São Paulo (SP) – Incêndios florestais que atingiram diversos estados brasileiros trouxeram impactos para biomas, fauna, flora e afetaram o agronegócio, especialmente usinas e produtores de cana. De acordo com estimativa da Organização de Associações de Produtores de Cana do Brasil (ORPLANA), prejuízos podem superar R$ 2,5 bilhões, com cerca de 390 mil hectares afetados, distribuídos entre São Paulo, Minas Gerais, Goiás, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul. Os dados foram apresentados durante o webinar para jornalistas Incêndios florestais: prevenção, combate e impactos no agronegócio, organizado pela ABAG (Associação Brasileira do Agronegócio) e pela ABAG-RP (Associação Brasileira do Agronegócio da Região de Ribeirão Preto).
Para detalhar danos, apresentar medidas que estão sendo tomadas em São Paulo para prevenção e combate à ocorrência de incêndios, apresentar informações sobre investigações criminais e esclarecer dúvidas da imprensa, o webinar reuniu quatro convidados: José Guilherme Nogueira (CEO da ORPLANA), Carolina Matos (especialista ambiental da CATI – Coordenadoria de Assistência Técnica Integral), Major Jean Gomes (Corpo de Bombeiros da Polícia Militar do Estado de São Paulo) e Flavio Okamoto (promotor de justiça do Ministério Público do Estado de São Paulo). O evento online foi apoiado pela Climatempo e pela Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo.
“Infelizmente, incêndio é algo imprevisto, sem controle e uma ação indesejada em qualquer atividade agrícola, e que combinados com o clima seco têm causado uma drástica redução na produtividade da cana-de-açúcar. Os produtores de cana ainda estão se organizando para entender os próximos passos, visto que os custos para o replantio e manejo são muito altos. Devido às perdas, a cana só conseguirá rebrotar quando as chuvas chegarem de forma uniforme e volumosa. Neste contexto, estimamos uma quebra na safra de cana-de-açúcar de cerca de 15% em comparação com a safra passada, o que impactará diretamente na oferta mundial de açúcar, o que, por sua vez, afetará os preços do etanol”, disse José Guilherme Nogueira.
Entre janeiro e setembro deste ano, foram registrados quase 8 mil focos de incêndios florestais em São Paulo, maior número da série histórica. Essa quantidade representa uma alta de 433% em relação a 2023, quando houve 1.488 focos. Foram 430 mil hectares afetados neste período, contra 34 mil no ano passado. “A situação só não foi pior que estávamos preparados”, afirmou Carolina Matos, que trouxe as ações realizadas pelo governo paulista para combater as ocorrências, como o estabelecimento de um gabinete de crise, investimento de R$ 8,7 milhões para proteção das Unidades de Conservação e mais de 20 aeronaves mobilizadas.
Na avaliação de Flavio Okamoto, ocorrências simultâneas e numerosas mostraram que é preciso reforçar a capacidade de reação dos municípios e órgãos de defesa, e ampliar os treinamentos nessa área. Há uma proposta do Ministério Público para que haja roçada “cerca a cerca” em todas estradas de São Paulo. “Estamos em conversas avançadas com o Departamento de Estradas de Rodagens (DER) e em discussões com a Artesp (Agência de Transporte do Estado de São Paulo) e com a Secretaria de Parceria e Investimentos, pois a ideia é que essa solução seja também adotada pelas concessionárias, e será necessário realizar alterações contratuais”, detalhou.
O major Jean Gomes (Corpo de Bombeiros da Polícia Militar de São Paulo) explicou que foram realizados estudos para medir a influência da vegetação mais fina, como braquiárias e capim colonião, que pode aumentar o combustível disponível para o fogo e ampliar o volume de ocorrências. Ele citou a realização de um laboratório na Reserva de Jataí (unidade de conservação localizada no município paulista de Luiz Antônio) para uso de queima prescrita, em 2021 e 2022, que alcançou resultado positivo, com diminuição de 91% dos riscos de incêndio naquela área. O major adiantou também que já está sendo trabalhada a regulamentação da Política Estadual de Manejo Integrado do Fogo, instituída pela Lei nº 17.460, promulgada em 2021. “Os trabalhos têm avançado, porque estamos em busca de uma solução para essa situação. Sem uma prevenção efetiva não teremos resultados palpáveis e concretos no futuro”, avalia.
Sobre emprego de fogo prescrito, Flavio Okamoto mencionou que a Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) obteve junto à CETESB (Companhia Ambiental do Estado de São Paulo) autorização para ter trabalhos científicos em áreas da instituição de ensino. Atualmente, segundo o promotor de justiça, há duas pesquisas em andamento, voltadas à queima de fogo prescrita, com o objetivo de reunir comprovação científica dessa prática. Por fim, ele destacou a importância do avanço representado pela Lei nº 14.944, que em julho deste ano instituiu, no âmbito nacional, a Política Nacional de Manejo Integrado do Fogo.