Seca, ondas de calor: Crise climática desafia cadeia de frio na área da saúde

Cenário impõe riscos no transporte e armazenamento de vacinas e medicamentos termolábeis; diretora técnica do Grupo Polar explica

Segundo análise dos mais de cinco mil municípios brasileiros, 1.188 cidades estão sem chuva significativa há pelo menos 90 dias. O mapeamento foi feito por satélite pelo Centro Nacional de Desastres Naturais (Cemaden), órgão ligado ao governo federal. O total representa cerca de 20% dos municípios do país.

A estiagem severa é reflexo da pior seca que o Brasil já enfrentou em sua história recente e a qual ainda não está próxima de acabar.

Crise climática é um dos maiores desafios globais da atualidade – Crédito: Divulgação/Freepik

Ondas de calor e secas intensas assolam o Brasil e o restante do planeta. O ano de 2023 foi o mais quente da história, segundo dados da Organização Meteorológica Mundial (OMM) e, em solo brasileiro, a média das temperaturas ficou acima da média histórica de 1991/2020. Já neste ano, o mês de agosto foi o agosto mais quente já registrado globalmente, segundo dados do observatório europeu Copernicus.

A crise climática é um dos maiores desafios globais da atualidade e seus impactos são sentidos em diversos setores, sendo um deles, a cadeia de frio, fundamental para manter a qualidade e a segurança, por exemplo, de vacinas e medicamentos termolábeis (caso da insulina e de diversas medicações de alto custo), ao longo da jornada do fabricante até o consumidor.

O cenário marcado pela crescente preocupação com as mudanças climáticas e seus impactos está impondo novos desafios ao setor de cadeia de frio, essencial para o armazenamento e transporte de vacinas e medicações que requerem refrigeração”, fala Liana Montemor, farmacêutica e diretora técnica do Grupo Polar, pioneiro no Brasil em pesquisa e desenvolvimento de soluções para a cadeia de frio.

Segundo a especialista, a preservação de vacinas e medicamentos, que muitas vezes requerem temperaturas rigorosamente controladas, tornou-se um aspecto primordial na mitigação dos riscos de falhas de armazenamento que podem comprometer a eficácia desses itens.

A elevação das temperaturas médias globais e o aumento da frequência de ondas de calor colocam uma pressão adicional sobre os sistemas de refrigeração. Com o calor extremo, os equipamentos de resfriamento precisam trabalhar mais intensamente para manter as temperaturas dentro da faixa segura, o que pode resultar em falhas, pois a sobrecarga pode levar ao desgaste mais rápido dos componentes e a falhas no equipamento. Um outro ponto é que sistemas de refrigeração que operam sob condições de calor extremo consomem mais energia para manter as temperaturas necessárias, o que pode aumentar os custos operacionais”, explica Liana.

A farmacêutica lembra, ainda, dos eventos climáticos extremos, como tempestades e inundações – a exemplo do que ocorreu neste ano, no Rio Grande do Sul – e que também têm um impacto significativo. “Eles podem danificar a infraestrutura de armazenamento e transporte, interromper a operação de sistemas de refrigeração e causar atrasos na entrega. A destruição de armazéns e centros de distribuição devido a desastres naturais pode levar a perdas consideráveis de vacinas e medicamentos, comprometendo tratamentos e campanhas de imunização”, diz.

Liana ressalta que a crise climática representa uma ameaça significativa para a integridade da cadeia de frio para vacinas e medicamentos termolábeis. “A manutenção da eficácia e segurança desses produtos depende de um controle rigoroso das condições de armazenamento e transporte, que se torna cada vez mais desafiador diante do que estamos vivenciando”, salienta.

Com o cenário, a diretora técnica do Grupo Polar ressalta que as mudanças climáticas exigem investimentos adicionais em tecnologia e infraestrutura para garantir a resiliência da cadeia de frio. “Sistemas avançados de monitoramento e soluções de refrigeração mais eficientes são essenciais para mitigar os riscos associados ao aumento das temperaturas e às condições climáticas adversas”, pontua. “Além disso, a adaptação das infraestruturas para torná-las mais robustas frente a eventos climáticos extremos é uma prioridade para enfrentar esses desafios e proteger a saúde pública global”, conclui.

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