Era novembro de 2020, quando o Pantanal sofria a maior tragédia de sua história. Naquela ocasião, os incêndios destruíram cerca de 4 milhões de hectares, o equivalente a 26% do bioma. Para efeito de comparação, a área desmatada é maior que a Bélgica. Cerca de 4,6 bilhões de animais foram afetados e ao menos 10 milhões morreram.
Dentro do território do Mato Grosso do Sul, 1,7 milhão de hectares virou cinzas. Já no Mato Grosso, a destruição foi maior: quase 2,2 milhões de hectares. E, assim, nos anos seguintes, de 2021 a 2023, o número de queimadas só vem aumentando na região, nem todas, atreladas às ações humanas, mas também em decorrência de fenômenos naturais, como a autocombustão do Pantanal, já que parte do cerrado também compõe o bioma.
É certo que fatores climáticos, de certa forma, interferem na produção no Pantanal, sendo submetido a dois períodos extremos – um de chuvas com inundações e outro de seca com queimadas. A relação de tempo e intensidade de cada uma destas fases impacta a produção e toda a região.
Se por um lado, uma parte do bioma sofre com as interferências climáticas, por outro, a produtividade tem sido uma aliada. Segundo a Embrapa Pantanal, a pecuária de corte é o principal produto desenvolvido na região, durante essas fases de extremos, em especial, na fase de cria, tendo os bezerros como o principal carro chefe da produção, já que estes são levados para serem recriados, engordado nas regiões periféricas do Pantanal ou seja no Planalto.
Ainda assim, de acordo com a coordenadora do projeto Viva Pantanal, Tatiana Scaff Teles, as interferências no clima foram decisivas para as alterações da produção no local. “No Pantanal, os produtores sofrem com os extremos, como a seca vivenciada nos últimos anos, bem como a falta de água, tendo impactado a queda na produção. Sendo assim, muitos produtores tiveram a sua produção afetada pelo encarecimento do preço dos produtos”, enfatiza a coordenadora.
Mecanização no campo
Um ponto importante que a especialista defende é a chamada mecanização do campo, o que ajudaria a reduzir significativamente a dependência das ações humanas, tais como em operações mecanizadas de limpeza e que envolvam manutenção de pastagens nativas e artificiais, em contrapartida à roçadas com foice e aceiros com enxadas, tecnologias mais empíricas e praticamente em desuso. Entretanto, conforme Tati aborda, este é um tipo de mecanismo que ainda chega de forma lenta na região, dependendo a produção quase que exclusivamente das ações humanas. “E ainda há alguns entraves, como a especialização de mão de obra, o que não é uma coisa fácil de se implementar no Brasil”, destaca.
Ainda, de acordo com a especialista, é inegável que, mesmo diante de alguns entraves, a chegada de novas tecnologias no Pantanal proporcionou produções tão eficientes quanto no Planalto, o que trouxe competitividade à região em função das tecnologias já existentes. “Por exemplo, dentro da cadeia da pecuária, sem essas tecnologias, jamais teríamos visto outras raças (até mesmo, raças européias), ou o cruzamento destas. Outro ponto é que conseguimos fazer uma pecuária mais intensiva, com a presença de capins mais apurados e selecionados, com uma capacidade de pressão de pastagem maior, proporcionando colocar mais animais por metro quadrado”, finaliza Tati, ressaltando as mudanças na forma com que o homem pantaneiro produz.