.
Os negociadores trabalharam incansavelmente para conciliar as diferentes necessidades, como maior proteção ambiental para a Europa e maior abertura das economias sul-americanas, enquanto o Mercosul buscava proteger seus setores agrícolas e industriais nacionais, além de preservar o sistema de contratação pública.
No entanto, ao contrário do esperado, não foi possível chegar a um compromisso devido à inflexibilidade do Brasil e da Argentina, e à recusa pública do presidente francês Emmanuel Macron, que classificou o acordo como “incoerente” e “obsoleto”, defendendo o setor agropecuário francês.
O presidente brasileiro Lula da Silva culpou os países ricos pela paralisação, afirmando que “não somos mais colonizados, somos Estados soberanos, queremos ser tratados com o respeito devido aos países independentes”.
O presidente argentino Alberto Fernández, prestes a deixar o cargo em favor do ultraliberal Javier Milei em 10 de dezembro, também expressou a necessidade de avaliar as condições que permitiriam o apoio ao acordo.
A situação tornou-se tão séria e complexa que o comissário de Comércio da UE, Valdis Dombrovskis, que inicialmente planejava participar da cúpula no Rio, acabou desistindo da viagem.
Apesar disso, a UE reiterou sua ambição de alcançar o acordo comercial com o Mercosul “o mais rápido possível”.
Após uma reunião em Berlim, o chanceler alemão Scholz e Lula destacaram a necessidade de “esforços adicionais para concluir este acordo”. Lula considerou a assinatura do documento “central” para a criação de um mundo multipolar.
Por fim, é importante observar que, em menos de uma semana, haverá uma mudança de liderança na Argentina, com a posse do presidente Milei, que já demonstrou disposição em reduzir as objeções de Buenos Aires à assinatura do acordo com Bruxelas.