As imagens do rastro de destruição deixado na cidade de Valência, cidade espanhola mais impactada pela tempestade incomum, chocaram o mundo e aumentaram os alertas de ambientalistas e especialistas em clima sobre os fenômenos extremos relacionados a mudanças climáticas. Em oito horas, choveu na região aquilo que estava previsto para o ano, apontaram especialistas.
A Agência Estatal de Meteorologia da Espanha, responsável pela análise dos dados climáticos no país, prevê mais chuvas para este fim de semana. Em relatório divulgado na quinta-feira (31), o órgão informou que, entre 1º e 29 de outubro, o volume de chuva foi 89% superior ao registrado no mesmo período do ano passado.
A tragédia climática em Valência pode ser entendia em dois pontos. O principal é o fenômeno climático conhecido como DANA (Depressão Isolada em Altos Níveis), que concentra a chuva em um determinado local por um curto período. Ele ocorre quando o ar quente e úmido do mar Mediterrâneo – que está mais aquecido que o normal, com cerca de 23°C – sobe e encontra uma camada de ar frio. Com isso, cria-se uma massa de nuvens de tempestade, acumulando água nas bordas e liberando chuvas intensas.
O segundo motivo é a seca prolongada que a região enfrenta há quase dois anos, que deixou o solo endurecido e incapaz de absorver a água rapidamente. Isso favoreceu a inundação rápida e destrutiva, de acordo com especialistas.
A costa mediterrânea da Espanha, onde a cidade de Valência está localizada, está acostumada a tempestades de outono que podem causar enchentes, mas esta foi a mais poderosa a atingir a região neste século. Com o aquecimento global, especialistas alertam que eventos climáticos extremos podem se tornar mais comuns, colocando em risco áreas costeiras e aumentando a frequência de enchentes.
Destruição e mortes
As enchentes que atingiram a Espanha, especialmente Valência, causaram uma tragédia histórica, com 205 mortes confirmadas até esta sexta-feira (1). Em Valência, terceira maior cidade do país, o número de mortos chegou a 202, enquanto outras três vítimas foram registradas em Castilla-La Mancha e Andaluzia, regiões próximas.
As autoridades alertam que o número de mortes pode aumentar, pois muitas pessoas continuam desaparecidas. Parte dessas vítimas ficou presa em seus veículos durante a enchente, dificultando o resgate e aumentando a gravidade do cenário.
Considerada a pior tragédia ambiental da Espanha no século. Em poucas horas, a tempestade destruiu áreas urbanas, arrastou centenas de carros e isolou bairros inteiros na região de Valência.
Para ajudar na resposta à tragédia, o governo espanhol enviou o Exército para atuar na limpeza das ruas e distribuir alimentos aos moradores mais afetados. Milhares de voluntários também chegaram ao sul de Valência, organizados por redes sociais, para participar de mutirões de limpeza e oferecer ajuda humanitária.
Catástrofe no Rio Grande do Sul
Em maio deste ano, uma tragédia parecida atingiu a maioria dos municípios do Rio Grande do Sul. O evento climático afetou mais de 2,33 milhões de pessoas em todo o estado, deixando ainda 806 pessoas feridas. Essa foi a pior enchente desde 1940 na região.
Mais de 654 mil pessoas ficaram fora de suas casas. 72.561 ficaram em abrigos e outras 581.633 ficaram desalojadas (na casa de parentes ou amigos).
82.666 pessoas e 12.358 animais foram resgatados. Mais de 27 mil agentes de forças de segurança seguem nos trabalhos de busca e resgate.