Ei paixão! Você que vem assim tal qual afluente sem fim, vem forte como um rio que leva nossas mágoas, mas traz saudades, faz maldades e esmaga o peito num encontro das águas. Com estas palavras faço referência, ao que a saudade da mulher amada é capaz de fazer com um ser humano. Parece que segue um curso paralelo ao real e cativo amor. Muitas vezes com uma velocidade maior o que dificulta o encontro em condições propícias, o que nos traz um aprendizado que ainda ao custo de dores e desilusões motivados pelo impulso do amor que quer gritar, mas segura a voz. E então nascem os interpretes. São os que fazem ecoar alto a saudade que temos da pessoa querida, quando o fincar no dedilhar das cordas solta o amor que assanha e arranha na lembrança maior do perfume que ficou. Por isso posso dizer que quem ouve Chicão Castro percebe que a música não está ligada somente a notas, melodias, harmonias e sim ao sentimento que uma boa música nos traz.
Chicão Castro na verdade é Rômulo Alberto de Castro, que cresceu com a música brasileira, ouvida e cantada por sua mãe. Aos 6 anos foi descobrindo as possibilidades dos sons tirados em latas de mantimentos que asseguravam timbres diferenciados que o encantavam. Aos 9 anos de idade ganhou o seu primeiro violão e aos 12, o ritmo de uma bateria criou o sonho de montar uma banda. A primeira composição musical foi “Chorume”, aos 14 anos. Aos 18 anos, como sansei, foi para o Japão, como tantos outros jovens, para trabalhar, mas a música já o havia escolhido. A compra mais importante com o primeiro salário foi um violão, que possibilitou apresentações musicais na estação de metrô da sua cidade durante três anos. Ao retornar ao Brasil, em 2008, iniciou a sua carreira de músico, cantando MPB na noite da capital. Com violão e cajon. É desta época que venho tentado escrever sobre Chicão Castro. Por pedido de nada mais nada menos do que. Eduardo Lincoln Gouveia Camargo é um nome que pouca gente em Mato Grosso do Sul conhece. Mas o batera Lincão é figura histórica no Estado. E infelizmente nos eixou num sábado 25 de dezembro após enfrentar uma luta no Hospital Regional. Ele fez parte do Grupo Acaba.
O tempo passou e num encontro ocasional esta semana, recebi o abraço de um grande cantor. E afirmo: só é grande porque antes de tudo é humilde e parceiro. E foi por conta disto que recentemente organizou um evento para apoiar aos nossos irmãos gaúchos. O tempo passou e a sua voz grave, somada a paixão de estar com a música, foi se tornando a sua principal identidade. Eu posso afirmar que a música está ligada diretamente conosco, com nossos sentimentos, nossos pensamentos, nossas ações, e até mesmo a nossas escolhas na vida. Falar sobre música, é tão complexo quanto falar sobre sentido da vida, ou até mesmo teorias sobre o surgimento da vida em nosso planeta. Por que este tema que é tão difícil de se discutir, parece ser tão fácil de entender?
Ademais, a versatilidade deste intérprete, é traduzido na maior amplitude da palavra. E por que vemos tantos artistas de qualidade e sucesso ruírem no anonimato? Duas simples situações: ingratidão e despreparo. E neste ponto reside o diferencial de Chicão Castro, aliás Chicão vem pela identificação dele com o personagem Chico Bento. Ele me contou certa vez que sua mãe lia o “gibi” com o sotaque (a irmã de um lado da cama ele do outro) e “esse momento” ficou arraigado pra sempre em seu ser. E ele trouxe essa afeição “do chico bento caipira ingênuo e simples” para a música e assim ele quando se apresenta transborda sentimento por alcançar a emoção dos outros. Seu dedilhar ao violão é a porta aberta para emoções, e a MPB alcança todos os corações, sedentos de sentimentos, através da música. Saudade, pertencimento e tradição se misturam no tom de seu cantar. Vida longa à Chicão Castro.
*Articulista